Regresso para dizer o óbvio: José Sócrates não foi ilibado.
Sim, a ideia passada ao fim das quase três horas da leitura da decisão instrutória dão essa ideia, mas o Juiz Ivo Rosa não ilibou o ex-Primeiro Ministro nem fechou as portas ao envolvidos em crimes de corrupção da sua existência.
É facto que a sua leitura enviesada perante o que, de forma dolosa, o público sabe sobre os comportamentos de Sócrates aligeira o juizo juridico que a Justiça tenha sobre o mesmo, mas além de ainda existirem os recursos por parte do Ministério Público, há a Opinião Pública versada na Publicada.

Mas perceber este momento é também perceber não só Portugal, o nosso Sistema de inseparaveis Poderes, conluios de amizades e proximidades tais, assim como uma análise introspectiva a dezenas de farpas que escrevi ao longo de anos. Desde a inenarrável detenção televisionada, para jubilo populista, do animal a abater, até a sua real culpabilização, até à perseguição dos grandes grupos económicos que sustentaram essa realidade e a sua queda amiude da maior crise gerada pelo Governo que Sócrates liderou.
Nada é ilusório, tudo é real, e nós somos mais que peões numa jogada de largo alcance.

Remeto-me para o enlace das coincidências, treliça dos momentos cristalizados na minha prosa, lírica desses momentos que viviamos em 2014, lançamento d’afarpa.
Segunda publicação do blogue, ‘Preguiça oportunista’, 14 de Novembro de 2014, “Vistos Gold: os mesmos comentadores, os mesmos jornalistas e claro, o mesmo Juiz”, a menção a Carlos Alexandre, futura figura central de uma teia de investigações a nível Nacional. Três dias depois começava a Comissão Parlamentar de Inquérito à queda do Banco Espírito Santo, processo no qual o Super Juíz se viria também envolvido a título da Operação Marquês, numa tentacular busca e apreensão de culpa e culpados. ‘A Embaixada Portuguesa’ descrita n’afarpa desse dia 17 faz jus a essa (pre)potência lusitana, a mando deste nosso ‘J. Edgar Hoover Português’.
Mas as atenções rápido se desviam para o assunto em análise. Na madrugada de dia 21 de Novembro de 2014 Sócrates é detido na manga do avião, regressado de um voo vindo de Paris.
Logo ali o Ministério Público o acusa de “suspeitas dos crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção”, sendo depois levado para a prisão de Évora.
Logo ali ocorre ‘O Flagrante Delito da SIC’ e as ‘Imparcialidade Jornalísticas Socráticas’, uma vez que o segredo de justiça se vê repetidamente estuprado e a calúnia o modus operandi.

Só que Sócrates não é uma vítima, tampoco inocente no que concerne o político que instrumentalizou anos a fim a justiça a seu bel prazer.
Jorge Coelho, que esta semana – para choque de todos – nos deixou, disse a frase que define a verdade Socialista: “Quem se meter com o PS leva!”, e se Sócrates nisso foi fidedigno representante Socialista, agora aprisionada vive num limbo entre a incerteza do apoio de muitos e a amizade de poucos. Soares é devoto, Costa enfia-lhe a carapuça visitando-o uma vez apenas. É a Teoria Filosófica da Perseguição, versada, claro está, nesse Magno Opus por Sócrates encomendado: “Confiança no Mundo: a Tortura em Democracia”. E por ser um torturado é que aprendeu, seguramente como graduado em Science Po, que a Divina Providência provem a cada um e cada qual na forma como demonstra a sua forma pragmática de encarar a Vida Social(ista) que leva. Ou quando uma mão empresta, a outra dá, da forma que sabe. Conclusão: É crime? Não, é Providência.
E Sócrates travestiu-se. Fez-se mártir e vendeu a mentira da ignorância como se cicuta fosse obrigado a beber. Até pizza em prime-time pediu.
“Cadeia? Não, eu não estou preso!” Eu só entrego pizzas. E não me deixaram entregar. Sabe, não tinha o bilhete de identidade.
Sócrates passa de #44 de Évora a #33 de Lisboa. Um não assunto momentâneo.

Só que os seus trajes e trejeitos de uma faustosa vida de aparência em Paris deixaram mais a ver que desejar, e o assunto regressa.
A 16 de Dezembro de 2016, numa entrevista exclusiva com a TVI, clama injustiça justicialista ao clamar que “Esse dinheiro não é meu”, acusando a Magistratura num todo e Joana Marques Vidal em particular.
O não assunto de Sócrates, apesar do manto de suspeição recair sobre este Engenheiro formado num Domingo, sendo há época Ministro do Ambiente com suspeitas na aprovação de um Centro Comercial numa área protegida, ou mesmo de uma fábrica de resíduos ou de diversas obras na sua zona de origem; torna-se num grande e flagrante assunto pois mostra como existe um padrão objectivo e objectivado na forma como, pelo menos, duas figuras do Ministério Público têm funcionado perante os casos mediáticos. E cirurgicamente esse padrão objectivo, objectivamente presente, fez quando em Março de 2016 as escutas do processo são vazadas e o segredo de justiça quebrado.
A sua defesa de “Sou um pobre provinciano que andou na política” não se coaduna com comportamento de quem exteriormente se assume como uma imagem Socialista de posse e pose, alicerçada nessa riqueza Familiar, estilo e verve possuidor do jet lag da viagem vai-vem, da pós graduação estrangeira, das casas de luxo e as amizades de exteriorização. A condenação já não é hipotese, é prova.
O animal feroz está acossado. O povo também.

No fim é o rato e a montanha, principais acusações arquivadas, envolvidos acessórios ilibados.
A questão Socrática não se alça no Mega Processo de intenções que o Mega Juiz Carlos Alexandre (firme e hirto como uma barra de ferro) formulou. Ele existe nessa intersecção causídico-espacial em que um destronado feito símbolo de poder caído tudo justifica. Somos nós próprios, Sócrates, o provincianismo voraz que assola o território e tinge de vergonha a memória colectiva, agora o espelho da justiça em Portugal, a incoerência de uma acusação. Obrigado Juiz Ivo Rosa, a ignorância prevaleceu.
Pergunta-se: ainda há Justiça em Portugal?

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