O ex-Primeiro, primeiro 44 da cela de Elvas, a ter vigílias nocturnas com cravos em vez de rosas, pulgas em vez de percevejos, é também o primeiro a não querer fazer desaparecer a sua importância política num ano em que a política é de suma importância para o seu legado na História recente deste que é um troço de Terra ancorado a uma Europa a braços com empréstimos impagáveis.
Vamos ser francos, animais ferozes à parte: a figura de José Sócrates é muito controversa.
É um rapaz de aparelho cuja origem é humilde e o trabalho de Engenharia, uns reles projectos assinados nos anos 80 e noventa levantam a suspeita de um gosto dúbio. Eram os tempos, era a oportunidade laboral. Era a função pública da época.
A sua ascensão ao poder seguiu e como Ministro do Ambiente marcou toda uma legislatura.
Não sei na sua integralidade se fez ou não um bom ou mau trabalho, mas aquilo pelo qual será sempre lembrado será a aprovação do Freeport.
Independente de ter ou não recebido luvas por ela, há que reconhecer que do ponto de vista ambiental o Freeport é um ponto negro na paisagem onde se insere. Olhar uma vista aérea é ver que ele está por cima de uma faixa protegida, e disso não há dúvidas. Mas nenhum defensor do ambiente protestou e o centro comercial ali está.
Quando chega a líder do seu partido é considerado uma espécie de Messias. Tem um carisma que a arrogância verbal lhe dá. É agressivo e defende argumentos que esgrima num palavreado que as pessoas comuns gostam. O povo identifica-se com um discurso centro esquerda que balança a favor das vontades.
Por golpe de misericórdia de um Presidente da mesma cor e queda de um Governo da oposição fracassado, sobe ao poder.
Chegam os anos Socráticos. De uma forma geral pode-se dizer que foram bons. Normalmente todos os Governos Socialistas o são.
A regra é gastar o dinheiro dos outros em prol de todos.
E assim foi enquanto o dinheiro dos outros durou.
Não que outros governos de outras tantas cores políticas não o tivessem feito de igual forma. A União Europeia permitia e incentivava justo isso. O Professor Cavaco Silva era o mentor desse pensamento e principal membro activo da ideia.
O PS Socrático seguiu à risca a prática.
Só que o discurso Europeísta estava a mudar, e o controlo dos gastos era agora uma necessidade.
Vieram os famosos PEC’s… chegámos quase a quatro. Acertávamos números de inflação desinflados, martelados à exaustão.
Chegámos ao limite. E nesse limite entra em cena o maior partido da oposição, o PSD.
Com Catroga, ex Ministro das Finanças, assina-se a sina que levaria o país à banca rota. Os dois, PS e PSD, juntos o fizeram.
Nas eleições que se seguiram o PS sai derrotado. Sócrates humilhado, e um Pedro Passos Coelho glorificado.
O seu trabalho, por mais promessas eleitoralistas, estava já trilhado e designado: austeridade.
Sócrates fez o país perder o seu controlo, consentido com o PSD, sem dúvida. Mas no momento seguinte, já sem Sócrates ao comando, o PS eclipsa-se na Assembleia e passa à confortável posição de oposição política.
E com José António Seguro, o manso, esteve três anos num silêncio constrangedor.
Ver hoje em dia António Costa como a alternativa populista da alternância é, para mim, vergonhoso. Um dar com uma mão e retirar com a outra, nesse inefável jogo consagrado da baixa e reles política que faz destas eleições uma espécie de derrota de quem lá está e não a vitória de quem pretende para lá ir.
Mais, ver a resposta de Sócrates ao Diário de Notícias, afirmando que “O primeiro-ministro está próximo da miséria moral” é mostrar aos Portugueses que o Homem que nos levou à barca da glória, com toda a bizarrisse de dizer que não até à exaustão da necessidade de ajuda externa (como se isso nos salvasse da mesma) fosse algo merecedor de coroação quando o mesmo mais parece o Vasco Santana dizendo que ‘Chapéus há muitos, seu palerma’.
Sócrates fez bem, seguramente que fez. Mas a ele se deve também a conta pesada que estamos a pagar.
É que sempre aprendi que, quando o chapéu (carapuça) serve…
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