Tradição ruinosa da Opulência
Portugal tem uma longa tradição de opulência ruinosa cujo marco inicial se pode designar com a, agora, famosa Embaixada Portuguesa de El-Rei D. Manuel I ao Papa Leão X de Roma no Vaticano.
Chefiada por Tristão da Cunha, o primeiro Governador Português da Índia, a Embaixada tinha como objectivo deslumbrar a Santa Sé e fazer o poder religioso vergar às políticas de D. Manuel. Se em parte isso foi conseguido, a memória que relegou à actualidade, do bom nome Português em Roma, não foi indicativo do fausto representativo da Nação soberana do século XVI.
O dia era 20 de Março de 1514, e se oito dias antes as multidões Romanas tinham enlouquecido com a dimensão e riqueza da Embaixada Portuguesa, neste dia, a Praça de São Pedro iria ter um espectáculo que não se tinha visto desde a queda do Império Romano, e que nunca se voltou a repetir até aos dias de hoje.
Não só as carruagens se adornaram com tecidos exóticos, como a pedraria era luxuosa e nunca vista nesta dimensão no Continente Europeu.
Mais impressionante eram os animais selvagens trazidos de Lisboa, através do Porto de Ostia, chegados a Roma com pompa e circunstancia numa oferta papal irrecusável. Havia um cavalo persa, uma onça de caça, e o famoso elefante Hanno, o presente preferido de Leão X e sua corte Papal.
Ao mesmo tempo que se discutia a Fé Católica e o bom nome do Espírito Santo em Terras longínquas, o séquito português, instalado durante as negociações com o Vaticano em Roma, recebia a hospitalidade que os Romanos lhe davam.
Em troca do exagero que fora a Embaixada, foi dada uma carta de crédito livre aos seus representantes, e todos os portugueses em Roma, durante aquele período, não pagavam despesa alguma.
Claro que o bom proveito do oportunismo Luso deu bom nome à designação desta tradição de opulência ruinosa que agora se iniciava, e quando alguém nos dá algo de graça, em estado de graça, quer-se sempre mais, e assim foi que, ao não pagarmos as contas, em Roma, ‘Portoghese’ virou sinónimo de aldrabão.
Passados 500 anos, em 2014, a longa tradição das Embaixadas Portuguesas no Mundo continua, e o epíteto de aldrabão em Roma segue sendo ‘Portoghese’. Mas agora já mais não no mundo da religião Católica, e sim no mundo da Política, Finança, e da Sociedade em geral.
Depois da Libertação de um Regime, professando um Novo Espírito Santo, utilizamos a finança nacional como cartão-de-visita português.
Infelizmente parece que a aldrabice de uns tantos, fez do ‘Portoghese’ o aldrabão nacional. E caída a Família do Santo Espírito, chegou a hora do julgamento da veracidade.
Nota de correcção histórica:
Evidente que gostamos de uma boa estória, e como tal, à história dá-se maior profundidade do que aquilo que na verdade existe.
Apesar de em Portugal a versão corrente da expressão italiana ‘Portoghese’ ser atribuída à Embaixada do Rei D. Manuel I ao Papa Leão X em Roma, a versão Romana é bem diferente. Aqui fica o esclarecimento, apesar de eu utilizar a versão comummente contada em Portugal.
A expressão ‘Fare il Portoghese’ que significa, ‘fazer-se passar por Português’, é na verdade originária de outra história, passada no século XVIII, quando um Embaixador Português em Roma, ao querer impressionar o Papa da altura, convidou todos os seus concidadãos lusos para assistirem a um espectáculo de graça no Teatro Argentina, tendo apenas de indicar a sua nacionalidade para acederem.
Os Romanos, ao verem a ‘borla’, também quiseram ir, e fizeram-se passar por Portugueses, dando a verdadeira origem à expressão ‘Portoghesi’.
Ainda assim, a versão que se conta da Embaixada de D. Manuel I ao Papa Leão X é verídica, e o fausto e opulência são documentados, assim como a permissividade Romana na hospitalidade à Corte Portuguesa que constituía a Embaixada.
Se houve escândalo foram as tenças pagas à posteriori aos membros da Comitiva pelo seu serviço prestado à Embaixada, verdadeiras fortunas equivalentes a reformas douradas na actualidade.
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