É sem muita surpresa que leio o interessante – e devastador – artigo publicado no Expresso acerca das 2,5 mil milhões de pessoas que vivem em Ditaduras.
Com certeza muitos que comigo argumentam sobre aquilo que aqui escrevo – sobretudo acerca de países como Angola ou Venezuela (este último pelo seu vies político) – dirão que se trata de um artificioso artigo de opinião acerca de uma meia verdade.
Estes países irmãos são “ditamoles”, brandos países onde este ideal democrático é tão assegurado quanto a vontade popular que por esta terra de brandos costumes se vive.
Se falta de argumento me faltasse, o meu texto acerca da Democracia Venezuelana (de alguns) expôs justo o que Tiago Brazão – antes anónimo e agora, devidamente autorizado, revelada a sua identidade – pensa explicitamente acerca da mesma. Não é que seja constrangedor. Pelo contrário, a diversidade de opinião face à realidade é o que desfaz o imperativo ditatorial que rege partes da Humanidade.
Ali, na Venezuela, como em países onde os mesmos princípios ideológicos foram postos em prática, viu-se como falham sem esse seu necessário vácuo de controlo total.
Suponho que eles precisem de uma noção de medo, do grego φόβος, o temor que era injectado nos inimigos durante as guerras para que sucumbissem no campo de batalha.
Evidente que isto é a sua génese mitológica, mas a noção de pertença do medo é algo que acompanha o ser Humano de tal forma que a palavra ganha contornos de tal modo absurdos como referir-se ao preconceito pela comunidade LGBT como homofobia.
A representação física de Deus no filme Bruce – O Todo o Poderoso, o actor Norte Americano ficticiamente presente na conta de twitter Not Morgan Freeman desconstrói bem o poder do medo na homofobia.
“Odeio a palavra Homofobia. Não é uma fobia. Não estás com medo. És um imbecil.”
E a verdade é que este medo tem servido para capitalizar fragilidades, sempre nesse proveito do que são as minorias que, embora tenham lutado – e lutam – para acabar com o preconceito, resistem em núcleos duros minoritários pois sabem que a Sociedade do politicamente correcto assim defende os mais carentes e necessitados.
Agora veja-se o caso do Colégio Militar.
Desde o momento inicial que, impondo essa retórica do ‘Don’t ask, Don’t Tell‘, o Ministro da Defesa embandeirou em arco numa suspeita que, se houvesse lido o que o Observador publicara – e mais tarde disponibilizou em audio – teria percebido ter tomado uma atitude errada. Para piorar tudo a deputada gay friendly Isabel Macho Man Moreira fez um sassaricando do tema sem lógica ou razão.
Agora que o relatório ao Colégio Militar ficou concluído a conclusão foi evidente: não houve discriminação, apenas miúdos a serem miúdos, a crescerem e a comportarem-se como tal.
Este caso é mais um dos tais em que se tende a ver um caso de abuso ou bullying onde o mesmo não existe. Mais, acho que a Sociedade vive obcecada com a questão do bullying.
Não digo que o bullying não seja um tema real, preocupante e complexo, mas a sucessiva intromissão quer parental quer da supervisão por parte das entidades responsáveis onde a co-existência entre iguais em crescimento deveria ser deixada ser resolvida entre os próprios, deveria.
Eu cresci nas décadas de 80′ e 90′, não existindo, ainda, esta realidade do bullying como a temos hoje. Em miúdo até andei numas brigas de pêra e soco – uns pontapés – com alguns amigos. E surpresa das surpresas, ninguém deixou de ser amigo, continuámos a falar e crescemos. Somos saudáveis.
Evidente que a Sociedade de então não vivia inter-conectada em redes sociais, o sol na rua existia para ser desfrutado e a televisão não era um sintoma de companhia constante.
Mais, os políticos não eram os jornalistas comentadores de serviço.
De um momento para o outro parece que todos padecem desse Johnsoaressyndromet, confundido o estar com o ser. O poder com o dever.
Todos podemos, mas muitos – ou mesmo a maioria – não o devemos.
Cada vez mais, e isso é sinónimo dessa perversão da ditamole que muitos apregoam, a Ditadura das Minorias se faz presente com granadas sem cavilha, iguais ao que Gabriela Canavilhas fez ao argumentar (sem razão) que a jornalista do Público escreve “factos falsos” só porque os mesmos não lhe convinham.
Tudo uma explosão embrionária de algo prestes, e sempre, a ocorrer.
Resta saber quando?
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