Dizem que o mundo viral, das redes sociais onde o contraditório não se torna proveitoso por solilóquios de ingerência unipessoal, ou que a argumentação se faz refém de factos concretos inquestionáveis (invioláveis?), é o mote da nova Revolução Ideológica deste século XXI do descontentamento Democrático.
Abro com um simples parêntesis, muito óbvio, a Democracia não falha, é um Sistema muito simples que tem por base o voto individual da maioria em detrimento da minoria.
Quando se diz que a Democracia falha ou não cumpre os seus desígnios Constitucionais é porque algo ou alguém pretende que o mesmo Sistema Democrático não funcione como é estabelecido.
Rasgam-se Constituições, maquinam-se Parlamentos e parlamentares, abrem-se precedentes, dá-se o poder às minorias que não detinham o voto maioritário.
O quadro é conhecido de todos, aplicado por alguns.
Vamos agora a um caso gritante: Venezuela.
Se antes descrevi as políticas de Esquerda que, em desembargada voz se fazem presentes na América Latina, dediquei em Agosto de 2015 um perfil ao Mr Venezuela, Hugo Chavez, explicando a sua ascensão política e substituição por morte pelo actual líder Nícolas Maduro.
Se nesse texto já deixava claro a forma como a Venezuela era um Sistema Nacional Socialista de Esquerda baseado na figura de um líder, ainda com a ressalva do próprio se declarar oficialmente como uma República Federal Presidencialista, hoje não tenho qualquer ressalva em dizer que o país, com Nicolas Maduro ao comando de uma das maiores potências produtoras de petróleo do mundo, se transformou numa autêntica Ditadura.
Evidente que dizê-lo, como me foi feito ver num arguto diálogo viral com um apoiante do Partido Comunista Português, não é acto fácil.
Se o argumento que todos os dias nos chega via Comunicação Social é desde logo rechaçado como sendo a manipulação golpista da intervenção capitalista a coberto dos Estados Unidos da América, o que mais interessa são os factos que suportem a minha profunda e desleal acusação.
Na pauta do meu interlocutor os factos que abonam a Sociedade Livre, Plural e Justa que Hugo Chavez criou com a sua Revolução Bolivariana: 50 verdades sobre Hugo Chávez e a Revolução Bolivariana
Nela, no artigo 5.° fica claro que “La soberanía reside intransferiblemente en el pueblo, quien la ejerce directamente en la forma prevista en esta Constitución y en la ley, e indirectamente, mediante el sufragio, por los órganos que ejercen el Poder Público. Los órganos del Estado emanan de la soberanía popular y a ella están sometidos.”.
Ou seja, como na grande maioria dos países democráticos, o voto popular e universal elege os deputados que determinam a vontade da maioria da população.
Na Venezuela não só se elege o Presidente como os representantes do povo, os parlamentares.
(invocar neste momento a União das Esquerdas que mesmo não tendo ganho as eleições se uniram para formar Governo parece ter graça)
O que sucedeu nas últimas Eleições Parlamentares Venezuelanas, em 2015, é que muda em tudo a factualidade que o Camarada apologista das políticas de Maduro me tentou convencer serem as melhores. O MUD, Mesa de la Unidad Democrática, principal movimento de oposição ao Governo de Maduro, tem a sua primeira vitória expressiva ao fim de 17 anos. Vencem com 112 dos 167 deputados da Asamblea Nacional, contabilizando 56,2% dos votos.
De uma forma Livre, Plural e Justa, como registado no artigo 5º da Constituição que Hugo Chavez decretou, o Povo demonstrou cabalmente ter uma vontade distinta daquela que o Presidente segue.
Não há Golpe em curso, não existem forças secretas da oposição, não há teorias da conspiração.
Há é um país a atravessar uma profunda crise graças à péssima gestão de um Governo Populista.
Apesar disso surgem relatos do Presidente tentar manipular a Asemblea Nacional, alterar a Constituição em seu favor, intentar em Tribunal Internacional contra aqueles que, segundo ele, conspiram contra o seu país. Maduro transformou-se (se já não o era) num louco. Um Ditador louco.
A sua Democracia é aquela que ele entende servir-lhe mas não à vontade da maioria dos que contra ele, na Asemblea Nacional, votaram.
Um entendimento sui generis do que é a Democracia Venezuelana.
O final da conversa, em tom de solilóquio absolutista, teve o anuncio tão esperado com o meu interlocutor a constatar a obviedade:
“Viva a Revolução Bolivariana… o ódio que a elite deste país lhe dedica é mais do que a prova de que apesar dos erros alguma coisa eles estão a fazer bem. E se nestes casos a fome diminui, a saúde e a educação melhoraram, a dignidade de quem trabalha melhorou… meu amigo ele até podia ser considerado um ditador por toda a gente deste mundo… eu estaria ao lado do povo Venezuelano e do seu presidente. A minha cor não é amarela, é vermelha bem carregada.”
É que na falta de factos, a minha argumentação foi mais Democrática.
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