A polémica dos homossexuais no Colégio Militar em tudo me faz lembrar o chavão que foi o ‘Gays in the Army‘ na década de ’90 nos Estados Unidos quando a realidade se confrontou com a verdade óbvia: num grupo estritamente constituído por seres Humanos do mesmo sexo a atracção física e amorosa entre eles pode existir.
Não estou a falar de algo ao estilo, esbatido, de um Brokeback Mountain, onde dois cowboys se apaixonam numa paixão condenada pela retórica de um tempo em que tudo assim o proibia.
Sinceramente já não vivemos numa Sociedade ostracizada em meados da década de ’50 do século passado, perdidos numa pradaria em nenhures do meio de lado nenhum.
Estamos em Portugal, século XXI, a comunidade LGBTQ é aceite, ou se não o é, é porque faz por não ser.
Mas afinal qual é a dita polémica que levou a que o Chefe do Estado-Maior do Exército, o General Carlos Jerónimo, apresentasse a sua demissão?
Porque surgiu, na inteligente reportagem que o jornal Observador fez sobre o Colégio Militar, a existência de três tabus entre portas dessa Instituição: roubos, drogas e homossexualidade.
Se as duas primeiras são factos assumidos da Sociedade, até edificantes (ironia da minha parte), a terceira é esse pecado capital que mancha a reputação fisiológica da existência Humana.
Tudo se prende com aquilo que o aluno Tomás Bastos, nº 192, e o Tenente Coronel António Grilo, subdirector do Colégio Militar, dizem sobre o tema.
A Esquerda vociferou. A opinião pública brandiu.
Azeredo Lopes, o Socialista Ministro da Defesa, ao tresler aquilo que se republicou na imprensa, logo opinou que é “absolutamente inaceitável qualquer situação de discriminação, seja por questões de orientação sexual ou quaisquer outras, conforme determinam a Constituição e a Lei”.
Mandou o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Carlos Jerónimo, demitir o subdirector do Colégio Militar. Demitiu-se antes ele.
A sina estava traçada. O Exército era condenado, a ingerência era causa de tudo.
O mais interessante é que nenhum dos entrevistados pelo Observador fala da exclusão, per se, como forma de retaliação por se ser homossexual.
Falam do tema com a ‘natural naturalidade’ como se a homossexualidade entre um grupo de iguais não fosse a maior percentagem. Como num grupo escolar, sobretudo adolescente, a questão pertinente do bullying, poderia se sobrepor e ser contraproducente para o aluno que sentisse afectos por outro aluno e os mesmos não fossem retribuídos.
Aquilo que passa da entrevista, a qual analiso em seguida, é uma maior preocupação pelo aluno enquanto individuo do que alicerçar uma qualquer razão contra a comunidade LGBTQ num todo.
Mas o que dizem os intervenientes acerca da homossexualidade no Colégio Militar?
Tomás Bastos, o aluno que lá estuda há seis anos diz:
“Homossexualidade aqui não é aceitável” (…) “Isso é um bocadinho complicado porque nunca aconteceu… Deve ser muito difícil para um homossexual estar a dormir todos os dias com rapazes. É como um homem e uma mulher, ele vai acabar por apaixonar-se. Ele vai mostrar algum afecto”
Já o subdirector Tenente Coronel António Grilo diz:
“Hummm… Como é lógico, a sexualidade é um tema aberto na sociedade e a homossexualidade é aceite legalmente. Podemos dizer que [haver esse tabu] é uma maneira de salvaguarda do são relacionamento entre eles no internato. Repare, eles não se cobrem para nada, não se escondem para nada, não têm armários fechados… para poderem viver como irmãos que são. E na salvaguarda desse relacionamento, é bom que não haja afectos”
Mas esta tríade de tabus, roubos, drogas e homossexualidade, é passada para eles?
“Não é passada para eles. É deles. Sempre que ocorre qualquer situação dessas, sabemo-lo imediatamente. Eles próprios se encarregam disso“. (…) “Nas situações de furto e de droga é transferência imediata de escola. Nas situações de afectos [homossexuais], obviamente não podemos fazer transferência de escola. Falamos com o encarregado de educação para que percebam que o filho acabou de perder espaço de convivência interna e a partir daí vai ter grandes dificuldades de relacionamento com os pares. Porque é o que se verifica. São excluídos”
Ou seja, segundo o que aqui se exprime, nas palavras transcritas dos próprios, aquilo que ocorre é o acto de exclusão entre pares e não pelo próprio Colégio – Entidades Supervisoras.
Mais, na conclusão sobre o tema roubos, drogas e homossexualidade, fica patente a ideia de que, tal como em qualquer outra Escola, Colégio, meio onde a Comunidade vive em Sociedade e se comunica, “O colégio parece um Big Brother. Tudo se sabe. (…) Passado uma hora, 600 sabem e 600 estão a comentar.“
Ou seja, a inusitada situação que levou, por pressão, o Chefe do Estado Maior do Exército a demitir-se, são na verdade um engodo ardiloso sobre o que é a leitura de declarações claras sobre o comportamento Humano confinado a um espaço de iguais onde a liberdade existe nos moldes de um preconceito tão esbatido como ‘Don’t ask, Don’t Tell, Be a Macho Man!
Nunca se colocou em questão a descriminação por parte do Colégio mas sim por parte da Comunidade estudantil, reflexo da Sociedade em que vivemos.
Que se demita o Ministro da Defesa.
Assim defende mais os interesses do País que das Forças Armadas.
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