Quarta feira passada, em meio de uma noite de rua, bares pelo Bairro Alto, Príncipe Real, homossexuais inter pares, engajei-me no inadvertido de uma discussão sobre os inalienáveis direitos da Comunidade LGBTQ não terem propriedade política.

E como estou errado; ou assim me foi tentado, até de agressiva forma, ver.

Quem lutou por nós, nesse plural que define uma Comunidade tão diversa e espontânea quantas as letras que se unem e acrescem para definir homossexuais, senão essa Esquerda Socialista benemérita das virtudes e votos a favor dos desfavorecidos.
Só que há factos e ficções.
Há factos e facções.

Não me insurjo contra quem é de qualquer Esquerda militante e viva perdido nessa ilusão de que o Socialismo Marxista Leninista bate forte no peito da Humanidade. E sinceramente diverte-me o Socialismo de iPhone recluso nesse Trotskismo de contra-opinião voraz.
Se o seu passado não os condena em razão de escala e proporção com o que nos querem fazer crer sobre a dita Direita Conservadora anti-abortista e da milagrosa cura-gay, na verdade não sei.

Só que os factos nos separam da ficção e estas facções de extremos são isso; extremos.

Quando um tema considerado fracturante se propõe a debate público, vai a essa casa do Povo para votação numa maioria representativa qualificada daquilo que a todos nós representa. Aceite estarmos numa Democracia, não é a militância minoritária a proprietária da sua verdade ou oposição.

Se assim o fosse o livre arbítrio e as diferentes Liberdades pertenceriam ao Estado e não aos seus indivíduos.
Cabe sim ao Estado fazer aplicar o que à Lei se destina como lógica de Princípio e Obediência.
Caso contrário estaríamos, quiçá, em Pyongyang nesse “estilo de Socialismo” tão particular.

Numa Sociedade Democrática podemos discordar muitas vezes de como se chegou ao destino final de algo, mas a Conquista é pertença de todos. (geringonça dixit)

Vejamos;
Abolicionismo não foi uma mera conquista dos Escravos, pese embora foi a eles quem mais beneficiou.
voto para as Mulheres “idem aspas aspas”.
E olhando com o distanciamento (e discernimento) histórico(s), terão sido estas conquistas uni-partidárias e uni-laterais sem um esforço colectivo por esse bem maior?
Ou viver em Sociedade limita-se à política aplicada do grande partido?

Gay Socialista.jpg

Não escolhi os exemplos sem nexo ou conexão.
O Abolicionismo partiu do Clero e teve a sua força motriz e concretização na Monarquia, enquanto o voto feminino viu a sua oposição nessa ideia de que as mulheres seriam influenciadas por essa mesma igreja que séculos antes havia aberto o rumo para o fim da iniquidade entre “seres livres por natureza”.

Como se sabe, hoje, a escravatura é repudiada e sem qualquer tipo de suporte político. O mesmo se pode, de alguma forma, dizer do voto feminino, cerceado “apenas” – imagine-se – no Vaticano.

E aqui entro no cerne desta questão dissonante que me impeliu a escrever este texto (sobretudo por que fui de imediato catalogado como de uma Direita Reaccionária estilo Trump, ou – como me foi dito – deste neo-CDS pós Portas); a deformação da realidade em que a ideologia partidária se tornou.

A queda da Monarquia moderna para as Repúblicas contemporâneas não afastou (e como poderia?) a presença ancestral que a Religião, Crença e Fé teve ao longo de sucessivas gerações.
As Liberdades e a forma como nos adaptamos à sua ideia e aceitação estão, desde logo e, sempre interligados.

Os opostos políticos assim se designam nessa memória Napoleónica, a Direita de apoio ao Rei, enquanto a Esquerda nessa posição física que tomou dentro do arco de protesto Revolucionário na Assembleia Nacional. Ambos com valores e éticas, ideias e aportes de sapiência.

Agora, não farei confusão entre direito e direcção, mas suponho-me preparado para saber que a realidade do isolamento militante traz justo o que viver em prol de um só principio logra: alienar minorias ao preconceito induzido de uma Liberdade selectiva.
‘Só os meus pares me respeitam porque a mim são iguais. Os demais são a oposição a abater.’
E que paradigma mais contemporâneo esse que se vive nos Estados Unidos de Trump.
Essa clivagem racial de uma Secessão passada, tão presente que apenas veio à luz porque um crápula se senta na cadeira do poder ilusório.

Não sou a favor da política de Trump – escrevo abundantemente sobre isso -, mas não sou de negar a suma importância dos Republicanos na História Norte Americana como um todo, e já agora, na influência Democrática Ocidental.
Com efeito, na sua maioria contemporânea, mais parece haver uma inversão política nos valores entre esses Republicanos e Democratas de posições extremadas, estando os Socialismos à la gauche mais próximos daquilo que a Casa Branca actual defende.
Pondo isto, e com toda a crítica exacerbada que me atinja, Trump no pântano de Washington é uma benção para desmascarar esse mito do “não político” a Governar. A sua taxa de sucesso é não só ideológica, como mostra a ilusão do poder momentâneo.

E essa é a verdade, todo o poder é momentâneo e ilusório, da mesma forma que a ideia feita ideário não se mantém ideológica quando o princípio da Democracia impera.
As Liberdades conquistadas são de todos, pertencendo a todos quantos aqueles que por elas lutaram da sua própria forma. Nunca a uma Direita ou Esquerda politizada que dívida para reinar as suas facções em mero ardil ilusório.

Trump apreende a cada dia o acto da sua ilusão, da mesma forma que em Portugal as forças de tracção de uma Geringonça abanam para se unir na suposição de que a, feita derrotar, oposição a salve.
E aqui chego ao início desta crónica, à fractura e pertença que certos temas produzem.

Da mesma forma que uma Liberdade tornada inalienável pela Constituição pertence a todos e não só a quem se destina – uma vez que as Leis são não só um Direito mas uma obrigação de respeito -; a dita Geringonça não é apenas o Governo Socialista e as suas partes como se a vinculação de acordos de secretária morresse sem a sua cruel análise.

Aqui, como na propriedade desses Direitos e Liberdades, é o todo que mais ordena…

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