Ser homossexual não é indiferente, nisso dou razão ao artigo que Fernanda Câncio no DN, mas fazer disso uma sátira política em tom jocoso para defender uma posição política em tom altruístico sobre a pertença do Direito a ser homossexual dentro do hemiciclo, apenas mostra como ela é tão preconceituosa como aqueles que se consideram avant-garde e não passam de uns parolos metidos à besta.

Creio que foi em finais de 2008, já a bolha económica havia rebentado e eu me preparava para rumar a Portugal, quando uma amiga da minha vida em Madrid me fez a pergunta que a ninguém no nosso trabalho queria calar: ‘¿eres homossexual?’
Não que eu o escondesse, mas ao contrário do que se pode supor não ando de cartaz na mão em grande folia a expor a minha orientação sexual, e dada a pergunta directa vinda de alguém que prezo decidi, num jantar a dois, confirmar a pergunta e perceber o que mais dali viria.
Compreenda-se que eu tinha então 25 anos, vivia em Madrid há quase dois anos e a cultura e política espanholas eram a minha realidade.
A minha amiga logo se manifestou num suspiro de alegria por ver confirmada a sua óbvia suspeita, mas ao mesmo tempo essa sua negação seguinte.
‘¿Gay, pero conservador, como?’ – sim, homossexual e de Direita. Filho de quem sou, neto e bisneto com cartas históricas sem esconder.
Mas como, como pode ser que a suposta ‘ovelha negra’ de uma Família dita Conservadora, Burguesa, bem de vida, não seja o elo que se quebre para se rebelar e guinar à Esquerda das Liberdades e libertinagens?
Onde anda essa vontade em despenalizar drogas, abortos, casamentos para todos e barrigas de aluguer para quem as pode ter? O choque não se fazia esperar por uma resposta que até hoje se mantem tão actual e fresca como tudo aquilo que responde perante os “preconceitos do costume“, citando Adolfo Mesquita Nunes.

Ser essa ovelha negra que se rebela e foge, usando a intransigência para justificar os seus actos, é fácil e sem conteúdo mais que o espontâneo da fuga. Ser a diferença onde apenas existem semelhantes e lutar para que no seu seio exista a aceitação é o verdadeiro trabalho a fazer. Tudo o resto são frases feitas a insultar estes actos.

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Sim, é possível conciliar ser-se de Direita sem estipular Direitos de defesa a orientações sexuais. Mais, se duvidas restam já o deixei claro quando a isso fui confrontado sobre quem por nós lutou senão essa Esquerda Socialista benemérita das virtudes e votos a favor dos desfavorecidos. Claro que há factos e ficções, factos e facções.

Anos atrás escrevi uma violenta crítica sobre os Lobbies Lenines de Jesus que a geração Católica e proletária batizou em Portugal.
Nesse texto falava do deixar de ser algo que se é e não deixa de ser, parodiando não só o PCP com as suas virtudes anti-homossexuais como fazendo, inadvertidamente, a errata dessa folgorosa afirmação que todos gostam de fazer.
Não, não foi Graça Fonseca a primeira política a se assumir homossexual. Quem sabe porque necessidade afinal até há – e aqui sim estúpida – aquando da posse do Governo multi-tudo do dr. Costa, o deputada Alexandre Quintanilha foi o primeiro na Assembleia a assumir-se (ou a sê-lo) gay.

Mas a relevância dos factos apenas serve o proveito daqueles que acham que isso inevitavelmente lhes faz mossa. Tudo o resto é estúpido como a opinião formatada de Câncio.
Ser a ovelha negra como o faz Adolfo muda mentes, facto que incomoda quem busca maiorias absolutas.

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