Portugal é, de facto, único.
Não só, por determinação política, deixa de celebrar a sua Declaração da Independência a 5 de Outubro de 1143, como consegue falsificar a mesma data.
Tanto ou tão pouco.
Independente de D. Afonso ter, legitimamente dado a tal chapada na própria Mãe, a questão que aqui se punha era esta mesmo: fazer do Condado um Reino, e esse reino um País.
Tudo o resto foi artifício do hiato provocado pelo equivoco que nos permite viver desfasados de uma realidade que alguns fingem querer ser cronológica com o restante Mundo.
Se por um lado a Democracia escolheu ficar com o dia de hoje, o 10 de Junho, como uma comemoração de índole quer Republicana quer Salazarista, ao invés da referência Nacionalista ao dia de Fundação, a verdade é que o desajuste das datas é total.
É facto que a Independência do jugo Familiar Espanhol de Leão e Castela é reconhecida no tal 5 de Outubro do famoso tratado de Zamora, mas isso não traz o selo Papal que tanto significa para o carisma religioso Católico Cristão que o Condado feito Reino gosta de professar.
Esse, da Bula Manifestis Probatum, apenas é conferida pelo Papa Alexandre III a 23 de Maio de 1179, 36 anos após já sermos aquilo que na verdade não éramos.
E disto nenhum mal veio ao Mundo.
Pelo menos ao Português, da sapiência negocial entre Reinos, lutas e batalhas travadas entre inimigos, arqui-inimigos, compinchas, comparsas e outros que tais.
O poderio intelectual Português é justo esse, a sua capacidade de saber postergar, num atraso que cumpre a regra das três décadas e meia, o atraso sobre o estrangeirismo de importação.
Aqui a moda de fora não se implanta de forma eficaz, mas pelo contrário é feita apropriação de invento e intento. Quem sabe, e justo por isso, a marca indelével Lusa seja justo essa, se não os podes vencer, junta-te a eles.
A Aliança Luso Britânica é o mais puro Manifesto disso, útil às vezes, redundante num todo.
E até quando a linhagem se vê desejada, a Família indesejada vem e dá uma mão.
Mas isso resume-se anacronicamente da forma como o 10 de Junho é simbólico: no filme de António Lopes Ribeiro sobre a Exposição do Mundo Português, enquanto se faz a apoteose historicista de Luís Vaz de Camões, no seguimento da sua morte, os 60 anos seguintes, da Dinastia Filipina, são de luto e cativeiro, um fundo negro no celulose acromático.
Mas o atraso temporal faz milagres.
Até a fuga Tropical de D. João VI em 1807 vem mostrar a capacidade de derrotar quem nunca se vira derrotado.
Na História dos Impérios Absolutistas, dos Imperadores Despóticos, Napoleão apenas não conquistou a Corte Portuguesa pela forma ardilosa como esta lhe passou a perna, numa fuga de 12 anos, enquanto a regência Britânica fazia as vezes do Rei ausente.
Mas os tempos de Coroas e cabeças a prémio viriam surgir a cadeira do poder cessante e a Primeira República de Repúblicas acabou por chegar.
Se não fosse por influência linguística de importação brasileira diria que se viveram anos num ‘samba do crioulo doido’. Tudo até se rapar o tacho.
Salazar, o neutro Ditador, nessa forma prosaica de manter os cofres cheios e as mentes vazias, fez desta planície um reduto de solvência e insurgência de vontade.
Queda feita, Revolução traçada, Liberdade garantida, Socialismo eleito.
E como o acumular do desfasamento na mentira que a proclamação Nacionalista veio num crescente, só o choque tecnológico Europeu mostrou o despreparo de quem se considerava mais do que poderia ser.
E sem desprimor de não ser ignorante, mas ser ambicioso.
A ambição é inimiga da perfeição, e a dívida é reduto do mau pagador.
O choque tecnológico foi mais um curto circuito, e o Made in Portugal não serviu o propósito mercantilista Quinhentista. Agora, como sempre, o retraso é o mesmo.
A regra dos 36 anos mantêm-se.
Nesta história onde se assumem já os quase 900 anos vividos, apenas se contabilizam 872, e com a subtracção, 836 reais.
E se assim foi para Independência, esta Democracia é praticamente prematura.
Alvissaras!
Alvissaras!
Deus ex machina tudo justifica.
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