Mantenho a tese teórica que há um ano apresentei de que Deus ex machina tudo justifica!
Vivemos desfasados não só no tempo cronológico de datas em que se celebra a realidade factual da nossa Fundação, como seguimos fazendo azo celebratório, em odes de pompas e circunstância inimaginárias, numa data que tem apenas o que o Estado Novo nela decidiu incutir.
Alvissaras! Alvissaras!
Celebra-se o Dia da Raça!
(corrijo)
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas
Não estivesse a capital no caos infernal dessa antecipação em ter um Governo formado (formatado) pelas supostas esquerdas oposicionistas ao anterior regime deposto a 25 de Abril de 1974, este pequeno relato não teria tanta graça quando o próprio Governo e Presidente da República decidem ir celebrar o Dia das Comunidades junto das mesmas em Paris.
Tudo parece ser um sintoma adverso e revoltoso dessa terrível assimilação que o despropósito tem feito calar nesse acordo assinado e poucas vezes (ou mesmo nenhumas) mostrado.
A celebração popular, ao que tudo aponta, será na Praça do Comércio, símbolo Pombalino desse Império reconstruído com bases maçónicas no seu traçado, ideias iluministas, despotismo esclarecido. Uma vaga ideia do que havia sido o mercantilismo quinhentista que criara esse Terreiro do Paço que ali se erguia.
A imponência de uma Fé soterrada.
Soterrada está Lisboa em obras, estéticas na sua maioria, desviando o trânsito entre separadores que se redesenham para colocar calçada onde antes havia cimento, e cimento onde antes estava calçada. Faz-se alarido de propaganda de que algo será novo, mas nada irá, na verdade, mudar. Ou vai?
Será como o Dia de Camões que com a entrada em vigor da Constituição de 1933 ganha um novo fôlego menos laico e mais propagandístico da pauta ideológica que Salazar pretendia impor à Nação?
É que é justo esse o dia que a União celebra já sem a sua designação Nacionalista de “Raça”.
Que se sucederá na primeira celebração compartilhada entre aqueles que desprezo têm pela retórica alicerçante ali representada? Será o grito revoltoso contra a opressão capitalista histórica portuguesa que até aqui nos trouxe, a sua aceitação ou desprezo?
A dissintonia reverbera entre aquilo que nos cartazes se espalha pelo país, gritando um não contra o Euro e a União à qual decidimos nos unir há mais de 30 anos, e o que se diz e declara dentro do hemiciclo para dar suporte ao partido com o qual se celebra o Orgulho Nacional de se ser desta Raça tão Portuguesa.
Celebremos portanto, neste dia, essa palavra com que Camões terminou o seu Magnum Opus: inveja. Pois dela está a nossa “Raça” cheia.
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