Não tenho por hábito escolher os títulos antes de estruturar as crónicas, muito menos ter uma ideia que viaje rumo a outros distintos onde o pensamento não me comande, mas perante o silêncio oportuno da imprensa mundial a uma Paris que arde face a um Reino Unido que se aparta, é fundamental ver a causa/consequência daquilo que fomos, somos e queremos ser, numa Ocidentalização onde a cópia de ideais já não é a norma, antes um repúdio engolido por sucessivos escândalos de sexo, corrupção e vídeo.
Mentira, não referi mentira na expressão utilizada, pois no acto do proveito próprio nunca ninguém mente. Se o fazemos é em defesa própria, ou em ocultação de ilação jurídica.
A mentira tornou-se tão desvalorizada quanto a promessa política. E se nisso a vertente reality-show nos trouxe Trump, a hombridade disse trazer Macron.
Emmanuel Macron parecia ser a resposta desta década para o que Merkel foi no milénio.
Acreditei ter sido até ao episódio do “Manu”.
Se na época o usei como antípoda de ‘Celinho’, hoje vejo-o como a imposição Imperialista do Eliseu “L’État, c’est moi”.
Mas o Estado não é Macron, e Paris arde no êmbolo dos gilets jaunes, baixo promessas salariais irrealistas numa Europa em distanciamento inter-pares como não há memória.
E nisto entra o oportuno foco mediático: Theresa May.
May é a Merkel britânica, herdeira do despotismo iluminado de Cameron onde a regra aplicada foi, ‘voz ao povo, poder a mim’, e se com ‘L’État’ Macron Paris arde, herdado de Cameron, Britânia busca-se ser o Império perdido a meio de uma Europa no divã.
E voltamos ao “Manu”, ao chamado chulo que um puto fez a um Presidente, político, Humano como nós.
O paradigma mudou, ou na verdade a Sociedade adaptou-se. Um Presidente, um político, não deixa – mesmo – de ser só um ser Humano como nós. O respeito pelo cargo transforma-se na duração da popularidade que o populismo salva.
E hoje a duração torna-se em humilhação.
May apresentou a demissão caso lhe aceitem a solução para o Brexit, versus Macron que segue aumentando o salário mínimo nacional para salvar a pele.
Nisto estamos nós, Portugueses, perdidos entre a disparidade isolada da periferia e o nepotismo que se instala, celebrando o passe único quando o limbo regional é uma realidade. Próximos da Paris ardente quando o que arde somos nós.
Nota:
‘Paris is Burning’ é o nome do documentário de 1990, da autoria da Estado Unidense Jennie Livingston, que retrata a vida da comunidade LGBT nos ‘80, mostrando uma realidade Nova Iorquina dividida por classes de ‘Houses’ em salas de baile, competindo pela originalidade de se ser quem se é.
Contornado, orgânico, visceral, o documentário tem na sua banda sonora o “Got to be real” de Cheryl Lynn, música epitome do ‘sexo, mentiras e vídeo’ presente na narrativa dramática.
Elas servem de inspiração a tudo o que, em reflexo, somos. Não em corrupção, mas na mentira que nos contamos em incêndios que criamos pela chama da vida que temos.