A campanha desse retorno ao sufrágio universal à Presidência da República estava marcado pelo precedente editorial noticioso.
Lula sabia que era esse o tema no qual se havia de focar distraindo a atenção daquilo que o seu oponente, o candidato à Presidência da República pelo Partido Social Democrático, Ronaldo Caiado denunciava como caixa dois, conseguido através da incorporadora Lubeca do grupo Moinho Paulista no Município de São Paulo.

Em Outubro de 1989, com a campanha política no seu auge, as pressões das constantes denúncias vêem-se confirmadas quando o funcionário da Lubeca, Paulo Albanaze, afirma ter repassado U$ 200 mil a Luiz Eduardo Greenhalgh.
Por coincidência Greenhalgh era secretário e vice-prefeito de Luiza Erundina de Sousa, eleita nesse ano Prefeita do Município de São Paulo pelo PT.
A propina para pagar a campanha política de Lula estava elencada num esquema simples; a Lubeca iria investir U$ 600 milhões num projecto urbanístico na área metropolitana da cidade, sendo que que uma percentagem seria paga ao Partido dos Trabalhadores.

O intermediário no repasse da propina entre a Lubeca e Greenhalgh foi o Dr. José Firmo Ferraz Filho. Ele, escutado a 28 de Outubro de 1989 num grampo cuja narrativa desafia o tempo, escancara em prosa melodiosa um enredo ao estilo tropical noire Sul Americano.
“O partido pediu grana. É ato de preposto, cara! E mais, o cara é vice-prefeito. Se ele pedir, os caras dão”
“Meu amor, a história é a seguinte: é a filosofia do lobo. Os caras dando isso… eles estão querendo o quê? Pagando o seguro tipo máfia. Não tem sacanagem, isso é a filosofia deles”

A filosofia fora correctamente identificada e todo o esquema de caixa dois descrito na sua exactidão total.
Naquela época só ocorreu algo para que tudo viesse a ser abafado: o lobo perdeu as eleições.
O Caso Lubeca fica esquecido, prescreve.

Os seus intervenientes dizem ter sido tudo uma brincadeira, mas as suas acções repetem-se no cenário político brasileiro.

caixa dois.jpg

A campanha rumo à vitória que consagraria Lula como Presidente do Brasil ficaria marcada pelo assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel.
Lula sabia que esse não deveria ser um foco de atenção. Antes condolências à família, clamar pela falta de segurança sistémica no ABC Paulista, no Brasil e na renovação que o Brasil precisa com um Presidente igual ao seu Povo. Tudo o que desvie aos factos que surgem.

A 18 de Janeiro de 2002, ao sair de uma churrascaria na elitista região dos Jardins Paulistas acompanhado do seu amigo o empresário Sérgio “Sombra” Gomes da Silva, o prefeito Celso Daniel é raptado do seu Mitsubishi Pajero blindado. É levado na Rua Antônio Bezerra, perto do número 393, no bairro do Sacomã, Zona Sul da capital, sendo que o seu corpo, cravejado com oito tiros, surge dois dias depois na Estrada das Cachoeiras, no Bairro do Carmo, no quilómetro 328 da rodovia Régis Bittencourt (BR-116), em Juquitiba.
O amigo Sombra a tudo assiste, nada lhe acontece.

Tratou-se de um assalto, um sequestro equivocado cometido por uma quadrilha de seis criminosos de uma favela de Pantanal, na Zona Sul de São Paulo.
Não havia intenção de raptar o prefeito de Santo André, antes um outro empresário. O dano colateral, no nervosismo de serem descobertos, foi matar Celso Daniel.
Um consternado Lula pede ao advogado do partido Luiz Eduardo Greenhalgh que acompanhe a perícia policial. O mesmo subescreve o relatório que dias depois é apresentado. Só que a versão contada pela Polícia Civil do Estado de São Paulo no dia 1 de Abril de 2002 não convenceu a família do prefeito assassinado.

Para eles as coincidências acessórias são demasiadas. O crime teve motivação política.

Celso Daniel, prefeito eleito pelo Partido dos Trabalhadores, detinha um dossier sobre a corrupção na prefeitura de Santo André.
O seu secretário “Sombra” usava um esquema de caixa dois através das empresas rodoviárias da região do Grande ABC Paulista garantido benefícios políticos aos chantageados colaboradores.
A recolha coerciva mensal cabia ao bem sucedido empresário Ronan Maria Pinto, dono de empresas do sector de transporte e colecta de lixo no ABC Paulista, além do jornal “Diário do Grande ABC”.
Ronan cobrava uma propina fixa mensal entre R$ 40 e R$ 160 mil que entregava ao secretário. Ele, por sua vez, repassava o dinheiro de forma declarada ao Partido dos Trabalhadores como contribuições partidárias.

O prefeito preparava-se para denunciar a quadrilha instituída no Partido dos Trabalhadores e Sérgio “Sombra” Gomes da Silva tinha demasiado a perder. Ele e Ronan Maria concebem o rapto e subsequente assassinato de Celso Daniel. Mais, aproveitam o dossier que o defunto havia deixado como moeda de troca para chantagear Lula.
Quando a 27 de Outubro de 2002 Lula vence as eleições, tornando-se o 35º Presidente da República Federativa do Brasil, Ronan dá início ao seu plano de chantagem.
Os R$ 6 milhões que o empresário exigia pelo silêncio acerca do esquema engendrado no PT foram repassados em Setembro de 2004 através do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo intimo de Lula, num empréstimo de R$ 12 milhões feito ao Banco Schahin.

Quando inquirido sobre o dito empréstimo, Bumlai, sem qualquer prosa ou poesia, apenas contesta ter-se tratado de “um gesto de simpatia, que se transformou em uma grande bobagem”.
Só que desta vez os intervenientes já não dizem ser tudo uma brincadeira.

A Família de Celso Daniel fez bem em não acreditar na versão oficial. 14 anos depois, justo no dia em que o relatório da Polícia Civil é apresentado, a 27ª fase da Operação Lava Jato é deflagrada.
Designada Operação Carbono 14, assim chamada por ir investigar algo que o tempo preservou, analisa agora as estranhas coincidências da morte do prefeito, o “gesto de simpatia” de Bumlai, os destinatários de uma chantagem Presidencial que rouba quem desvia para se fazer roubar e de como o empréstimo bancário e dinheiro extorquido eram, e continuam a ser, um esquema de caixa dois instituído pelo PT como seu modus operandi eterno.

Há a filosofia do lobo. Depois há a sua verdade escutada.
Ronaldo Caiado tinha razão, Lubeca não era um acaso, era razão para um Tchau querida

Por se tratar de uma narrativa baseada em factos verídicos, o texto e a sua aparente conclusão podem ser alterados.

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