As comparações entre a saga televisiva de Frank Underwood e Dilma Rousseff e o seu Ministro/não Ministro Luiz Inácio Lula da Silva têm sido um paralelo inequívoco na política ocidental.
Muitos dizem ter que ver com a cumplicidade dessa corrupção alicerçante que faz do Brasil tão parecido com aquilo que o lobby político tornou a sã Democracia Norte Americana num verdadeiro castelo de cartas.
Outros vêem o estapafúrdio da situação com a legitimidade que se adquire ao atingir o pináculo máximo do poder e se tornar blindado pela Lei de um foro privilegiado.
Outros apenas a teoria da conspiração que envolve todas as personagens da trama.
Jogos de dialéctica à parte o facto concreto é que House of Cards está de olho no Brasil e Lula mereceu a sua House of Lula.
Os três episódios são de uma sordidez implacável que nos lembra o porquê da diluição política brasileira estar como está.
Não mais adianta dizer que Lula foi esse Presidente que tudo aos pobres deu, elevando uma classe que antes seria ostracizada ou que viveria nessa margem do desconhecimento colonial pela xenofobia mascarada que o Brasil tem. Repito que “o bem que fez não perdoa – nunca – o mal que faz.”
O ex-Presidente não é investigado pelo bem que fez no seu passado, mas pelo mal que faz em receber ilicitamente os frutos de uma quadrilha criminosa que se apossou das instituições públicas como fonte de rendimento próprio.
Se por um lado a decisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, ao determinar que o Juiz Sérgio Moro envie a investigação relativa a Lula para o Supremo Tribunal Federal (STF) é prova de que um Juiz de 1ª instância não pode quebrar o sigilo telefónico de um Presidente, acaba por elevar a importância de quem fará todo o julgamento do ex-Presidente, não designa a decisão se o mesmo terá foro privilegiado pois o recurso para tornar-se ministro da Casa Civil não foi apreciado.
Se na verdade parece ser um revés negativo, juridicamente é o passo processual correcto a ser dado já que na Suprema Corte as escutas à Presidente podem ser avaliadas e ser validadas e o seu conteúdo tornado prejudicial para o seu impeachment.
Só que neste House of Lula há um facto adverso que penso não ter sido tomado em conta: a escuta “Tchau querida”, a comprometedora do mandato de posse, ser na verdade uma armação política para comprometer ela mesma a investigação.
É difícil de acreditar que a Presidência da República Brasileira, tal como disse Edward Snowden, não ter telefones criptografados depois do escândalo das escutas do Pentágono.
É que a vida política, mesmo a Brasileira, está mais para uma ficção ao estilo de The West Wing do que House of Cards. Porque os bastidores do poder existem, já as conspirações da realidade superam as da ficção.