Recém ingressada no actual ensino médio, Dilma Vana Rousseff, 17 anos de idade, entrava no Colégio Estadual Central de Belo Horizonte, Minas Gerais, quando a 13 de Março de 1964 o então Presidente eleito João Goulart, em frente à Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, ao buscar apoio popular para as suas reformas de base, assina em praça pública três decretos que ficaram para sempre na mente daquela que um dia será eleita Presidente do Brasil.

Nesse dia de Março, Goulart pronunciava-se em favor desse Povo rural, sem terra, lançado a uma analfabetização sistémica de um Brasil paralisado historicamente face a um mundo que evolui.
O Presidente é aclamado quando anuncia esses três decretos: Decreto Nº 53.701, rescisão das refinarias de petróleo privadas a favor da Estatal Petrobras, o Decreto Nº 53.702, tabelando os alugueres e o Decreto Nº 53.700, a Reforma Agrária à beira de rodovias, ferrovias, rios navegáveis e açudes em favor do Povo que agora o apoia.

Só que enquanto o Povo rural, as ligas camponesas, os sindicatos e partidos de Esquerda apoiam as medidas populistas de Goulart, a imensidão da classe média, classe essa de onde Dilma Rousseff vinha também, não encontravam ecos políticos nessa ideologia encapotada que anos antes, sob outra forma, pretendia tornar o Brasil numa Democracia Sindical.

Se 1954 foi o ano que mais fez estremecer a política brasileira com um tiro disparado contra o próprio peito, uma década mais tarde, na noite de 31 de Março de 1964, iniciava-se o mais longo dia na Democracia Brasileira.
A madrugada de 1 de Abril começa com a deposição do Presidente, acusado de incitar ao Comunismo e populismo político no Brasil. Goulart foge para o Uruguai enquanto as Forças Armadas tomam o poder para uma rápida transição, afastando o perigo da desordem e subversão que propiciariam a entrada das ideologias da Esquerda Internacional nocivas à Nação.

A 2 de Abril o “Estado de Minas” fazia capa comO ponto culminante das comemorações que ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento pela paz e pela democracia foi, sem dúvida, a concentração popular defronte ao Palácio da Liberdade.” e enquanto a população conservadora de Minas Gerais jubilava a deposição do Presidente, Dilma Rousseff via a sua oportunidade para se juntar à Organização Revolucionária Marxista Política Operária, o POLOP, e unir-se ao seu braço da revolução armada.

O exército que depusera o Governo eleito estava também ele atribulado. Existiam duas linhas de pensamento em prol da defesa Nacional, os moderados e a linha dura, e rapidamente a segunda, elegendo como Presidente o marechal chefe do Estado-Maior do Exército Humberto de Alencar Castello Branco, instituiu o Regime Militar.
Os militares que pretendiam de novo uma transição para a Democracia são exilados, depostos, presos e torturados. A mesma sina têm os que, já no Governo do Ex-ministro da Guerra, o marechal Costa e Silva, se insurgem contra a forma anti-democrática como a Ditadura Militar faz do poder uma repressão, reescrevendo a Constituição em 1967 e criando os conseguintes Atos Institucionais.

Um ano mais tarde, a 6 de Outubro de 1968, num assalto à mão armada ao Banco Banespa na Rua Iguatemi em São Paulo, uma assaltante vulgarmente conhecida como Dona Vanda, fazendo uso de técnicas de terrorismo armado e tendo em posse um revólver de calibre 38, foge com os seus companheiros da organização de guerrilha política VAR-Palmares, roubando a avultada quantia de 80 mil Cruzeiros Novos (R$ 690 mil actuais). Dois meses antes, sob o nome de Patrícia, a mesma assaltante fugira sob tiros de uma tentativa frustrada de assalto ao Banco Mercantil de São Paulo deixado os seus companheiros de crime para trás, um ferido e outro morto.

O surgir de movimentos políticos, organizações armadas contra o militarismo no Brasil, actos contra-revolucionários e o insurgir da População revoltosa fizeram com que a 13 de Dezembro de 1968 fosse instaurado o Ato Institucional Nº 5, o instrumento que faltava para que a ditadura, concentrado na figura do Presidente, cassasse direitos políticos e interviesse nos Municípios e Estados. Não só o Congresso Nacional foi fechado como a verdadeira repressão sobre os cidadãos teve início.

Dois anos depois, a 16 de Janeiro de 1970, a terrorista, então chamada Dona Luíza, foi finalmente capturada pela Operação Bandeirante e após ser presa e torturada pelo DOPS, confessou ter sido ela quem planeou minuciosamente os assaltos cometidos em 1968, assim como o assassinato do Capitão Chandler e o assalto ao Quartel da Força Pública do Barro Branco.

Dona Luíza, Patrícia ou Dona Vanda eram a mesma mulher, Dilma Rousseff, uma lutadora pela Ditadura de Esquerda, não pela Democratização do Brasil.

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Finda a Ditadura Militar a 8 de Maio de 1985 com a aprovação da Emenda Constitucional, o Congresso Nacional restituía a normalidade Democrática Brasileira apagada durante duros 21 anos. A 5 de Outubro de 1988 é promulgada a Nova Constituição, válida até aos dias de hoje, permitindo a existência política de todos, assim como o voto universal de todos os cidadãos brasileiros.

Dilma teve os seus direitos políticos cassados por um período de dezoito anos até ver a sua situação amnistiada em 1979 quando ajuda a fundar o Partido Democrático Trabalhista.
De lá para cá logrou ser, sem estudos completos, Secretária Municipal da Fazenda de Porto Alegre, Secretária Estadual de Energia, Minas e Comunicações do Rio Grande do Sul, Ministra nos Governos de Lula e finalmente Presidente da República Federativa do Brasil.

2016 é o ano em que a política brasileira estremece de novo.
Dia 31 de Março de 2016, 52 anos após a mais longa noite na Democracia Brasileira, o Povo rural, as ligas camponesas, os sindicatos e partidos de Esquerda que apoiam o Governo de Dilma saem contra um hipotético Golpe.
Gritam #NãoVaiterGolpe!

Dia 1 de Abril, Dilma reforçou a reforma agrária Brasileira a favor dos movimento dos sem terra e sem teto. No seu discurso de agradecimento no Palácio do Planalto, Aristides Santos, Secretário de Finanças e Administração da Contag, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, apelou à invasão de terras e fazendas, à luta de guerrilha.
Dilma ouviu calada para lembrar apenas, no fim, que o Brasil é uma Democracia.

(É?)

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