“Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.”

1954 foi o ano que mais fez estremecer a política brasileira.
A manhã de 24 de Agosto começou com um estampido seco, vindo do quarto do Presidente no Palácio do Catete no Rio de Janeiro.
Getúlio Dornelles Vargas, o Pai dos Pobres, havia se suicidado.

No litoral de São Paulo, no município de Guarujá, o jovem Luiz Inácio, o Lula, com nove anos, vivia a comoção de assistir à transformação política que o País atravessava.
A sua convivência familiar inusitada – o pai Aristides, bígamo, 22 filhos – numa vida de muito trabalho e pouco estudo, iam de encontro com as políticas do ex-Ditador-deposto-Presidente-eleito-por-aclamação-popular, que fazia da luta pelos direitos trabalhistas a sua base aliada.

O pequeno Lula, futuro torneiro mecânico e líder sindical, seguramente bebeu todas as palavras que a carta-testamento que Vargas havia deixado como prova da sua bravura face às forças que o tentavam derrubar.
Não só isso, mas o enredo político nessa trama conspiratória que envolvia corrupção na Petrobras, um atentado contra a dita imprensa golpista ou a Liberdade de Expressão eram factos caluniosos num Brasil onde o Presidente exercia o seu cargo sem mácula ou lembrança do seu passado Ditatorial.

Lula, decerto, reviu-se nesse último paragrafo da carta-testamento que João Goulart, o falhado Ministro do Trabalho, leu no enterro de Getúlio em São Borja, Rio Grande do Sul.

“Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.”

Ali se desenhou na cabeça do futuro Presidente do Brasil a ideia de que para se ser um líder, para se ser esse ‘Pai dos Pobres’, nada se nega, nada se contradiz na compra do voto popular.
Se a ideia do Getulismo sempre fora a do Estado Sindicalista, Lula, com a criação do Partido dos Trabalhadores em 1980, almeja esse sonho adiado com o Golpe Militar que o suicídio de Vargas e a apuração da corrupção instituída no seu Governo trazem com a Ditadura Militar em 1964.

GETÚLIO LULA

2016 é o ano em que a política brasileira estremece de novo.
A manhã de 4 de Março começa com detenção para inquérito do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A operação Lava Jato liga a corrupção na Petrobras ao antigo Presidente.

Lula não é Getúlio.
Lula não dará um tiro no peito.
Lula não fará dos cúmplices do seu crime justificação de Golpe de Estado.
Fará?

29 de Março de 2016 marcou o princípio do fim de um era.
O PMDB, principal suporte político do Partido dos Trabalhadores, rompe todas as ligações políticas com o poder sindical.
A agonia final aproxima-se, como entoada nesse testemunho:
“Deixo à sanha de meus inimigos, o legado de minha morte.”

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