São sete as verdades consequentes que definem a existência mutante do Homem.
Não se trata de um mero silogismo de impacto inquestionável, mas antes desse acrónimo classificativo cristão saligia: superbia; avaritia; luxuria; invidia; gula; ira; arcidia.
Os sete vícios Humanos, os sete pecados capitais.
Se para São Tomás de Aquino a soberba era um pecado individual, externo aos sete, na sua saligia o início configurava-se com a vaidade, vanitas, a primeira pena capital.
Pela sua proximidade, pelo reflexo existencial inconsequente e orgulhoso do Homem face a si próprio, a Igreja Católica acabou por fundir os dois, sendo que vaidade e soberba tornam-se num só.
E é esse orgulho descabido, tal como num mito de Narciso, que nos faz, acima de tudo, perder o controlo sobre o nosso próprio reflexo face à envolvente que nos traga e consome.
Na vida há poucas certezas concretas e absolutas, verdades indivisíveis, que não voltam atrás.
Nascemos logo morremos e o tempo – “Uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão.” – apenas corre num sentido. Tudo o resto são reflexos da nossa soberba, vaidade, orgulho.
Perante tão abjecto facto, o intermezzo deveria ser um momento de concretização amorosa sem culpas, não o humilhante fim de Immanuel Rath e o seu reflexo traído de Narciso nesse Anjo Azul.
Nem todas são Lili ou Lola. Nem todas o desejo de Papageno.
A regra da razão titulada de um sete que se projecta na ordem implícita do Universo.
De um Domingo de Criação. Da política que nos define. Onde fomos lúbricos, perdulários, eleitoralistas.
Homem/Mulher.
Porventura o controlo do equilíbrio constante é a sua ausência ponderada. Uma saligia silogista. Um ritual de iniciação que nos concretiza a mentira da certeza frente à verdade da correcção.
Consentimos em ser avarentos, exuberantes, invejosos, ambiciosos, rancorosos e até preguiçosos, mas sem nunca nos entregarmos a pura existência exclusiva de um só. Assim fazemos desse ensinamento teológico uma contemplação maior para compreender o nosso controlo, o controlo de Marleen. Da luz desse candeeiro solitário que se funde na neblina de uma noite fria e no dourado de um relógio que anuncia o passar dessas horas que agora desaparecem.
Porque o tempo corre nesse sentido sem inversão, e o fim, obitu, se aproxima, espelhado na vaidade que a todos consome.
(continua)
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