Lúbrico

A imaculada concepção foi um evento ímpar. Se antes não era comprovada, depois passou a marco charneira de toda uma Revolução.
Na História da Humanidade, no mito da Criação – a concepção,  continuidade da Espécie; do Ser criado pela Divindade Suprema, desses sete dias de ânimo que da magia de um número encontram na Ciência, no Busão de Higgs, a Partícula de Deus, nunca a falta da união de dois sexos opostos gerou a vida.
Era dessa união, desse acto, que nascia a semente que povoava, povoa, e supõe-se – continuará a povoar -, a Terra que ainda hoje, diferente, é a mesma.

Da mesma forma que Roma e Pavia não se fizeram num dia, imagino que o contexto do desaparecimento de Sodoma e Gomorra seja algo mais que um simples ensinamento sobre ética e moral religiosa.

Não pretendo ser meramente lúbrico, nem num sentido estrito da palavra, teológico. Sou ateu. Não acredito na existência do Divino enquanto promessa de uma continuidade num Paraíso ou Inferno de penas por Pecado.
A minha salvação está na minha consciência.
O conceito da culpa, definição Católica per se, é algo que existe em mim por ser um Homem Latino. Sou Caucasiano educado em Portugal, e por tal, apesar de ser um País laico, a prosa ‘Deus, Pátria e Família’ é, ainda, vigente na mentalidade conservadora da Nação que estrebucha por ser extremada.

Dito tudo isto: Quem foi Jesus?

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Papel Principal

Adelaide Ferreira tem uma música do seu LP de 1986, ‘Entre um Côco e um Adeus’ que se chama ‘Papel Principal’.
Adelaide fora musa de José Fonseca e Costa nos inícios dos anos ’80 e essa música serviu de banda sonora de algum dos seus, já, esquecidos filmes.
A letra falava de um mau actor, que representou mal, iludiu tudo e todos, menos a ela, pois o papel principal, nesta cena de amor cinematográfica, agora era dela.

A ponte para o refrão dizia:
“A noite acabou
O jogo acabou para mim aqui
Quando acordar já te esqueci
O filme acabou
O drama acabou, acabou-se a dor
Tu sempre foste um mau actor
Fizeste de herói no papel principal
Mas representaste e mentiste-me tão mal.”

Perante isto apraz-me dizer que esta Mulher, na antologia feminina, bem poderia ser uma Maria Madalena, alguém de poder, Sangue Real – Santo Gral; que vira no Homem que apoiara, no seu Movimento de Libertação temerária perante o jugo do Império que os oprimia, a verdade da imaculada concepção.
De que um Jesus de Nazaré, a ser carpinteiro, órfão de Pai e adoptado por um artesão, fora alguém que se insurgiu da forma política que existia na altura.

A ideia de que o descontentamento popular de uma Sociedade oprimida passa pela sua Crença em algo superior que a virá salvar do purgatório Terreno é tão licita agora como há dois mil e muitos anos atrás.
Imaginar que na Judeia havia uma imposição Romana face a uma vontade de crença Libertária local é algo mais simples e concreto do que se acreditar que o valor máximo a ser defendido pela iconografia da Paixão de Cristo seja uma narrativa Pascal musicada.

Eu pessoalmente nunca conheci ninguém, dentro do limite da probabilidade, que não quisesse, no seu âmago intimo, ser dono da sua vontade pessoal de Liberdade individual.
E nisso, nesse momento de opressão esclavagista que um Império em queda estava, Jesus viu a oportunidade política de ser um líder sem eleições com voto de cruz.
No final, num acto de merchandaising que Lhe valeu a eternização da promessa no voto útil: a Fé; acabou Ele Crucificado.

Teve Ele, nascido da Mulher virgem e acompanhante da Mulher que virou meretriz, o Papel Principal.

Eleições

Entre a Judeia e a Galileia, numa vida de tentação e salvação de índole moral, em que um aprendizado de experiência, erro e correcção, fazem de Jesus um Profeta da palavra, chega a altura de se lançar numa investida politizada.
Pode que o meu vocabulário contemporâneo desvincule a noção do milagre e da salvação da Fé como algo Terreno, mas vejo em Jesus um Homem, o Primeiro dos Primeiros Ministros.

Depois de regressar da Judeia, com cerca de 30 anos, Jesus, aproveitando o Ministério de João Baptista, alavanca a sua palavra do Reino de Deus com o seu baptismo na Galileia.
Nesse período consagra, com base num discurso moral – o Sermão da Montanha; a união de mais filiados no seu Partido. Juntam-se Apóstolos à propagação da palavra do Senhor.
Mais tarde, já num segundo período de convocação das massas, naquele que é o Ministério da Pereia, Jesus que enfrentou os conflitos de Satanás, volta ao Rio Jordão onde se baptizou para renovar a sua existência da palavra Divina.
É aqui que entre no ciclo final que ditará o desfecho da História Terrena de quem o povo escolheu para seu mártir.

No Domingo de Ramos, contra o declínio económico que toma posse da índole moral do Templo Sagrado, entre triunfalmente em Jerusalém. Recebido entre palmas e Palmas, é nas palmas de Judas, seu apóstolo, que caem as 30 moedas de prata que traem o significado da palavra Confiança.
A Última Ceia é símbolo da despedida, anunciando o caminho traçado a seguir. Estratégia oportunista de político experiente.

Poncío Pilates ao estender, também a sua palma, lava as mãos do juízo que cabe a Herodes. Jesus seria o Rei dos Judeus, não um assunto de Roma.
Herodes faz escárnio da figura caída e a entrega para juízo do Império.
Não há eleições livres. Há despotismo. Há estratégia.
Jesus é condenado à crucificação entre vulgares condenados.

Mártir pregado à cruz, de coroa de espinhos e placa de identificação INRI: Jesus Nazareno Rei dos Judeus.
O Primeiro Ministro derrotado pela máquina partidária da sua época.

Tituba

Em Outubro de 1692 a pequena cidade de Salém no Massachusets no interior Norte Americano viu acontecer aquele que é considerado, para todos os efeitos, o último julgamento por bruxaria na História do Cristianismo.
A escrava de Samuel Parris, Tituba, uma Africana praticante do vodoo, conta as adolescentes locais algumas das superstições que a sua religião tem.
O que se seguiu foi um delírio colectivo de pesadelos de possessão.

O pesado juízo moral de uma Igreja Puritana Protestante, na mão de um juiz, Samuel Sewall, levaram à captura, julgamento e linchamento bárbaro de pelo menos 20 Mulheres e um Homem, sendo que 150 habitantes locais foram acusados de bruxaria.
Tudo baseado na suposição de uma Crença, em algo que, ao não ser visto de verdade, se acredita que possa existir.
Lição de medo, culpa e remorso que fizeram o juiz carrasco proferir um Mea Culpa às vitimas do seu ‘erro grosseiro’.

Pensando em Jesus, não como o Cristo iconográfico, mas como um Ser Humano terrestre, terreno, igual a nós, diferente de mim, de ti, da massa que faz o Global, poderemos traçar, de igual forma, um juízo carrasco sobre as lições políticas da Sua Vida.
O Seu Ministério, dos lícitos ensinamentos de uma Vida a ser partilhada, acabaram por não ser mais que baseados na suposição de uma Crença, em algo que, ao não ser visto de verdade, se aceita que possa existir.

Não fosse a Igreja Católica, ou as suas variantes, venderem o eterno perdão de uma alma terrena que peca, num idílico visual de Paraíso, a um preço de dizimo, em que a troca disso se chama Fé, imagino que, colocando o Papel Principal numas Eleições políticas, um qualquer Ditador que perdurasse numa imagem glorificada de mártir da Salvação, teria direito à sua própria religião de Fé.

Lúbrico? Quiçá.
Ateu? Com certeza.

Perdulários

A minha vida foi curta. É dilacerante saber que tenho apenas 31 anos e esta matéria de que sou feito, perene e mutável na sua reinvenção diária, um dia acabará.
Ainda assim tenho o privilegio de existir no actual, sabendo que o passado existiu. Eu lembro-o.

A minha vida foi curta. É interessante saber que sou contemporâneo de três Papas, Sumos Pontífices, da Religião Católica, e que de uma forma ou de outra, sem sequer o compreender, deles retirei lições de Vida.
Tenho o privilégio de poder concordar em discordar. Ou vice-versa.

João Paulo II era a referência popular do exemplo a seguir.
Foi ele o responsável por desmascarar a fraude Comunista que se insurgia na Europa, ou pelo menos, na sua nativa Polónia.
Foi ele o emissário desse Primeiro Ministro Mártir, da Época do Senhor, a continuar a linha politizada da Igreja num dialogo de bem maior.

No seu natural declínio e anuncio de morte, eternizada na Sua Santificação, seguiu-se um claro erro de casting. Bento XVI foi obra do deslumbramento, e embora represente o que a Igreja tem, não seria aquilo que queria ser.
Na ausência que um gesto permite, nessa Romana Embaixada, entra aquele que está, no meu ver, a Revolucionar um enraizado pensamento deturpado sobre uma suposta Fé.

Francisco, meu homónimo, é alguém que está a dar à Igreja uma linha de aproximação em que a política com que se rege a Sociedade é a do voto da livre escolha.
Há regras, sim, mas há opção.
Optar pelo respeito de não ter que acreditar na existência da continuidade eterna para se ser respeitado enquanto aqui, no Plano Terreno, vivemos.
Senão seremos apenas perdulários e tudo não passa de economia.
O vil metal da austeridade imposta.

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