O tiro de partida foi dado e começou ontem: os 10 Presidenciáveis fazem-se a Belém.
Nunca neste História Democrática Portuguesa tantos se tinham feito à residência oficial que desde 1986 não alberga oficialmente ninguém e apenas serve de domicílio oficial para a pompa e circunstância que uma das Casas Presidenciais mais caras da União Europeia tem.
Mas se o Presidente que agora parte – esse que será o Homem que se segue – quem a ele suceder traz já consigo a premissa do que os 45 debates televisivos da última semana demonstraram: um vazio feito de rumores passados, prontos a serem usados como os comentários dominicais do messias pré-eleito a vencedor.
Caso não fosse o dado adquirido de que a abstenção vai efectivamente subir – dado o descrédito e cansaço das pessoas frente ao abjecto quadro político instaurado no País -, poderíamos pensar no posto da Presidência como mais do que uma estratégia de estrago político ao Governo da Geringonça e como sendo o ditame de equilíbrio necessário frente ao populismo facilitista do PS. Como o objectivo neste preciso momento é a mera política de quadrilha e intriga, venha de lá alguém para “Belém, Sustância e Garantia”.
Dito isto, esta corrida está transformada numa cavalgante gauche comentaire oblige.
São 9 candidatos de Esquerda e apenas 1 que se vira consoante a vertente oportunística da sua Direita de voto garantido.
Paulo Morais, Vitorino Silva (o Tino de Rans), Cândido Ferreira, Jorge Sequeira, Edgar Silva, Henrique Neto, Marisa Matias, António Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém representam a Esquerda sem o espaço do passado à contradição imediata, na sua maioria, com laços de filiação ao PS ou aos membros executivos da Geringonça.
Já Marcelo Rebelo de Sousa, o eterno comentador em campanha, frente ao muro que se ergue, é o único candidato objectivamente de Direita nestas eleições.
Apesar de alguns dos candidatos – ou quase todos – se apresentarem como independentes, nenhum tem um passado livre de cadastro político, ou pelo menos de um vazio, a ser futuramente instrumentalizado em Belém.
Se a polarização dispersa de candidatos à Esquerda criou-se para uma segunda volta, a sua necessidade torna-se ridícula uma vez que o candidato Marcelo será quem mais irá presidir ao país num sentido contrário ao da própria história política do PSD.
A sua constante ode de ir contra os Barões instalados no seu passado político é o espelho para o futuro que se desenha.
E mais, se razões houvesse para não votar no comentador, seguramente seria o facto do mesmo ter passado os últimos 15 anos da sua vida a dizer algo e o contrário em simultâneo, intercalando essa noção de vichyssoice requentada com uma nova receita de sopa dominical.
Só que esta República de Senadores Comentaristas merece melhor. E se numa primeira volta não há garantia, quem sabe à segunda a sustância seja mote de intriga.
Se o facto político que se assume é ter um regime de Esquerda instituído, que seja um auto-critico e analítico. Que pondere a sua existência por dentro ao invés de trazer fragilidades nesse factótum constante ao estilo de “365 Sopas para um Ano de Sustância”.
Não se faça de Belém a casa mais vista do país, com laivos de reality show e enredo de telediário com especiais narrados pela voz de Teresa Guilherme. Faça-se narrativa política credível onde a existência já pouco se merece num desmerecimento que capitula em ecos de inconseguimento.
Eu, face a esta breve análise, curta e incisiva, numa aposta perdida para um Portugal à deriva, se o voto para Belém fosse dote de garantia, a minha não abstenção iria para a Maria.
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