Há referências na nossa vida que, mesmo quando partem nessa eternidade do “para sempre”, nunca deixam de o ser.
David Bowie é uma delas.
Escrever sobre Bowie, para mim, é uma complexa facilidade pois ele nunca existiu enquanto ser Humano.
Nem sequer como o camaleónico cantor que se viu representar diversos papeis pautados por uma música, muitas vezes, fora daquilo que o meu ouvido apreende.
David para mim foi o entrar num armário pré-adolescente, feito labirinto, rumo a um baile de ostentação, 13 horas, bolas de cristal, lycra, laca e spandex.
Ele era um Rei, Jareth, e nós uma jovem Jennifer Connely perdida num labirinto em busca do seu irmão mais novo enquanto firmava uma identidade.
Ele era a fantasia concretizada da impossibilidade inatingível de um adolescente rumo à sua maturidade.
Claro que isto se passa tudo no celulóide e em 1986 tinha eu apenas três anos de idade sendo que a minha memória apenas vem dessas cassetes Beta herdadas dos meus irmãos vistas mais tarde, mas essa estranha figura que me repudiava e atraia manifestava algo em mim. A música de fascínio, a postura de exagero, as cintilantes bolas de contenção e quebra.
A magia de um labirinto psicológico que temos de percorrer para nos fazermos adultos, aprisionados numa verdade só nossa.
Labyrinth, o filme que me introduziu a David Bowie apresentou-me a muito mais. Não só a essa luta individual do labirinto que se faz através da partilha, como a esse armário psicológico em que as personagens se fecham no reflexo de um espelho. Com a transcendência da personagem à persona (David cantor, actor, cidadão, Humano, etc) aprendi que o limite de cada um não se impõe pela Sociedade que nos define, senão nós é que fazemos a própria definição que a Sociedade tem de nós.
Se perante a mesma não existe esse tupperware onde ficarmos delimitados, criemos o nosso próprio espaço, ambiente.
O nosso próprio baile de ostentação, 13 horas, bolas de cristal, lycra, laca e spandex.
Façamos por ser nós próprios, mesmo que o baile termine e sejamos os últimos a assistir a esse mundo se acabar.
David, you’ll forever be my Goblin King.