Em Abril de 2012 escrevia o texto que a seguir transcrevo.

A vida tal como a conhecia mudava feito cambiante e eu adaptava-me numa rebeldia que não queria aceitar mudar. As dores de um crescimento de quem havia perdido a pose adolescente, que já não era faz tempo, mas ainda assim mantinha num comportamento excessivo, feito de levar a chapada de que a vida não seria uma adolescência perpétua
Estava a completar 29 anos e os trinta eram a barreira certa para tudo se acertar.

Passaram-se quatro anos, neste virar para 2016, e apesar da minha promessa do crescimento e acerto se ter completado, esse mundo da mudança que se tornaria adulto, onde a responsabilidade seria feita de uma reciprocidade objectiva, a verdade é que o desequilibro Social nos marca novamente para trazer essa má cara presente.

Dito isto, partilho este meu texto – musicado -, numa iniciativa própria de crescimento e ultrapassagem da desesperança que se instala.

lose that long face.jpg


Não sei porquê, mas achei que a vida ia ser fácil. Seria uma espécie de contínuo prazer proteccionista onde tudo estaria bem.
Verdade seja dita que, não fossem as agruras da vida, os maus momentos, a doença e até a morte, não saberíamos como definir afinal de contas o que é o prazer. O prazer da vida, os bons momentos, a saúde e até a morte como memória dos que por nós passaram.
Estranho chegar quase aos trinta e ainda ter essa vã esperança de que tudo seria fácil e com isso, consegui enganar-me quase durante três décadas.
Posso estar no extremo de uma complicada hipérbole, pois nem de coisas fáceis foi feita a minha vida, nem de coisas más. Devo estar algures no pico de um vértice, tentando um qualquer equilíbrio.
Tenho dias. Uns mais centrados, outros contrabalançados, e por fim, aqueles em que simplesmente nem quero estar.

Esses dias mais sombrios, onde a minha cara reflecte a ausência total de qualquer traço emotivo, são os mais penosos. Não que queira sentir pena de mim próprio e achar que só tudo de mal me acontece, mas a verdade é que passo num escrutínio apertado, todos os erros e omissões da minha vida. Pode não parecer muito, mas de facto em três décadas (ou quase três), não sei como não me soterrei em meio de culpas múltiplas.
Imagino que essa sensação de liberdade se deva ao único dos sentimentos que subsistiu guardado na caixa de pandora, essa amnésia que me faz crer existir uma vida mais fácil.

Edifico-me de referências, e revejo-me quase sempre na harmonia de uma canção, na letra de uma música. Por algum motivo, quem sabe nesta insistência de renovação qual fénix, a banda sonora da minha vida trouxe-me até ao filme ‘A Star is Born’, ‘Assim nasce uma estrela’ onde a protagonista assiste de plateia, à destruição do seu amado, perdido nesse labirinto das drogas e álcool. Sem que exista um paralelo directo, no filme mostra-se a dualidade entre estar bem perante as câmaras, e a realidade concreta da vida real. Numa das cenas mais emotivas, marcadas por uma explanação acerca do sofrimento de incapacidade em poder ajudar, a personagem de Judy Garland, Vicki Lester, a meio da gravação de um filme, canta a música ‘Lose that long Face’, tira essa cara chateada numa tradução livre.
Voltando a mim, e apropriando-me dessa realidade, tenho esse fito, mesmo que ainda me reveja na dualidade daquilo que se mostra e aquilo que se sente, e tenho de tirar esta cara chateada, trabalhar um sorriso, e tentar que os meus olhos espelhem a réstia de esperança que sinto no apoio da família.

Sou um animal ferido, triste por perder o meu lugar, mas da mesma forma que a vida não é fácil, só me poderá dar prazer por saber ter sofrido.
Assim tento fazer uma promessa, pois a garantia é pessoal, em como tirarei esta cara chateada, porei um sorriso, e vou partir para a luta.
I’ll get my long face lost.

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