“Os amigos são para as ocasiões.” – Se já antes o escrevi, aqui e aqui, quem melhor o disse é o actual (engolir em seco) Primeiro Ministro.
Cito com detalhe:

“Como nós dizemos em Portugal, os amigos são para as ocasiões. E numa ocasião difícil para o país, em que muitos não acreditaram que o país tinha condições para enfrentar e vencer a crise, a verdade é que os chineses, os investidores chineses, disseram presente, vieram e deram um grande contributo para que Portugal pudesse estar hoje na situação em que está, bastante diferente daquela que estava há quatro anos atrás”

De facto pedir ajuda aos amigos é sempre bom. Se o seu anterior número um está a indiciado de crimes justo por esse feito, António Costa escreve-nos com essa ideia fixa da diferença no seu artigo de opinião no Diário de Notícias.

Entre um Português escrito de forma inenarrável, onde a presença de vírgulas é uma omissão constante ou presença errónea, surge, chegando às declarações fatalísticas sobre os termos comparativos com o anterior executivo, essa lembrança prosaico-epopeica do ‘diferente’ (o bastante ficou-se pelo caminho).

“Depois de quatro anos em que dominou a ideia de que a austeridade era a única solução, este governo e a nova maioria parlamentar provaram que é possível governar de forma diferente.”

A verdade é que a austeridade não foi a única solução, embora aos olhos da oposição socialista assim se reveja, pois as cartadas dessa frase que define todo este gigante artigo de opinião resumem bem aquilo que vimos passar nos primeiro vinte dias do Governo de Costa: reversão.

Se o primeiro Primeiro Ministro não sufragado da Democracia portuguesa usa a palavra reverter sobre o empobrecimento é porque o próprio, que tanto usa a palavra ‘mais’ – nessa oferta de retorno garantido aos contribuintes – sabe de onde pode vir pedir emprestado.

reversão total

O BES/Novo Banco e Banif são exemplos dessas reversões de ‘toma cá e da lá’ emprestado.

Se o Novo Banco é criação do acaso, onde a supervisão falha mas se defende no desconhecimento, no Banif é um flagrante delito que toma contornos políticos suspeitos. Nos dois casos há uma reversão irreversível – uma reversão irrevogável que se revogou.
Se no Banif se poderia perfeitamente ter salvo o pecúlio Nacional e não ir ao bolso dos contribuintes – como já se percebeu; no Novo Banco fez-se do dito desdito e tornou-se tóxico o que antes estava garantido.

Claro que isto de político nada tem – ou isso este neo-novo Governo tratará de dizer – indo em contra a ‘palavra dada e honrada’ de ser diferente do anterior.

A responsabilidade culposa – mesmo raivosa – recairá nesse que se tenta incriminar faz tempo: Carlos Costa o Governador do Banco de Portugal.

Da mesma forma que a memória atraiçoa António Costa e as suas amizades para as ocasiões, determinadas reversões tornam-se impossíveis.
O Governador do Banco de Portugal é inamovível.
O custo da manobra política no Banif vai ser pesada no défice que vem.
E a reversão da toxicidade no Novo Banco é um flagrante alerta para a forma como este Portugal está diferente. “Bastante diferente” na forma como comunica as suas intenções.

Porque no final, as reversões não são como as resoluções de ano novo, não batem as doze horas, vira-se a página à austeridade, e o empobrecimento é feito desaparecer como as promessas eleitorais que já se ficaram pela rama.

Ou seja, é mesmo Novo Ano, tempo diferente.
Seguimos esperando essa tão anunciada torrente

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