Ontem sucedeu um momento de repetição, tal qual padrão que de aleatório passou a repetitivo e cuja culpa, como sempre, termina por se dissipar no sufrágio da alternância feita alterne que o processo da Democracia está transformado: António Costa anunciou a resolução do Banif.
Já o disse antes e repito, “O Banif não é o BES, nem o BES foi o BPN. São todos Novos Bancos sendo que só um foi Novo já velho.” só que agora o novo tem toques de velho na resolução aplicada, uma vez que o contribuinte será prejudicado de imediato, tal como já antes ocorreu com o BPN.
Diga-se que são opções políticas.
Mas como de políticas se fala, vou falar na denegação da sanfona.
Denegar, justo um termo jurídico, é desmentir algo, é um mecanismo de defesa em que o sujeito se recusa a reconhecer como seu um pensamento ou um desejo que foi anteriormente expresso conscientemente. Mais a mais é fazer dos outros uma culpa que também passa por si.
Por outro lado uma sanfona – que também é um instrumento musical – significa num jeito informal uma pandilha. Ou seja, um conluio entre vários indivíduos para enganar alguém.
E aqui chegámos, o nosso Sistema Financeiro, o desta terrinha encostada na berma de um abismo cuja saída é mesmo a emigração, vive atrapado na denegação desta enorme sanfona política que temos.
Ver o hipócrita António Costa nesse pré-aviso confirmado pelo Banco de Portugal de que o Banif seria vendido por uma ínfima fracção do preço e que uma situação de resolução seria tomada, era prenúncio de que a noite seria agitada para a Nação que menos de ano e meio já vira tudo antes. Só que agora, no rumo Esquerdista das Nacionalizações, o prejuízo que à banca pertence, do Erário Público vai sair. Ou seja, em tudo foi semelhante ao BES/Novo Banco, apenas com duas diferenças: o Banif foi desde logo vendido, e os activos tóxicos expugnados ficaram todos no bolso dos contribuintes.
Mas e as culpas?
Sim, mal o relógio batia a meia-noite e já as redes sociais se viam num realejo musical do empurra-empurra que o próprio Primeiro Ministro Virgula (PMV) deu o mote.
A culpa é toda do anterior executivo, da supervisão, desse sistema neoliberal cego, essa pandilha.
Mas e se na verdade a culpa dele não for? E se a ser, nessa clara denegação psicológica que o PMV faz, a pandilha é toda ela uma grande sanfona envolta na teia política sócio económica que a Europa se tornou desde a bolha do subprime?
É que a ser verdade, que o é, tudo se encaixa de forma clara e simples.
Quando em 2008 a crise Norte Americana rebenta e causa impacto na Europa, Sócrates, muito incentivado pela Comissão Europeia e o BCE, dá início ao seu plano megalómano de incentivo ao consumo interno. A economia vira-se para dentro, o crédito, sobretudo à habitação, é mais que facilitado e as pessoas são estimuladas a consumir de formas nunca antes possíveis.
Como a Economia Portuguesa é débil e a sua balança comercial sempre foi desequilibrada no rácio de importação/exportação, quando a dívida externa se torna insustentável e o défice estoura em 2011, ao ser derrubado o Governo de Sócrates a solução foi só uma: chamar a Troika.
A vinda da Troika teve dois efeitos na banca. Em primeiro lugar limpar os créditos do bancos estrangeiros, nomeadamente os Franceses e Alemães, e criar todo o caos que agora se assiste.
Os bancos pedem ajuda financeira para cobrir o crédito malparado que ficara nas suas carteiras pela desvalorização que o mercado em crise assistia, e muitos deixam de o conseguir pagar pelo lixo tóxico que acumulam. Se o BES foi um caso invulgar, o Banif é o começo de uma tendência. Os bancos dispersam acções em mercado fazendo aumentos de capital para angariar mais dinheiro.
As acções do Banif no final nem um quinto de cêntimo valiam.
A banca passa a ser, cada vez mais, supervisionada pelo BCE e não pelo Banco de Portugal e mesmo este tem nos seus poderes uma limitação na constante consulta a Bruxelas para saber se aquilo que propõe segue esse paradigma Europeu. Ao fim ao cabo pergunta-se o porquê e para quê de dita instituição?
Não é uma pandilha. É uma sanfona descarada.
Os banqueiros (ou bancários) não são figuras paternalistas ao estilo de George Banks. São meros comerciais em busca de um lucro rápido que tape o próximo problema.
E esse é sempre o mesmo problema, igual ao dos políticos. Eles também não são figuras paternalistas que existem como salvadores tutelados por um Ente Divino ou com poderes divinatórios. Estar agora num acto constrito de humilhação ao anterior executivo sobre, e apenas, as suas culpas neste cartório é idiótico.
Claro que o PSD e CDS-PP têm responsabilidade pelo ocorrido, mas nesse caso terão também os restantes partidos da oposição, agora unida, pois nada disseram ou fizeram quando sempre se soube ou viu o que ocorria no Banif e as suas acções em queda permanente. E se por aí vamos, porque não voltar a 2010, ainda Sócrates, o actual crítico de plantão, estava na cadeira do poder e o Banif dava já sinais de fraqueza?
A António Costa serve-lhe agora a denegação de culpas que lhe possam – e sê-lo-ão – imputadas, pois sabe que esta resolução é um desastre pelo efeito borboleta que causará na banca Nacional. Não só foi contra aquilo que se comprometeu com a sua geringonça, como traiu o seu suposto eleitorado, causando um rombo para os contribuintes.
Para piorar tudo, já se sente o pânico instalado sobre qual é o próximo a cair? É que nos últimos 4 anos foram seis bancos intervencionados pelo Estado e o crédito malparado nas imparidades está na ordem do dia.
Soa a sanfona ou denegamos tudo?
Porque depois da hipocrisia vem a demagogia… e estamos lá perto.
Nota:
Imparidade e Incumprimento
Uma imparidade resulta da diferença, para menos, do valor de um bem dado em garantia.
Por exemplo: compra-se uma casa e pede-se ao banco um financiamento. O banco avalia casa em 100 . Com a crise o bem desce de valor de 100 para 60. O cliente não deixa de pagar as prestações e dos 100 já só deve 80. Como o bem desvalorizou para 60 a imparidade resulta da diferença entre o valor da divida e o valor da avaliação: dívida 80, valor da avaliação 60. A imparidade é 20.
A lei exige que o valor das garantias cubra o valor da dívida (inicial ou a existente ): o cliente começou a dever 100 e o bem valia 100. Agora já só deves 80 mas o bem desvalorizou para 60. A imparidae é 20: ou seja 80 menos 60.
Isto significa que o valor do bem já não cobre o valor da dívida. Nessa situação a lei exige uma de duas alternativas: ou dá-se uma nova garantia no valor de 20 ou o Banco aumenta o seu capital pela diferença da imparidade: os 20 que em falta.
Coisa diferente é o incumprimento: trata-se de não pagar os juros ou o capital em dívida. Isso não tem nada a ver com a perda de valor da garantia.
Nesse caso o banco tem de cobrir o risco de não pagamento utilizando as reservas de capital. Se uma maioria de clientes entrar em incumprimento o Banco terá de aumentar o seu capital .Senão conseguir entra em insolvência: casos do BPN, BPP, BES, Banif…
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