No cair do Comunismo Russo – será que na invenção do mesmo houve outro tão puro como este?; ao que se chamava de Nomenklatura, quando o Império da imposição cai e Gorbachev se vê encurralado por Iéltsin, surge a nova geração soviética dos oligarcas – ambiciosos e despudorados milionários surgidos da ascensão do capitalismo selvagem, reconhecidos pela sua forma táctica de gerir os despojos desse Império à deriva de um sentido.
Numa selvagem tradução de significado, seriam os yuppies surgidos na Era Reagan e o seu Livre Comércio nos anos 80 em Nova Iorque.
Num país cujo mercado vivera os últimos setenta anos em regime semi-aberto – para não negar a realidade de ser fechado a uma realidade despótica onde o Grande Líder denominava a Pravda – verdade; sem que houvesse uma real contradição de facto sobre um hipotético exterior real ao de uma estepe siberiana, o resto do que seria a Libertação era um Gulag.
Se o Partido Comunista vivia o final da década de 80 a fingir um regimento de sobrevivência, os recém auto-denominados oligarcas, encabeçados por Anatoly Chubais dominavam uma paisagem de hostil capitalização necessária frente a múltiplas indústrias falidas.
Claro que a sua vontade de salvadores patrióticos não é tão bela quanto uma descrição poética e honrada ao estilo dos velhos heróis caídos do Regime Comunista. Pelo contrário. O oligarca resume justo isso, um magnata que forma riqueza de forma pouco transparente, explorando a oportunidade dúbia de uma situação de desespero alheia.
Só que enquanto a Nomenklatura o fazia baixo o olhar aprovador do Grande Líder, aqui o desbravar do território selvagem é feito à revelia de uma insurgência que se impunha.
E na verdade o líder era Iéltsin, de rédeas na mão.
Ele foi o responsável pela transformação da economia Socialista Russa numa economia de mercado aberto, implementando a chamada “terapia de choque”, com programas de privatizações e liberalização económica.
As empresas Estatais foram privatizadas e as suas acções vendidas aos cidadãos como forma de serem eles os donos das mesmas, num esquema em que cada russo recebia um bónus, representando a sua parcela da riqueza nacional.
Como a economia aberta era selvagem e desregulada, além das empresas privatizadas estarem completamente falidas, as acções vendidas ao público não valiam uma fracção daquilo que o bónus indicava.
O resultado?
Empresas que foram privatizadas por grandes valores, eram agora adquiridas pelos oligarcas, comprando acções individuais, a preços absurdamente baixos.
Hiperinflação ou outras contingências para empréstimos? Não há problemas. O séquito de oligarcas que Iétsin via como um mal menor, comprava Bancos para os financiar.
No espaço de 6 anos, de 1989 a 1995, a paisagem económica Russa, assim como os seus hábitos, tinham mudado.
Todos queriam um carro, um Lada, e Boris Berezovsky assegurava o preço acessível no mercado.
Gasolina? Mikhail Khodorkovsky, acessor do Presidente, tornado independente, era agora dono da ex-Estatal Yukos, a gigante petrolífera Russa.
A televisão pública era posse privada de Vladimir Gusinsky, e a informação difundida era verdadeira sem ser a velha pravda de imposição.
Mas o jogo de interesse político começava a ficar cada vez mais perigoso.
Os interesses em não se querer mostrar a realidade que sustentava a elite das datchas e vida sumptuosa começava a ser demasiado.
Apesar do auge capitalista Russo ser em 1996, tudo se desmorona – aparentemente; quando no final de 1999 Iéltsin renuncia a Presidência da Federação Russa e Vladimir Putin é feito o seu presidente interino.
No ano seguinte é eleito Presidente e promete recuperar os valores Nacionalistas Russos, de um tempo ido. Da memória Czarista.
A economia de capitalismo selvagem – que a Esquerda apelida de neo-liberalista; na Rússia pós Comunista acaba por estoirar e desencadear aquilo que sempre provoca quando a vida é vivida em aberto: corrupção e apropriação indevida do que não nos pertence.
Íéltsin perde a rédea a tudo e a Rússia está ao desbarato.
Putin, num gesto altruísta desse seu novo poder instituído, declara guerra contra os Oligarcas que se apoderaram de uma Nação de Todos. Persegue aquilo a que se designa de corrupção capitalista. Aquela que instrumentalizou o bem do Povo em nome pessoal.
Os ricos oligarcas são detidos, presos. Os que têm sorte fogem.
Khodorkovsky, Presidente da Yukos, é detido por fraude fiscal e lavagem de dinheiro em 2003, sentenciado em 2005 a 9 anos de prisão, saindo apenas em 2013, exilando-se na Suiça, país com o qual a Rússia não tem acordos de extradição.
E no fundo foi isso que todos fizeram. saíram da sua Pátria Mãe e fizeram-se ricos dissidentes com os espólios de uma brecha oportunista da queda de um Império podre.
O Novo Império começou a 7 de Maio de 2000, quando o ex Tenente Coronel da KBG se torna Presidente de uma nova Rússia, mais livre, mais igualitária.
E onde os oligarcas ou são aliados do poder, ou se chamam, como antes, Nomenklatura, pois os velhos hábitos Imperialistas são bons de se manter.
Como a rédea curta.
Aquela da aparência: em se dizer algo e fazer justo o contrário.
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