O Processo Democrático nunca se viu tão carregado no Demo, e o Crático em Crítico. Este fim de 2015 colocou à prova a negação, a aceitação e a total incompreensão.
António Costa fez do Partido Socialista algo que nunca foi, ou pelo menos algo que não previamente declarado. Assumam-se os enredos e ‘enredos’.
Celebre-se… ou não.
Eu escrevi, ao longo do processo, três crónicas: Culebrón, Culebra e Contorcida.
Aqui estão, como reflexo do que há-de-vir.

Culebrón
(texto escrito a 3 de Outubro de 2015)

A campanha política 2015 encerrou oficialmente ontem.
Finalmente, direi.
Escrevi muito, ponderei ainda mais, e se conclusão houvesse, tal como diz o título da crónica de hoje, seria isso mesmo, um culebrón.

Culebrón é a palavra que se usa na América Latina para se designar uma Telenovela. A sua etimologia é simples. Vem da palavra homónima, do ser mitológico, uma enorme serpente que ataca os desprotegidos durante a noite.
Claro que esta ideia se aplica às novelas, largas e intermináveis, com tramas que nos atacam pela sua narrativa estapafúrdia.
Claro que na mitologia o herói mata a serpente e fica rico, um pouco como em todas as telenovelas.

Vamos então ao penúltimo capitulo desta telenovela das eleições Portuguesas.
Vou fazer um previsionismo a título pessoal, delirante talvez, mas baseado nos facto que me surgem tal como sinais de fumo.
Evidente que dou o contraditório da ocorrência, já que sou um (des)equilibrado de primeira.

Vamos assistir “Sospechas”, a versão Sul-americana deste País à beira mar plantado.

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As sondagens são uma efeméride de efeito. Servem para o ardil da tentação daquilo que se passa na máquina do aparelho.
Se no Rato a coisa estremece com o pensamento da doce vitória do que se passa na Lapa, a verdade é que o caminho da inequívoca vitória assenta agora na improvável coligação das Esquerdas desdizentes.

Naquilo que são 6% de distanciamento que dão a representação minoritária ao Governo PàF para estar de novo no Hemiciclo, o Bloco vai surpreender tudo e todos quando trair o seu eleitorado de Esquerda e se aliar ao Partido de Costa e se unir para derrubar a Direita do Passista Passos.
Pode o duo ter apelado à cruz de Cristo, mas a demanda de poder, sangue e suor por parte dessa actriz feita política da doce palavra de intervenção, subiu à cabeça do partido que agora rivaliza com o Comunismo Conservador.

Se antes havia um Primeiro seguido de um Vice, o cargo duplica a função, desta feita com um Primeiro e uma Segunda, equilibrando a balança de géneros e melhorando a balança frente a uma Europa preocupada com o estereotipo.
Para as Finanças irá a pupila da loiça que se quebra para limpar os pratos, onde a água se poupa na casa dos que se ocupa.
Já a Assembleia passará a ser de um Povo que de Povo terá apenas as penas de um pavão dogmático e populista.

O Partido Socialista proporá para a Economia um Galamba de brinco, e fará junto das Finanças o novo milagre das rosas, onde o pão se chamará blini e terá caviar de importação Russa como conduto, terminando por fim o embargo da Grande potência, agora, nosso aliada de guerra.

Rebaptizaremos o espumante local como Champagne, pois a França é mais Portuguesa que Francesa, e iniciaremos o Programa Mais Portugal, fazendo do Mundo Pátria da Nação, uma só língua, uma só palavra, uma condição: riqueza de empréstimo LIVRE.

Livre é a nova palavra de ordem. A Justiça mais não existe. O Direito fica torto, e aquilo que era a direita vira Esquerda.
Se és destro, agora és canhoto.
A imposição vira a nova anarquia.

Portugal sucumbe.
Suspeitas de quem? Suspeitas mal dele… Suspeitas bem!

A realidade é outra.
As sondagens servem para o que servem, e a vida não é uma telenovela. Nem o culebrón mitológico aqui nos salva, mas perante um distanciamento aparente tão grande entre Coligação e PS, o que se passará, dentro de um Partido que por fora se mostra forte mas interiormente está num caos de gestão, será a imediata demissão do seu líder.
António Costa afastar-se-à de funções, permitindo que um Governo minoritário assuma funções, onde teremos uma legislatura de acordos parlamentares.

A Esquerda voltará ao Hemiciclo reforçada, quem sabe estabilizando um pouco daquilo que as pessoas têm como percepção das ditas injustiças Sociais.
O palavrão neo-liberal servirá de argumento, mas será um contra-senso uma vez que as responsabilidades passam a ser divididas.

Eu volto à minha conclusão Histórica sobre Portugal. Ele não é anarquista, nem muito menos Comunista, ou sequer Socialista – como muitas vezes digo, por ter sido essa a sua “primeira” escolha democrática. Portugal é Conservador, e tem uma inerente crença em algo superior. Seja lá o que for. A nossa Fé é o desenrrascanço. E pode vir quem venha, como quiser, impor outra forma, que há sempre uma pá para dar lhes dar um PAF…

Culebra
(texto escrito a 7 de Novembro de 2015)

Se antes foi o culebrón, agora é a culebra.
O acordo, ainda que não formalmente apresentado, está já assinado.
É só saber ver o rosto do futuro Primeiro Ministro ilegítimo, embora legal, a sair, redondo, das suas últimas reuniões com os líderes que vão participar desta União sanada das Esquerdas Portuguesas.

Isso e as notícias de fumo branco à última da hora antes do mesmo ir dar a sua entrevista em sobreposição com o protesto na Mealhada

Para quem não sabe, uma culebra, além de ser uma cobra, é um tipo de charuto. Um não, três charutos disformes, tal qual três cobras entrelaçadas.

É um artigo oportunista, feito da folha de tabaco picada, que os proprietários das manufacturas, para que os seus trabalhadores não roubassem a produção diária, ao levarem o que tinham por direito, não vendessem os charutos de alta qualidade em mercado paralelo, fossem sujeitos a ser identificados como tal: operários.

Claro que a Revolução Cubana acabou num estado igualitário e os operários já não levam culebras para casa. Elas hoje vendem-se como artigos de curiosidade, de um tempo em que os operários eram operários e não cidadãos de plenos direitos.

Ainda bem que hoje a democracia existe, e que o voto individual, numa escolha livre é o pêndulo dos Países que servem de exemplo ao modelo que queremos ver replicado por este neo-Socialismo Costista.

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Dito isto, e regressando, momentaneamente à memoria do meu culebrón pré-eleições, a 3 de Agosto de 2015, penso mesmo que a palavra neo-liberal pode, e deve, ser banida dos nossos dicionários. Liberdade é o que se respira. Somos livres.

Cito:

“Livre é a nova palavra de ordem. A Justiça mais não existe. O Direito fica torto, e aquilo que era a direita vira Esquerda.
Se és destro, agora és canhoto.
A imposição vira a nova anarquia.

Portugal sucumbe.
Suspeitas de quem? Suspeitas mal dele… Suspeitas bem!”

A verdade é que o suspeito, ou suspeitos do costume, pensam ter um triunfante triunfo nas mãos, mas pode ser um triunfante triunfalismo.

É que no meio de tal culebra, de cobras entrelaçadas, esquecem-se que, na legalidade da sua União, há uma ilegitimidade que ocorre, e que, tal como fui deixando em aberto, cabe ao Presidente desta República enclausurada, dar posse aos que querem fazer pose.

Dão eles condições de que esta maquinada maquinação maquilhada nos sirva para a dita prosperança e prosperidade imaculada? Durará isto os quatro anos da legislatura?Ou é mero ardil de uma culebra, de folha picada, que um grupo de operários tenta vender no mercado paralelo?

100 empresários da nossa Praça já começaram a sentir a mudança dos ventos e a dar avisos do que pode daí vir, assim como os avisos, seriamente sérios, que será a nossa requalificação por parte da DBRS, a única agência de rating que nos mantém no verde, por forma a que o BCE nos compre dívida e Portugal mantenha a sua balança fiscal equilibrada.

Descendo esse nível, o acesso a dinheiro torna-se legalmente impossível.
Mas como nesta fase, embora o acordo já esteja assinado, tudo continua a ser um grande culebrón, eu vou buscar inspiração às telenovelas do antigamente.

Sassaricando saio de fininho e digo: “A cobra está fumando, a cobra está fumando…”
Porque as donas de casa estão desesperadas pelo próximo capítulo.

Contorcida
(texto escrito a 23 de Novembro de 2015)

O expectável final conclusivo do que será o destronamento da Monarquia oligárquica que a culebra assume ser uma assumida Coligação terá posse esta semana.
O novo Estado Novo, desta feita de um PREC sem revolução em curso, mas sufragado na união daquilo que antes não fora avisado, completa-se por desígnio de calendário.

Contorcida realidade esta. É a que temos, nem mais, nem menos.
Aceite-se o desfecho, pois depois dele, um início se seguirá.

Se surpresas não surgirem, nem se for dar cavaco a quem pede pressa de posse, a pose está feita. O capitulo final desta novela encerrou-se. Que comece a próxima.

Voltemos a 1977, ainda a Liberdade conquistada dava os seus primeiros passos de maturidade. Uma infância, quando, vinda desse tropicalismo sensual que era o Império Brasileiro, nos chega ‘Gabriela, Cravo e Canela’.
Gabriela trata da história dessa escrava comprada por um sírio, Seu Nacib, que se iria por ela apaixonar e mudar os destinos de toda a remota povoação de Ilhéus, ao mesmo tempo que se vê o fim da época dos Coronéis do Cacau aquando da abertura dos grandes portos para a globalização da exportação.
A personagem de Sônia Braga, Gabriela, personifica as transformações de uma sociedade patriarcal, arcaica e autoritária, afectada pelo chegar da renovação cultural, política e económica que o Mundo assistia na década de 1920.

Era o perfeito espelho do que o Portugal de então, saído de 40 anos de Ditadura, aspirava ser.
E foi. O país abriu-se à Europa, ao Mundo, a uma realidade externa de esperança.
Todos se tornaram doutores e conduziam mercedes. Os imigrantes de torna viagem povoaram a paisagem de modo peculiar, recordando os tempos difíceis que se passou numa jovem Democracia sem Ensino, mas educação de sobra.
Tudo funcionou enquanto o contorcionismo de uma Comunidade Económica Europeia permitiu, e o populismo demagógico político assim nos fez crer.

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Quase trinta anos depois de um cravo e canela de esperança, a crise económica afectava o Mundo de forma geral. Ainda assim a 13 de Outubro de 2006 o então Ministro da Economia, Socialista, Manuel Pinho anunciava que “A crise acabou”.

Nem de longe havia começado, e só 5 anos depois, em Portugal, se veria o resultado do que um plano de investimento no consumo interno e não nas exportações traria para um País cuja economia vive dependente do BCE: Troika.

Agora que a novela de enredo se finalizou, e “A austeridade chegou ao fim”, quase 40 anos após o sucesso de Gabriela, este reality show, a nossa novela da vida real, que agora se inicia deveria se chamar de ‘Costa, foice e martelo’, pois se na anterior se vivia esse chegar de uma revolução em que a Globalização era a premissa, agora voltamos a fechar-nos: consumo interno, menos exportação e claro, dependência desse nosso, sempre, garante para o que há de chegar, BCE.

Contorcida realidade esta.

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