2016 foi um ano horribilis.
Não o digo porque grandes vultos da música, cultura e artes em geral – acabo de receber a notícia de que Carrie ‘Princesa Leia’ Fisher nos deixou – partiram da planimetria física para a memória dessa juventude eterna. Digo-o porque foi um ano em que um enredo noveleiro que em Outubro de 2015 delineei teve agora a sua sumula terrena no que toca à política portuguesa.
Não, não falo de morte por muito anunciada de Mário Soares, nem da vergonhosa cobertura a cada meia hora sobre o seu estado de saúde que brinda os telejornais constantes do cabo.
Falo da feira de gado que Santos Silva brindou como sendo a Concertação Social e o seu saber negociar com a mesma.
Bem vistas as coisas, se no passado nomeei o enredo da Geringonça de ‘Sospechas’, agora não há forma de não chama-lo de ‘son cosas del Amor’.
Para quem não conhece o êxito musical de Vikki Carr em dueto com Ana Gabriel, faço o resumo do que é a actual situação constrangedora de tudo isto.
Ana é a mulher traída, Vikki a mulher com a qual o seu marido a trai. Uma confessa à outra o feito, sempre na omissão crítica do facto, corações feridos, o Homem que parte, que a mulher não sabe aguentar. É uma dor de corno no feminino com um toque tão machista latino-americano que faz doer a alma de confrangedor.
Ela não sabe o que está a acontecer, será que encontrou outra mulher? Óbvio, mas há que lutar, fazer por tudo, pois a culpa é toda tua!
(o video clipe é um must do final/início dos anos ’80/1990, com óculos escuros para um eclipse de traição)
Relatado o romance de traição, porquê citá-lo? Bem, este episódio de Augusto Santos Silva, que poderia bem ser o actual PSD de Passos Coelho ou qualquer outro desnorte político de Esquerdas cujos acordos já se esfumaram, em tudo faz lembrar o momento em que Manuel Pinho, Ministro da Economia em 2009, fez os famosos corninhos a Bernardino Soares da bancada do PCP.
Nesse instante, tal qual Mulher traída, o mesmo Augusto que agora faz da Concertação a sua feira de gado, chama-o para lhe pedir que se demita. Pinho, o ‘Pino’ de Chavez, fa-lo em total gracejo de humilhação.
Maior culebrón não houve.
Quer-se dizer houve, há, quando o segundo mais importante Ministro na cadeia hierárquica do Governo insulta os seus parceiros Sociais comparando-os com as negociatas das ganadarias.
Consequências é que são nulas, pois se na música Santos Silva é a mulher com a qual o marido trai, certamente a outra mulher aqui é António Costa, cuja sobrevivência depende em ser o corno que a cada dia chega a casa para se olhar no espelho e dizer: “São coisas do Amor”
Republicou isto em O LADO ESCURO DA LUA.
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