Acabei de chegar do velório de Soares e surpreenderam-me três factos.
#1 Todos irem para a mesma fila de espera – sendo que eu e o meu Pai nos cruzamos com notáveis como Pedro Passos Coelho, o Presidente Jorge Sampaio e a sua mulher Maria José Ritta, Maria Antónia Palla, entre outros.
#2 A maledicência ser geral, entre críticas acerca dos notáveis presentes e até do defunto sobre esse ponto de vista político sem causídico ou até consequência retórica – cheguei a ouvir dizer sobre o ex-primeiro Ministro Passos Coelho “estou na mesma fila que aquele filho da ‘sua mãe’!”.
#3 E a pergunta que me fazia num constante, exteriorizado, sobre se se pode ser amigo de um político – tudo isto após uma senhora vir perguntando, de bandeira Socialista alçada, se eramos nós também Socialistas?
Factos concretos à parte, vou responder de forma pragmática – sendo que eu mantenho um site com crónicas jucosas acerca de políticos – à resposta que concerne este texto. Sim, claro que se pode ter um amigo que é político.
Noutro género de ficção, não sei se se pode ser amigo de um político. A transigência é completamente diferente e aqui há um separar de águas tão grande e perigoso quanto Moisés faria para proteger os seus de uma horda que o persegue.
Vejamos, eu sistematicamente critico diversos políticos nos meus escritos, sendo que há alguns que até conheço na vida real do dia-a-dia e que em nada têm que ver com o desempenho mediocre que têm ou tiveram enquanto desempenharam as suas funções.
O caso mais notório que consigo citar neste dia será mesmo o filho de Soares, João, para quem até criei uma síndrome ao traduzir em crónica todo o caso das bofetadas e de como foi sobejamente aproveitado pelo Primeiro Ministro António Costa.
Assim explicado, as famílias são amigas e ainda à pouco lhe apertei a mão.
Político amigo, mas nunca amigo do político.
Evidente que há políticos que fazem disso uma vida e nunca sabem qual o seu papel, misturando a sua personagem naquilo que é o fraco ser que por trás se esconde.
João Galamba é, para mim até ao momento, o único político Português que transgrediu essa postura, facto que deixei claro num texto que escrevi faz meses. Não significa que não possa ter respeito pelo político, mas pela pessoa em si é facto comprovado que não e nem precisei conhecê-lo para tal. Há acções que falam mais alto que qualquer dialéctica de engodo ou paleio eleitoral.
E aqui entro justo nessa maledicência que assisti enquanto esperei, como igual que sou, entre anônimos, famosos e alguns wannabees, para prestar os respeitos à Família Soares.
O discernimento público/privado que as pessoas fazem dos seus políticos transformou-se num perigoso cocktail cor-de-rosa de uma velha revista do Social que se lê num consultório de dentista. São críticas acríticas feitas sobre actualidades passadas com um rancor de anos sem nada mais que o compromisso do bota-abaixo onde o relevo fundamental para a pertença, como comprovei, seria fazer parte do clube dos iguais. Ali era responder à senhora presente que se era Socialista e estava tudo certo.
Um não seria motivo de desdenho e olhar de soslaio questionando-se o porquê da presença, já que os políticos não têm amigos!
Afinal até têm, mas não quando se creem políticos, apenas quando sabem que o estão a ser.