No ano passado, desafiado pelo meu amigo José Manuel Faria, enquanto ele elaborava um trabalho na Licenciatura em Educação Social, ajudei-o a aprofundar a pesquisa sobre a temática do racismo e a revisitação de um conceito.
Foram semanas de diferentes conversas, trocas de argumentação, mas sobretudo uma linha fundamental de pensamento que em seguida estruturamos, de forma simples, que alicerçou um texto de opinião que muito diz sobre aquilo que escrevo e crio numa base diária.

Espero que a publicação deste texto – já algumas vezes, em excertos, publicado – possa esclarecer as dúvidas levantadas acerca da minha anterior publicação mencionando um ataque racista.

‘Racismo, Revisitar um Conceito’, é de si uma interessante ideia, pois poderemos partir do princípio do desmontar da ideia de preconceito.

Racismo é um preconceito. Algo que, mesmo sem explicação plausível, nos faz sentir diferente do outro, e nesse sentido, querer a evasão física e próxima daquele que não consideramos ser nosso igual.

Mas afinal o que é um conceito? E um preconceito?
Um conceito é uma ideia que se transmite. Uma ideia. Uma imagem, uma palavra, um pensamento ou ideia.

Por sua vez, um preconceito, na sua analogia falaciosa será um pré-conceito. Algo que virá antes do conceito, antes da imagem, da palavra, do pensamento, da ideia.
Não é. Um preconceito é a subversão pervertida dessa ideia de conceito.
É dar-lhe um novo significado, diferente daquele que tem, criando nele a diferença que permite com que seja preconceito.
Que faz com que algo que, ao ser evidentemente igual na sua Natureza, não o seja ao olhar de alguém que nele não reconhece esse elo Natural.

Conceber o preconceito é desmontar o conceito do princípio da igualdade entre seres que, apesar de se assumirem enquanto iguais, são muito diferentes entre si.

É a regra do jogo. Do preconceito, preconcebido.

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Ir à Raiz, a Raça.

Racismo refere-se à Raça. À segregação que o Ser Humano, na sua deturpação linguistica e apropriação das palavras, distingue entre aquilo que considera ser a sua Raça, e a outra Raça.

Mas afinal o que é a ‘Raça’, a sua definição e conceito?

“Raça é um conceito para categorizar diferentes populações de uma mesma espécie biológica desde suas características físicas; é comum falar-se das raças de cães ou de outros animais.

Na antropologia, eram utilizadas várias classificações de grupos humanos, conhecidos como “raças humanas”, mas desde que começou-se a usar os métodos genéticos para estudar populações humanas, essas classificações e o próprio conceito de raças humanas deixaram de ser utilizados, persistindo o uso do termo apenas na política.

Raça humana  é normalmente uma classificação de ordem social, onde a cor da pele e origem social ganham sentidos, valores e significados distintos. As diferenças mais comuns referem-se à cor de pele, tipo de cabelo, conformação facial e cranial, ancestralidade e, em algumas culturas, genética.
Algumas vezes utiliza-se o termo raça para identificar um grupo cultural ou étnico-lingüístico, sem quaisquer relações com um padrão biológico, e nesses casos pode-se utilizar termos como população, etnia, ou mesmo cultura.

O termo “raça” ainda é aceito normalmente para designar as variedades de animais domésticos e animais de criação como o gado.”

Ou seja, podemos assumir que o próprio conceito de Raça, no sentido de nos distinguir de outro, que na sua génese, é de si, igual a nós, é um preconceito, perversão de um conceito.

Se pensarmos na História de Portugal, o dia de Portugal, 10 de Junho, era chamado dia da Raça, e nas colónias faziam-se celebrações que, vistas aos olhos contemporâneos, são vistas como completamente preconceituosas.
Desde denegrir a imagem do que um nativo, o colono, era, até demonstra-lo com um Ser inferior ao Ser que o tinha conquistado, tudo era feito para mostrar a supremacia da Raça conquistadora.
Era Racismo puro e simples, sem mais não.

Mas compreender o Racismo é compreender a sua escrita, o seu ensaio, a sua origem enquanto pensamento concreto.
Se alguém pode receber o bastião de ser considerado o Pai da ideia de Raça, e por sua vez de Racismo, no pensamento contemporâneo, essa pessoa será Joseph Arthur de Gobineau.
O falso aristocrata Francês que chegou a Embaixador da Nação do jargão ‘Liberté, Igaliteé et Fraternité’ escreveu aquele que é a base dos ensaios Racistas a ser consultado até aos dias de hoje.

O seu ‘Essai sur l’inegalité des Races Humaines‘ (Ensaio sobre as desigualdades da Raça Humana) escrito em 1853 e editado oficialmente em 1855, veio criar o mito eugénico da Raça Ariana.
No seu ensaio, Gobineau defendia as diferentes raças, Branca, Negra e Amarela, e de que a Branca, a sua, seria superior.

Os seus estudos tiveram maior impacto e relevância quando foi Embaixador de França no Rio de Janeiro em 1869 (sua segunda missão ao País), e mesmo sendo amigo pessoal do Imperador D. Pedro II, nunca escondeu a sua animosidade relativa à mestiçagem do povo Brasileiro.

A sua descrição do mestiço, o mulato Brasileiro, corresponde à verdade do Racismo intrínseco no Ser Humano.
Dele se diz que disse que um mulato despreza a Mãe que é negra, e tem ódio do Pai branco.
É um Ser sem identidade, dividido na repulsa pela origem, Racismo puro na sua existência.

Oficialmente, sobre o conceito (e preconceito) da Raça, disse que ‘Não creio que viemos do macaco, mas creio que vamos nesse sentido.’

Evidente que a palavra não é lei, e o pensamento não deve, nem pode, ser levado com toda a sua certeza e seriedade. Ainda assim, as teorias eugénias de Gobineau fizeram impacto na Europa e são a base do pensamento Ariano Nazi que permitiu a criação dos Campos de Concentração.

De qualquer das formas, e porque na existência do preconceito, novos conceito, quem sabe até com o intuito de sátira, surgiu outro ensaio contemporâneo de Gobineau, e em 1885 (três anos após a morte de Gobineau) Antenor Firmin, um Haiti-Africano, publicou em Paris o ensaio ‘L’Egalite des Races Humaines‘ (A igualdade das Raças Humanas), onde, em tom de paródia, mas com a seriedade de um trabalho de 650 páginas, mostrava a miscigenação das Raças, e de como Raça somos todos nós, e obviamente, prevalecendo a Raça Negra como a origem do Homem.

A questão relativa ao Preconceito, ao Conceito, à Raça, ao Racismo, tem agora, neste período actual, um maior impacto derivado das questões implícitas ao atentado em Paris ao jornal satírico ‘Charlie Hebdo’.
Não só ao jornal, mas ao Supermercado Judeu Casher.

A questão da discriminação da Raça, no seu ponto de vista Religioso, é também um preconceito.
Quase todos assumimos ‘Ser Charlie’, uma onde de protesto em nome de algo que nos seria comum: Liberdade de Expressão.
Mas seria a Liberdade de Expressão aquilo que a Imprensa do Charlie Hebdo estava a defender, ou era mesmo a sua Liberdade pessoal. A de Imprensa?

Foi a perversão de um Conceito, feito Preconceito. Da mesma forma que uma caricatura brinca com isso mesmo. Com o conceito de algo que é feito preconceito.
Mas neste jogo de palavras, indo à raiz de tudo, não estaremos a imolar a Liberdade?

Imolar a Liberdade

Eu defendo que na Vida nem tudo é Política, Religião, Economia, Sociedade. Ou pelo menos não um de cada vez como se gosta de fazer passar, ou pelo menos compartimentalizar. A vida é, sempre, um misto de tudo. E não se pense que resolvendo um dos aspectos, os outros são resolvidos.

Quando o mote ‘Je suis Charlie’ incendiou as redes sociais, numa onde de apoio, eu não aderi. Não que fosse contra, não sou, e até compreendo. Mas porque – e já o escrevi antes; porque ali a Liberdade não era a de Expressão, mas a de Imprensa.
Eu também ‘faço’ parte da Imprensa e sei o que digo, como digo, e as implicações daquilo que digo e como digo, redundâncias à parte.

Agora, com o Syriza, uma extrema política de esquerda com fortes possibilidades de vencer na Grécia, podendo mudar os destinos políticos Europeus – a Democracia, essa senhora idosa é Grega; está tudo assustado, e lembrando o que o extremismo produz, traz-se à memória recente, a lembrança de Hitler, de Auschwitz, dos Campos de Concentração. Do Nacional Socialismo. Da extrema oposta à esquerda do Syriza, mas que a ser extrema, será perigosa.

A graça, se graça houver – e acho que há, pois na vida a graça dela é aprender com os nossos erros, da Humanidade; é que ninguém, olhando para os atentados de Paris, à Liberdade de Expressão, se lembrou de lembrar da Santa Inquisição.
Daquele período ‘negro’ da História da Religião Católica em que, em defesa da Honra de uma Fé, em vingança de um Profeta, da sua palavras, na Cristianização dos infiéis, também ‘nós’ matamos em seu nome. E para quê? Para darmos um lugar no ‘nosso’ céu. No ‘nosso’ paraíso. Para que enfrentassem o ‘nosso’ Deus.
Para saberem que a ‘nossa’ Liberdade de Expressão era melhor que a deles.

Foi um erro tremendo. Mas um erro que foi preciso a Humanidade cometer.
E não me venham os moralistas dizer o contrário, pois não cometer erros, mesmo erros destes, desta escala, são necessários, para que se aprenda com eles, se retire ilações, e para que, em memória futura, se aprenda a não repetir.

Eu não quero repetir uma Santa Inquisição, seja lá qual for a Religião que esteja por trás da Inquisição, seja ela Santa ou não.
Da mesma forma não quero repetir o extremo de um Holocausto.
Seja ela Syriza, Aurora Dourada, Podemos ou Frente Nacional.

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