A questão do Racismo é algo que sempre me deixou meio estarrecido.
Não que tenha crescido numa Sociedade plural, no sentido multicultural do multicolorido, mas o facto da minha Mãe ser educadora do Ensino Especial e eu ter estado a minha vida toda em contacto com o dito ‘diferente’, deu-me uma abordagem mais abrangente sobre o conceito do Racismo Racial.
Nesse sentido, só já mais tarde, compreendi aquilo que vim a designar de ‘Pantone’.

Para quem não sabe o que é um ‘Pantone’, e ao contrário do que muitos pensam, trata-se na verdade de uma empresa Norte Americana. Fundada em 1962 em New Jersey, Estados Unidos, a Pantone Inc. tornou-se famosa pela ‘Escala de Cores Pantone’ (Pantone Matching System ou PMS), um sistema de cor utilizado numa variedade de indústrias, especialmente a indústria gráfica, têxtil, de tintas e plásticos.
Assim sendo, convencionalmente, no mundo das Artes, falar o termo ‘Pantone’ é referir uma Escala de Cores.

Voltando à questão da Raça, e à necessidade Humana de dividir os aspectos Humanos em contentores separados, vulgarizou-se atribuir colorações, pigmentos de pele: raças; a diferentes Seres Humanos. Somos todos a mesma Espécie, mas de Raças diferentes. Assim, quase num sentido Racista, sem a analogia Racista, digo que temos diferentes ‘Pantones’.

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De forma brejeira eu pertenço ao ‘Pantone’ Branco, e um Africano ao ‘Pantone’ Negro, ou algo similar.
A graça do ‘Pantone’ é permitir justo a escala cromática e referir, de forma encapotada, que indivíduo tal é um ‘Pantone’ acima ou abaixo da tonalidade tal e, neste jogo das cores, tudo passa sem nada se passar.

Mas adiante. A História Portuguesa é feita da inteligente apropriação do uso do ‘Pantone’.
A Expansão do Reino em Império, com um tão limitado número de súbditos para povoar uma tão grande extensão de território ultramarino, requereu que a diluição do ‘Pantone’ fosse a realidade a ser adoptada.
Os Portugueses misturaram o seu tradicional ‘Pantone’ de tonalidade Branca com as diferentes cores de outros ‘Pantones’ genéricos, e novas tonalidades surgiram.
Nesse momento surgiu uma nova vertente de Racismo. O Racismo Rácico.
Aquele Racismo sobre o Racismo existente. Sobre a própria Raça.
Ou como já antes o disse num acto de ‘Masturbação Racial’, Gobineau referiu que o ‘Pantone’ Mulato sente ódio pelo Pai de ‘Pantone’ Branco e desprezo pela Mãe de ‘Pantone’ Negro.

Isto tudo me traz até África, a Mãe dos ‘Pantones’ mais condensados, das cores âmbares e escuras, a Raiz da Génese Humana, o primórdio da Humanidade. O primata Lucy.

A presença na Costa Ocidental Africana por parte dos Portugueses remete-nos, evidentemente, para Angola e para a chegada em 1483 de Diogo Cão à Foz do Rio Zaire.
O interessante sobre a questão Racial, ou do preconceito do Racismo, que tanto impera na Angola actual, foi a forma como o Manicongo Nzinga, o Rei local, chefe de uma Sociedade bastante bem organizada, recebeu e aceitou aqueles seres, os Portugueses, de diferente ‘Pantone’.
Tanto ou tão pouco que, em 1491, já com a Aliança entre uma recém afirmada Angola e um conquistador Portugal, o Manicongo muda o seu nome e o dos familiares para as versões monárquicas Europeias.
De Nzinga passa a ser chamado de D. João, baptizado Católico, por livre e espontânea vontade. De Racismo, nem ‘Pantone’ nem Raça, muito menos preconceito.

Evidente que nos dias de hoje o preconceito enraizado é outro, e a questão, fulminante, do ‘Pantone’, é assustadora.
Parece que a predominância da retórica da diluição é fundamental no entendimento da aceitação do principio inverso do Racismo ‘per se’.
Ou seja, numa escala de cores: quanto mais pura é a cor do ‘Pantone’, entenda-se concentrada; maior é a questão do preconceito Racial: o Racismo implícito.
Por outro lado, quanto mais diluído é o ‘Pantone’: entenda-se maior grau de ‘miscigenação’ da cor; menor é a questão do preconceito Racial: o Racismo real.

Indo mais ao ponto da retórica anunciada. Se colocarmos nomenclatura às cores deste ‘Pantone’ Africano, designando o Racismo Rácico, esse seria a UNITA, União Nacional para a Independência Total de Angola, enquanto o inverso seria a MPLA, o Movimento Popular de Libertação de Angola.

Independente dos desígnios contemporâneos de um Presidente aflito com a crise gerada pela queda petrolífera e fuga de capitais assessorados pelo antigo Novo, assim como uma filha que faz do Reino Africano a capital do Antigo Império Português, a verdade é que o tráfico ‘legal’ de escravos Africanos durante séculos foi perpetuada pelos próprios, pois era o Racismo interno tribal que fazia a venda dos mais fracos ao melhor preço aos Comerciantes Lusos.

É que na luta Rácica do Racismo da imposição, o que vale, e sempre valeu, foi o poder do ‘Pantone’.

Nota:
Pinturas Clássicas recriadas pelo artista Britânico Nick Smith utilizando as ‘chapas’ de ‘Pantone’ com as referências de cores.

‘Rapariga com Brinco de Pérola’ | Johannes Vermeer
‘Mona Lisa’ | Leonardo Da Vinci
Auto Retrato | Vincent Van Gogh

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