Falta uma semana para o referendo que fará a Europa seguir o seu rumo rumo à estável instabilidade ou entrar em instabilidade estável.
Se a frase anterior parece algo retirado de um livro de auto-ajuda ao melhor estilo do non-sense que invade a miúde jornais, publicações e peças televisionadas nas 24 horas que o dia tem, é porque a mesma contem essa lógica filibusteira que o Brexit do Reino Unido ganhou com o pânico gerado numa União Europeia desunida e desavinda em meio de uma crise maior que o mercado de capitais faz nesse advento economicista.
Sobre a lógica electrizante que alicerça este compêndio informativo que se tornou o Brexit, ou na verdade a cada vez mais provável (será?) saída do Reino Unido da União Europeia, penso ter escrito algo que explica o ciclo ciclotímico que nos faz tão apegados à constante torrente imparável de informação que nos chega.
Se por um lado vivemos num mundo maior do que alguma vez foi – no sentido lato da sua percepção mais abrangente – por outro concentramo-nos na cifra de uma opinião lateralizada que nos convém.
Do Gestalt para o Maguffin, por assim dizer.
Mas é justo aqui que entra esse terceiro conceito tão Britânico, tão limado e apurado, tão plagiado mas nunca capaz de ser totalmente imitado.
O Brexit transformou-se num palanque filibusteiro. Já antes o escrevi e agora justifico.
O termo inglês filibuster encontra as suas raízes etimológicas em 1580 na palavra Holandesa vrijbueter, freebooter, utilizada para designar os piratas nas Índias Ocidentais das Caraíbas.
A palavra que designava todo o tipo de piratas na região acabou por ser adaptada às línguas faladas na região. Em Castelhano tornou-se filibustero, em Francês flibustier, e em Inglês filibuster, onde acabou por perder a sua conotação de pirata e ganhando o estatuto actual: obstrucionista.
Mas há que se fazer um parêntesis.
O obstrucionismo inerente ao filibuster não significa que o mesmo dará o voto em favor ou contra. Ele existe como forma de angariar o que lhe seja mais proveitoso.
O filibusteiro é alguém especialista em Maguffins com uma plena consciência Gestalt.
Voltando ao livro de auto-ajuda:
Todo o discurso em torno do possível Brexit constrói-se sempre neste ideal obstrucionista.
O Reino Unido tem jogado com o rumo ao rumo que a Europa sustenta. Não é a saída ou permanência do Reino Unido que fará a solução a longo prazo da União Europeia.
A crise monetária aos soluços, entre bancos presos em derivativos e papel moeda inexistente para pagar dividas renegociadas ao infinito hipotético, ao sustento demográfico de países onde a crise laboral se faz pela lógica da produção mais barata ao número de horas produzidas, uma Europa de 28 a funcionar a diferentes velocidades apenas se pode cingir ao desconcertante descontentamento de desviar as atenções para a próxima crise que surgirá no ciclo noticioso.
A minha aposta é que mais depressa o Reino Unido sai do Euro’2016 do que da União.
Mas posso ser eu o filibusteiro aqui, porque de futebol, garanto, não percebo gestalt nenhum…
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