Era quase uma inevitabilidade a assumpção de que a Democracia iria funcionar como funciona num país com os ditos (mentidos) 900 anos de História: Marcelo, o Comentador da Democracia Portuguesa, venceu sem grande concorrência directa as eleições à Presidência da República em apuros.
Mas se o inegável facto se faz história do que óbvio parece, aquilo que os analistas dizem ser uma imparcialidade total por parte de quem passou grande parte da sua vida (para não dizer toda) a deambular entre factos e factóides, político-sociais, sobre a queda e ascensão dos amigos e tiranetes que fizeram o país, não é tão seguro assim. O novo Presidente não será uma espécie de protector do protectorado Lusitano sem interesses ou ambições pessoais.
Pelo contrário. Marcelo será o seu próprio one-man-show, tal como ficou patente na sua candidatura solitária sem máquinas ou acessórios.
Defenderá aquilo que lhe pareça melhor, para ele, não para o Portugal dos portugueses. Antes para o seu Portugal determinado nesse primeiro discurso singular e angular para o gosto de um martírio anunciado a qualquer frente.
Os sinais da transição estão todos lá.
Se na primeira narrativa se afasta do seu percurso de comentador/comentarista/jornalista para ir de encontro com a carreira de Aluno e Professor Académico nos últimos 50 anos, as alusões a um discurso Estado Novista em fase de transição são patentes na frase “É o Povo quem mais ordena“, piscando os olhos à Esquerda de Abril e à Direita que dela se livrou.
Adiante, construindo a fábula lendária do virar da página, na homenagem necessária ao Governo vigente, elenca os pontos em que o seu mandato irá incidir: crescimento económico sustentado, justiça social, combate à exclusão, pobreza e desigualdade, moralização da vida pública e o fim da corrupção.
Discursou numa base política de quem se imporá como um farol vigente do seu agrado pessoal.
Mesmo que sem maquilhagem ou a típica encenação semanal no recanto televisivo de uma Estação televisiva, a sua postura de ensaio, com a mão direita a narrar as frases que se impunham a eloquência da reverberação intuitiva, Marcelo, agora o Presidente Marcelo, transformou-se no César da Democracia Portuguesa.
António Costa bem pode se esforçar para que a sua geringonça não manque mais com o deslaçamento que se segue na Assembleia do Povo com um PCP ferido de morte nas Presidenciais, de um Bloco de ego estofado na crença dessa realidade, ou mesmo de que será o PAN a segurar tudo na permanência do PEV como motor de combustão.
Não, o poder já não está em São Bento. Está agora nessa Casa Rosada, ali pros lados de Belém onde o Cesarismo em versão Camões (de desacordo ortográfico em mãos) se irá instalar a breve trecho.
…
Por enquanto Cavaco permanece igual a si, vetando o que não deveria, e mostrando que, até ao último dia, ainda é o Presidente de Portugal.
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