Quando a 7 de Janeiro de 2015 ocorre o massacre do Charlie Hebdo, a Eurodeputada Ana Gomes publicou um dos seus mais controversos tweets.
Nele dizia,
#CharlieHebdo – Horreur! Aussi le résultat de politiques anti-européennes d’austerisme: chômage,xénophobie,injustice, extremisme,terrorisme”
ou seja, resumindo, que o responsável do terrorismo seria a austeridade das políticas anti-europeias.
Evidente que a razão, uma vez mais, não estava do seu lado, mas ainda assim, como sempre, tornou política uma causa Humana.
Hoje, dia 11 de Maio de 2015, aquilo que me estimula o pensamento, repegando no seu “austerismo”, é pensar nesta questão Humana da austeridade, e em como a política, esta que desde logo aponta o seu dedo para dizer que ela é a causa do terrorismo, nos quer reger num futuro próximo.
A austeridade, em si, não tem de ser, necessariamente, algo mau.
Sim, é definido como algo rígido e severo, algo que se impõe e delimita, mas também um pouco de contenção e auto-controle, sobretudo no que concerne às despesas pessoais e de outrem, tratando-se de um ente Estatal com responsabilidade de “Soberania”, não fazem mal a ninguém.
Ser-se austero, nos tempos de antigamente, quando o ‘fascismo’ não tinha nome próprio, era uma qualidade que a inexistente Esquerda via sempre com aquele olhar maçador dos que poupavam e não gastavam.
A imergência social das classes trabalhadoras, os oprimidos, desclassificados, e até mesmo dos sindicatos defensores, assenta justo nesta ideia: é pela imposição de austeridade nos pobres que os ricos enriquecem.
Ou talvez não.
E nisto, nesta ideia de que ‘aos que muito têm, mais ganham, e aqueles que menos podem, menos recebem’, surgiu a Liberdade Democrática em Portugal.
Salazar caiu da cadeira.
Marcello fez da primavera um tórrido verão, e os militares deram a Todos a Liberdade de escolha que se exigia.
Portugal livre e adulto votou e decidiu: “Somos Socialistas.”
O ideal Socialista é tudo menos austero.
Se pudesse fazer um anuncio idealista Socialista diria “gastar o dinheiro dos outros enquanto houver é bom”. E houve. E foi. Por bastante tempo.
De 1986 em diante, com a CEE, a Comunidade Económica Europeia, a União, o Euro, os amigos e os cartões de crédito, os empréstimos, as obras públicas, os cocktails, as festas e os eventos, até a factura final chegar, houve um gasto Socialista/Social(ista) Democrático que nos tornou o litoral Soarista, a península do Cavaquistão.
No final houve Sócrates. A filosofia demagoga da promessa política que se espera ver cumprida mas apenas é comprida na distância que ganha a partir do dia em que é proferida. Andámos na alternância previsível.
Em 2011 a ilusão acabou. A Troika regressou a um país sem soberania monetária. A austeridade instalou-se numa paisagem política de insatisfação e emergência Social.
Portugal livre e adulto votou e decidiu: “Somos Social Democratas.”
Ou talvez não.
Os últimos quatro anos foram de terrorismo fiscal, sendo que a austeridade aplicada ao causar sofrimento não é uma causa política mas sim Humana. Ainda assim as suas raízes são políticas, numa sedução eleitoral de escolha por quem nos promete mais e, ao cumprir, nos espalha ao comprido.
Previsível e provável.
Vivemos com muito menos porque se andou a gastar muito mais do que se tinha, e o investimento, lícito, não foi estruturado para uma remuneração sustentável.
O bom que foi, deixou de ser.
A lancinante questão a colocar, perante uma escolha ponderada a tomar, quando Portugal livre e adulto votar e decidir, é: quem nos trouxe a austeridade?
Porque essa, ao ser aplicada, é consequência do passado recente, não das políticas anti-Europeias de “austerismo”.
Pode ser, se for, “livramento” de alguns.
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