A Vida é feita de se ler contractos.
Mais do que se ler, porque na verdade poucos são os que os lêem, é feita de se aceitar contractos.
Quando nascemos, possivelmente o único contracto que não escolhemos assinar, fomos atirados para aquilo que se pode designar de ‘lotaria da Vida’. Nascemos onde a genética da escolha arbitrária, de dois pais que decidiram se juntar, teve sucesso, e assim, todo o resto das nossas vidas se rege por esse bilhete premiado da lotaria.
Mal termina essa sorte, entra em vigor o dito contracto.
Ninguém o lê ou nos diz nada dele. É empírico. Sensitivo. Aprende-se.
É aquele que diz: nasceste, vais viver, e como consequência dessa sorte, acabarás por morrer.
E sim, viver é uma sorte, ainda que muitos reclamem. Pelo menos a morte deve ser uma sorte, pois dessa parece que ninguém voltou para reclamar.
Mas voltando aos contractos. Esses, como dizia, estão em todos os lados. A toda a hora. Não se escrevem. Ou mesmo quando escritos, muitos de nós não os lê com a devida atenção.
O segundo contracto que se faz na vida chama-se escolha. A ele vem junta a clausula do ‘livre arbítrio’. E que bom é poder viver numa Sociedade que permita a existência dessa clausula, muitas vezes recusada por algumas Sociedades que acham por bem não deixar os seus ‘contratados’ acederem aos seus direitos.
Pois, mas como em todos os contractos, e esta parte é aquela que vem em letras pequenas, cansativas de se ler, não só se garantem direitos, há também as temíveis obrigações.
Na vida, já que se vive em Sociedade, além de termos direitos com clausula de livre arbítrio, temos também obrigações, entre as quais vem à cabeça o Respeito.
A lista de obrigações costuma ser muito maior e mais abrangente que os direitos, mas por vezes para se ter direito a algo, muito há que se cumprir.
É daquelas regras contratuais da vida.
Fora do contracto vem um apêndice chamado de emoções. São elas que regem muitas vezes as formas como se interpretam as regras e clausulas do contracto.
Por vezes determinadas emoções ofuscam a forma como devemos ler o contracto, e saber ver que aquilo que foi assinado, estipulado, é de lei.
Mas aqui entra de novo a clausula do livre arbítrio, e da capacidade em se reescrever o contracto, sabendo de ante-mão que existem consequências para os nossos actos. Lá está, a filigrana do texto jurídico.
Quando se reescreve algo previamente contratualizado corre-se o risco de colocar em causa a base de negociação e que o nosso livre arbítrio, no procedimento de vivência em Sociedade, vá em contra o dos outros.
A nossa acção pode desencadear uma reacção adversa, muitas deves sem um desfecho determinado, pois o contracto só estipula as bases, o preambulo, não a sua aplicação final.
Essa, a vida encarrega-se de aplicar.
Olhando para tanto contracto, tanta lei, tanto texto e forma simplista de ver a vida, penso.
Viver num sistema Democrático é também assinar um contracto.
Saber que estou a delegar plenos poderes em alguém para que governe a minha vida, e me simplifique as escolhas, e determine em parte a minha clausula de livre arbítrio.
Mas esse meu acto tem um efeito, e por vezes, quando o livre arbítrio das escolhas involuntárias daquele que elegi para me governar vai em contra aquilo que queria, desencadeia uma reacção nas minhas emoções.
Pretendo reescrever o contrato. Derrubo o poder que institui e voto naquele que, naquele momento, sacia as minhas urgentes vontades.
Olho de novo para o meu contracto, leio as linhas pequenas no sopé da página.
Será que estou a pensar, ou a deixar que outro alguém pense por mim?
É que a solução de rescrever o contracto, gerando uma reacção à minha acção, desencadeada pela perversão emocional, pode ter consequências adversas.
E adversidades que não posso controlar, acho que já me bastou a sorte da ‘lotaria da vida’.
Ponto final do pensamento sobre o tema, numa retrospectiva Humana daquilo que é a percepção do contracto que se assina, ou daquele que se quer assinar.
Lembrei-me deste anúncio Britânico à marca Russa de Vodka Smirnoff, de 1995, longe da crispação Europeia extremada, ou do corte de provisões ao fornecedor da bebida aos ocidentais.
‘We are, in fact, the People’s Army!’
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