“Já não há estrelas no céu, a dourar o meu caminho,
Por mais amigos que tenha, sinto-me sempre sozinho.”
Rui Veloso

1967: a Liga de Unidade e Acção Revolucionária (ou LUAR num acrónimo bonito que endeusa em si a visão de um céu nocturno), grupo terrorista português, é nomeado como responsável pelo assalto ao Banco de Portugal de 15 de Maio desse ano.

Roubaram da filial na Figueira da Foz algo como 30 mil contos, 9 milhões de euros ao dias de hoje, numa manobra política a lembrar o assalto ao navio Santa Maria anos antes.

A terrível PIDE recuperou o dinheiro, mas a LUAR, com a queda do regime em Abril de 1974, teve a sua apoteose pelos campos agrícolas Alentejanos, na Herdade Torre Bela, pertença do Duque de Lafões.
Retratado em Torre Bela, o documentário de Thomas Harlan relata a apropriação popular pelo locais àquilo que diziam ‘ser de quem a trabalha’. Entre eles um herói…

mortágua.jpg

O personagem em questão – ladrão, indiciado assassino, rebelde esquerdista e anarquista de plantão – instala-se, monarquicamente, no quarto do Duque expropriado e, tomando posse perante os camaradas, ergue-se como líder sem eleição. “A ferramenta é tua” torna-se o mote de eleição, demonstrando a política do jogo Humano em funcionamento.

O documentário revela a faceta Humana da inveja, da intriga, e de como somos primários. O dinheiro não é tudo, mas a posse material sim.

“Orgasmo de todos os sentidos, oásis saciador de sofridas sedes, por vezes de esperança desertadas.”

2005: O rebelde revolucionário, eleito anarquicamente líder, herói desta história e pai de influencias políticas actuais, é distinguido com a Gran Ordem da Liberdade. O seu nome? Camilo Mortágua.

Graça (des)engraçada, o auto-intitulado herói, num volte de face capitalista, é agora também ele proprietário agrário.
A sua filha, deputada bloquista, ensinada pelos preceitos familiares de seu Pai, é Mariana, estudiosa do roubo das grandes Empresas Públicas, do perigoso capitalismo que há que evitar.

Será que filha de peixe, sabe nadar?
Ou é peixe pescado…

Nota:
imagem da capa do Romance de Josué Guimarães, ‘Camilo Mortágua
É um Romance Brasileiro, nada tem que ver com as personagens portuguesas. É mesmo uma ficção, sobre a queda e mudança política, económica e social num Brasil entre o fim do século XIX e início do século XX, princípio de Guerras. A vida cotidiana da Família Mortágua no Rio Grande do Sul, e de como as trivialidades se introduzem na trama histórica do país em mudança no confronto com a Europa.
O protagonista do Livro, Camilo, morre em 1964, época em que o ‘nosso’ protagonista começa a ganhar mais élan na sua vida política portuguesa.

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