Senhor Primeiro Ministro, o carácter parte de um exame de consciência, moral e ética, daquilo que somos e reconhecemos, quando nos deparamos frente ao espelho.
Acredito que o melhor espelho, porventura o pior, é dos elevadores, luz zenital fria, cortante sobre a pele, retirando-nos a cor e projectando sombras sobre os defeitos que tentamos camuflar com a maquilhagem da vida.
Pode que a persona e o personagem em si se misturem e o seu exame de consciência se veja reduzido a uma sombra sem reflexo contemplativo de cor, mas o facto é que a sua moral e ética, políticas ressalve-se (tal qual qualquer pergunta a quem se senta na cadeira do poder), deixam muito a desejar quando aquilo que logra responder o reduz a um comentário “racial”.
Pergunto-me se a questão da raça, um epítome redutor já que de etnia se trata, não existiu para a sua ausência no Funeral de Mário Soares aquando recebido com honras de Estado em Goa, ou esse feito é orgulho quando lhe apraz e vitimismo para responder às questões indigestas?
Façamos o seguinte, pergunte-se que carácter compõe alguém cujos alicerces políticos são aqueles da geração Socrática, emoção sobre a razão, falência sobre a promessa de um Portugal em choque tecnológico?
Evidente que a negação plausível é um jogo, e a ausência na Câmara de Lisboa enquanto o pedido de ajuda externo era feito parecem ilibar quem durante anos foi o braço direito de José Sócrates. Mas o carácter de alguém vê-se muito pelos seus gestos. Políticos ainda mais.
Diz-se que é um político ardiloso. Discordo. É ver como reage às perguntas sem ensaio ou ser apanhado desprevenido pelos jornalistas de microfone em riste. Mas em algo há um reflexo de verdade: tem manha.
A forma como desafia António José Seguro sobre a magra vitória nas Europeias de 2014 tornam-se a sina da sua “vitória” de Pirro em 2015.
Não só as perdeu como o seu mau perder o levou a trair toda a memória Socialista de um país onde o 25 de Novembro de ‘76 trouxe, de facto, a Democracia actual.
E hoje veja-se quão manhosa escolha fez.
A Esquerda apoia-o condicionando-o à sua minoria majoritária. As greves são disso espelho, Comunistas com Professores, a Esquerda Caviar com Enfermeiros.
Se uns logram engodo, outros perdem num Serviço de Saúde falido, neste seu país de vacas voadoras e pujança económica.
Mas aquilo que o Primeiro Ministro não logra compreender é que a sua pujança, a frente de Esquerda dos temas fracturantes, fracturou-se num país em pleno pujadismo.
Senão veja-se:
- O investimento público fechou em 2018 a valer 2% do PIB, quando o Orçamento de Estado previa 2,8% do PIB. Ou seja, o Governo decidiu não investir cerca de 1.600 milhões de euros;
- Em relação ao que estava previsto, a taxa de execução orçamental foi apenas de 78,6% — o segundo valor mais baixo dos últimos 10 anos;
- Nada de novo na sua governação, pois teve uma taxa de execução de 74,7% em 2016 e 85,3% em 2017 (dados em contabilidade nacional);
- Em termos médios, a taxa de execução da atual legislatura é de 80,7% contra 87,8% do primeiro Governo de Passos Coelho.
Pergunta-se onde anda o Diabo? Nos detalhes talvez. Mas há uma resposta que não quer calar.
Não Senhor Primeiro Ministro, não há limites para as perguntas institucionais dentro de um parlamento.
Há sim o seu discernimento em saber estar, não como homem cujo o preconceito traz, antes como Primeiro Ministro que dirige os destinos da Nação onde apenas o Senhor tem visibilidade num governo de sombras passadas.