Se há um conceito supervalorizado, elevado a essa potência regulativa que a todos rege sem por nada ter feito, é a normalidade.

Todos parecem buscar a regra do que será a normalidade como se a mesma fosse um cânone de beleza atingível e reflexo de uma Sociedade que se quer tão perfeita, paritária e igual que se transcenda e se aproprie da sua própria beleza ao ser feia sem se aperceber que só na sua feiura é bela.

Recentemente tive que ouvir acerca da minha pessoa – relativamente à minha aparente passividade laboral em aceder à greve como arma de arremesso para hipotética mudança manual num mundo mecânico – que é por pessoas como eu, que aceitando o que nos é dado como graça de aceitação, que a Sociedade não se transcende daquilo que meramente é. Vejamos, se a normalidade é a existência de sindicatos e greves para que tudo mude, numa falência do que será o diálogo entre pessoas que se procuram ter diálogos de aproximação, de facto eu não busco ser normal.

Mas lá está, eu não convirjo nessa normalidade que a sociedade dos costumes parece buscar.
Para mim um Primeiro-Cavalheiro no meio de Primeiras-Damas não é notícia que mereça destaque por falha de representatividade, antes por tardar em sê-lo, ou no caso por manter o paradigma sexista da Mulher na Sociedade.

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Versou bastante bem a imagem que a Grande Reportagem da Sic, Acha que Conhece o seu País, apresentou no segmento dedicado à igualdade de gênero. Revela a suposta normalidade em que a Sociedade Portuguesa dos brandos costumes se tornou ou na verdade nunca deixou de ser. À Mulher o que é da Mulher, ao Homem o que é do Homem, 4% nesse cruzamento que os une nas tarefas mutuas, caso haja divórcio e a guarda conjunta falhe.

Mas a normalidade, ou a anormalidade, reside justo nesse facto que a todos une e nos conecta.
Quando li os comentários que ilustres desconhecidos bolsavam na notícia do Diário de Notícias sobre o facto de Gauthier Destenay ter sido omitido da legenda que a Casa Branca fez na foto mediática, apenas revi essa busca da normalidade que aparentemente todos buscam. E na verdade, em parte – evidente – o ser-se normal, preconceituoso, é o melhor que há.

O cânone da beleza, tal como a suposta normalidade que se procura para nos unir nesta barreira intransponível, são parte daquilo que nos torna mais fortes enquanto Sociedade e nos faz crescer.
Enquanto a divergência de opinião existir e a capacidade crítica de a contradizer em busca da uma melhor e mais justa Sociedade, sim, devemos ser todos (a)normais.
Feios, belos, plurais.

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