Em Abril do ano passado alinhavei o – muy curto – Manual do Político Contemporâneo.
Conclusão: ele não é contemporâneo, é extemporâneo e faz de tudo para agradar ao seu eleitorado, isto é, até se sentar na dita cadeira do poder.
Se esse facto não fosse concreto, neste mundo em que eles agora são alternativos e que o que se precisam são alternativas, ver em retrospectiva os cem dias de Donald Trump apenas dá eco ao que o Bilionário Mexicano Carlos Slim disse sobre o, então, recém empossado Presidente: “not a terminator, he’s a negotiator.” – ao que eu acrescento, e mau, já que quem lhe tem feito muitos ‘Hasta la vista, Baby’ é o próprio Schwarzenegger.
Donald, como ironicamente lhe chamou Hillary nos debates televisivos, tem demonstrado a fragilidade daquele que sempre se assumiu como o mais Democrático de todos os países depois da plena democracia Cubana (sim, é uma ironia de estilo). Se na terra de Fidel todos viviam nessa crença de que o feudo da felicidade estava nas mãos de um líder supremo, nos Estados Unidos bastou que um líder supremo demonstrasse em como a concentração de poder desmorona essa ficção.
Mas isso, ao não ser mau, é na verdade bom.
Ironias comprativas à parte, Cuba é quase livre e os charutos da sala oval não precisam ser dominicanos, o facto é que se Hillary vencesse as eleições a sagacidade política de todo um país ficaria presa num facto apenas: a Presidente (ou como diria Pilar del Rio: Presidenta)
Assim não. Desta forma tivemos um Super Reality Show onde o principal concorrente é desde logo o vencedor que insiste em contestar a própria vitória, pois além dela tudo o mais falhou.
E aqui chegamos ao ponto de viragem, entre o Tremendous e o Ridicule.
Entre a abordagem Trumpista de vida – saindo-se do Bronx, mas nunca o Bronx saindo de nós – e o Frontal Nacionalismo alpinista de Le Pen, onde nem a niet negação plausível de Putin alcança: o eleitor.
Os níveis de aprovação de Trump por parte do seu eleitorado mantêm-se Tremendous. São Bigly. São algo que ninguém ‘does it better than Trump’.
O mesmo se pode dizer do Ridicule que Le Pen, ao copiar ipsis verbis o discurso de François Fillon, teve num ardil tão populista como manipulador de um eleitor que, ao saber naquilo que vai votar, quer elege-la como a solução face ao medo que sente.
A desfiliação partidária pensada num amor francês que Marine criou ao ser a candidata independente do extremismo da memória de seu pai são o espelho desse desespero eleitoral e em como é indiferente se na verdade ela vence ou não. A perpetuação da intenção, da extemporaneidade, está realizada ao ponto de ingressar na cadeira – carreira (?) – do poder para demandar de quem irá governar.
Mas é aqui que o godo se faz engodo e a ficção é o facto alternativo.
Se a manipulação eleitoral é em si o appetizer para o Reality Show, olhando para um Tremendous que aos olhos de uma Democracia apostolada de melhor que as demais se fez de menos, pode que o Ridicule demonstre que afinal este farol, iluminando sombras, não seja refém de uma gruta alegórica.
Buscam-se mais políticos, menos celebridades, mais actualidade e que o extemporâneo seja mesmo, só e apenas, o inoportuno.