O 25 lá se foi, o 26 chega, a Liberdade cantou-se e a normalidade – diga-se – chegou.
Ou pelo menos, fora os idealistas, tudo retoma a idiossincrasia hipócrita que faz desta vida mais aprazível.
As Mortáguas fingem ser de Esquerda com os seus telemóveis de última geração enquanto a Direita ‘Critãs‘ se benze em espera de um novo ‘Passo‘.
Fora a Costa que se faz ladeira, lembrando esse ano de ’66, nada como retomar a essa suposta conquista de uma Liberdade que hoje – olhando para um só nome – não se entende o seu medo ou pavor.
Menos mal. Os cidadãos da cidade que do seu mal padece sempre souberam olhar num soslaio de interesse e ambição.
Aqui, ao contrário da lenda Romana dessa travessia para lado nenhum, o meu tempo se delimita no marco que o compasso tarda em assinalar e cujo o nome parece arbítrio para, entre a divisão que ainda se faz assinalar como paisagem, culminar como ponto – ou ponte – assinalável perante uma Sociedade mais sábia do que quem consta que a governa.
O ano era 1966, o dia 6 de um fresco Agosto para o quente Abril que se lhe havia de suceder 8 anos depois. Nesse dia, com seis meses de antecipação, inaugurava-se aquela que o Regime escolheu designar, nessa eterna homenagem ao amado líder, de Ponte Salazar. Cumpria-se assim um dos mais antigos sonhos da capital do Império desse antanho grandioso, Lisboa ligava-se à outra margem, 100 milhões de Europeus assistiam nas suas televisões à inauguração da maior e mais bela Ponte do velho Continente.
Mas nem tudo seria tão certo como o respeito pelos prazos, segurança na obra ou mesmo o escrupuloso cumprir dos orçamentos. A 25 de Abril de 1974, já Salazar havia caído da cadeira – Rei morto, Rei posto! – seu Delfim Marcello Caetano sucedido na pasta Ditatorial, quando o Golpe Militar ao som de Grândola faz de Portugal uma Vila Morena, a Liberdade ganha a expressão que anos antes uma ponte uniu. De imediato o seu nome é sinónimo de censura e repressão. Dois dias depois da queda do Regime, as letras que a adornam, nome que nem o próprio Salazar havia escolhido para baptiza-la, são de lá marteladas para se grafitar a negro a data que libertou toda uma Nação.
Só que a Nação dos brandos costumes não foi unânime face à mudança cujo o nome se fez apagar. Quem sabe seja o aprendizado dos 874 anos de História acumulada desde esse primeiro 5 de Outubro de 1143 que façam o bom senso imperar e ao fim e ao cabo, ela que a Liberdade representa, todos a chamamos como Ponte sobre o Tejo. Um cruzamento de memórias que esta cidade corta mas a todos une.
Realpolitik, da que dura, na ditamole.
Nota:
Apropriação do último texto que escrevi a 4 de Agosto de 2016 na Le Cool Lisboa acerca da celebração dos 50 anos da Ponte sobre o Tejo. Fotografia: pedromourapinheiro.com
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