Comecei a escrever uma carta endereçada à deputada Bloquista Mariana Mortágua.
Estava a fazê-lo no seguimento do impacto mediático das suas palavras tão bem entendidas pela Sociedade Portuguesa e por ela tão mal interpretadas.
Começava por dizer-lhe que (…)” quis a vida que as nossas famílias escrevessem a história deste país, e por razão de lógica política, a minha se ter visto afastada enquanto a sua, por razão ideológica, conseguisse com isso algo pelo qual, ao ter lutado, não havia trabalhado.
Sim, ao ser bisneto de Marcello Caetano sei o que foi o 25 de Abril de 1974, a luta pela Liberdade. Mas ao ser filho de Abel Pinheiro sei bem o que foi o 25 de Novembro de 1975 e o resultado que o PREC logrou deixar no seu rasto.
Se por um lado há famílias, como a minha, nascidas nesse berço de ouro – como um dia um jornalista insinuou ao Senhor meu Pai numa entrevista -, outras não são afortunadas e nascem naquilo que a Senhora Deputada chama Classe Trabalhadora.”
Evidente que aqui comecei a perceber que, nem eu ou Mariana nascemos numa realidade assim tão diferente.
Eu nasci em 1983 e a deputada em 1986. Somos filhos de um Portugal Socialista Europeu. A abundância econômica da Era Cavaquista, com todas as suas críticas “Independentes” ou por “Expresso”, fizeram de Portugal um país mais igual e justo.
E aqui retorno ao texto da minha carta.
“Como ninguém decide onde nasce, nem a sorte da vida está pré-designada, eu chamo-nos todos Povo.
Como respeito a Constituição, seja de Portugal ou de outro qualquer país Democrático, acima disso, vejo todos como Cidadãos.”
Mas lá está, a experiência de vida de cada qual, nesta Liberdade que uma Democracia em franca expansão econômica Europeia, permite, é completamente diferente.
“O facto de ter crescido numa Sociedade Democrática jovem, num país onde a existência das FP25 faziam a minha família escolher percursos distintos nas deslocações diárias, o termo fascista me ser dirigido depreciativamente, ou ainda se ser ensinado que vermelho era Comunista, poderiam ter feito de mim alguém tendencioso sobre raças, credos ou, sobretudo, cores políticas.
Felizmente na minha casa a Liberdade do indivíduo é a expressão máxima na busca da felicidade.”
No que nos tange, e por tal decidi fazer de uma carta um texto a ser lido por todos, os conceitos de igualdade e justiça para mim não existem sem equidade.
Não é que a Senhora Deputada não pareça desfasada do que publicita por invocar princípios económicos de autores cujas mortes ocorreram antes da invenção do mercado livre, ou mesmo que a globalização seja hoje uma realidade sem a qual um país – seja ele qual for – não viva.
É porque eu acredito que devemos buscar sempre poder ser melhores, superar-nos e, com isso, ser-nos dada a oportunidade de, sim – licitamente -, enriquecer.
Agora, fazer livre publicidade de Sociedades onde o bem maior é o mínimo denominador comum, o auge máximo a igualdade genérica, a superação alvo de denúncia, o rumor razão de humilhação gratuita e depois viver como pequena-burguesa, comendo em Restaurantes a preços moderados pelo Bairro Alto e Chiado, usando telemóveis que a maioria dos cidadãos portugueses não tem dinheiro para comprar, dando uma de filha rebelde de família rica para apregoar um saque fiscal em prime time televisivo, não dá.
A carência monetária de 10 milhões salva-se na riqueza desses 8 mil que a deputada apregoa?
Realidade triste de mais para um País com 873 anos de História.
Empenhar conceitos ideológicos para que o ser rico passe a ser um crime, uma nova forma de discriminação e preconceito social equiparado ao racismo ou homofobia, é tão mau como se reverter a abolição da escravatura. É esse “Ódio de Classe!” que Maria de Fátima Bonifácio tão bem descreveu no seu artigo do Observador.
É que o Bloco, ao representar apenas 11% do eleitorado, usa da mentira, rumor e insinuação para se fazer maior do que é. E pior, há quem se reveja nele como uma tábua de salvação, nessa iliteracia contagiante que o populismo de oportunidade oferece.
Mas na vida existem recompensas, e não que eu reveja algo de bom nos factos seguintes apresentados, mas a vida ensinou-me que a honestidade compensa e o carácter é tudo.
“Se a memória histórica do justo julgamento político é algo que assiste à minha Família, sobre a deputada recai o permanente fantasma de um Pai terrorista.
Se sempre tive a certeza da inocência do meu Pai, depois de transitado em julgado, fiquei seguro que não cometeu nenhum dos crimes que o vídeo do seu partido segue a difamá-lo.”
Nem eu ou a Deputada Mortágua temos culpa ou responsabilidade pelo passado que alicerçou as nossas vidas, mas temos o condão de fazer decisões.
Eu escolho ser livre de oportunismos de ocasião, de ideologias litigantes que me aprisionem numa desonestidade sem razão de discussão sobre o que é o futuro da verdadeira igualdade. Pior, numa Sociedade que não nos permita perseguir livremente a felicidade.
Mariana, sê apenas Mariana.
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