Lisboa, nova capital de um mundo que se quer civilizado.
Eu, assaltado na madrugada de domingo, 3 da manhã, em plena cidade, roubado de um iPhone enquanto subia uma rua iluminada no meio de muitas outras pessoas.
Verdadeiro paradoxo da tangência enquanto regressava para voltar a casa e escrever sobre outro assalto, desta feita sobre uma paradoxal entrevista que vi dada por Mariana Mortágua e a sua verdade feita alternativa de um mundo que se crê seu e a mais ninguém pertence que não a quem nela vê essa esperança construída em factos alternativos.
Se no instante em que, subindo eu sozinho, rodeado de diversos anónimos gritava ‘ladrão!’ ao ver o meu telemóvel ser levado de esticão das minhas mãos, via o egoísmo espelhado nessa retórica que se cria para que ninguém tenha vindo ao meu auxílio quando tropeço e caio, logo ali compreendi o porquê do revisionismo mitigante de Mariana sobre o seu Pai.
Sobre o Pai assaltante diz a deputada; “os assaltos que o meu Pai fez na verdade nunca renderam nada, eram na verdade todos bastante gentis, e eram só para chatear o Salazar. (…) Eles chamavam-se a si próprios piratas românticos e portanto era aquela malta que assalta mas as armas não são bem de verdade são de plástico, e ameaça mas as ameaças não são de verdade são um bluff.”
É facto, haviam armas de plástico – quem sabe o equivalente ao gentil esticão que me roubou – mas também de verdade. Que o diga a família do 3.º piloto, o oficial João José Nascimento Costa, assassinado pelos piratas românticos que nada faziam mais do que bluff quando desviaram o paquete Santa Maria.
Mas esta criação do Pai herói ou da mitologia do crime como justificativa para um fim, alça este no Portugal que se recria num Bloco que Mariana perpetua como seu, verdade absoluta e paradoxal desse abandono que eu senti quando rodeado de estranhos que nem ajuda me prestaram.
Camilo Mortágua, numa das raras entrevistas que deu à Sic, afiança que o assalto ao Santa Maria fui um entre tantos e que viveu outros bem mais perigosos.
Quem sabe tenham sido assaltos à séria, como descreve a sua filha em “‘Isto é um assalto’ (…) um livro sobre assaltos à séria, e portanto estamos a falar dos tipos dos mercados financeiros que nos têm assalto o bolso repetidamente. No Banco de Portugal há quem permita muitos assaltos desse gênero…”
Assalto como o seu Pai fez à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz juntamente com Hermínio da Palma Inácio, António Barracosa e Luís Benvindo a 17 de Maio de 1967, roubando o equivalente a 10 milhões de euros.
Lá está, há fins que justificam os meios desde que se comprovem estar nesse lado considerado certo.
Pena continuar a não ser correcto para não dizer errado.
Após o ocorrido, já tenho novo iPhone, novo intento, seguro comprado, risco garantido – seja isso o que for – e eis-me aqui.
Voltei, nunca igual, sempre o mesmo.
Farpa afiada, História na mão para que a estória não se faça prevalecer na mediocridade daqueles que só ficam a olhar.
…
Nota:
Transcrição completa do trecho da entrevista.
És filha de Camilo Mortágua, um histórico anti-fascista, esteve envolvido – por exemplo – no paquete Santa Maria ou no assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, certo? Lançaste também um livro chamado ‘Isto é um assalto’, foi essa tua a inspiração para combateres por dentro um sítio com tantos assaltantes do contribuinte?
Por acaso nunca tinha feito essa ligação, mas são assaltos de facto diferentes. ‘Isto é um assalto’ é um livro sobre assaltos à séria, e portanto estamos a falar dos tipos dos mercados financeiros que nos têm assalto o bolso repetidamente. No Banco de Portugal há quem permita muitos assaltos desse gênero e portanto ai, de acordo.
Já os assaltos que o meu Pai fez na verdade nunca renderam nada, eram na verdade todos bastante gentis, e eram só para chatear o Salazar.
Portanto eram assaltos….
Eles chamavam-se a si próprios piratas românticos e portanto era aquela malta que assalta mas as armas não são bem de verdade são de plástico, e ameaça mas as ameaças não são de verdade são um bluff. E pronto, antes de entregarem o navio às autoridades ficam a limpar o navio para ser entregue com bom aspecto.
São coisas românticas… Hoje em dia já não há nada de romântico.
Sim. O Banco de Portugal é o sítio menos romântico do mundo.