A 9 de Novembro do ano passado, aquando da manobra política que se anunciava para o dia seguinte e derrubaria o Governo legitimamente eleito em sufrágio Universal pelo Portugueses , publiquei a imagem que acompanhava o texto #bruma.
Não poderia imaginar que a imagem que nesse dia concebi teria uma repercussão visual tão impactante neste verão quente que se seguiu.
No texto que anunciava o retorno glorificado desse anseio Nacionalismo desse Patriotismo de pacotilha, de um El Rey desejado vindo da bruma que nada mais seria o fumo de algo que a queimado se anunciava, representei a Assembleia da República em desbravadas chamas.
Se mil imagens não descrevem uma imagem, esta imagem contem as mil palavras que o sinónimo actual representa de um país à deriva face a um Governo inepto sobre o que fazer quando o fogo se alastra num território à mercê de autênticos mercenários.
Mas culpar o tempo, a meteorologia, invocar todos os Santos, São Pedro, seja até que Diabo for – nessa memória tão presente de um Presidente de Câmara ausente em dias de chuva forte – apenas demonstra em como o líder deste Governo sabe mais negociar a sua permanência política enquanto Primeiro Ministro que não o devia ser que ser um primeiro Ministro outorgado a sê-lo.
O executivo governativo tem-se desdobrado em desculpas para justificar o injustificável: incapacidade.
Que se culpem os 900 anos de História, a desmantelação territorial organizada, a ausência de meios e sobretudo o anterior executivo.
A resposta dos Bombeiros Portugueses – profissionais, amadores, voluntários, pessoas que arriscam a sua própria vida face à adversidade – tem sido insuperável e meritória. Até o Presidente da República, ainda que no estilo populista da selfie, logrou unir-se à causa Humana do abraço necessário.
Óbvio que o fogo que nos consome não se deve apenas a razões de ordem política, económica ou social. Ele prende-se, sobretudo, a razões de educação e civilidade que fomos perdendo ao longo das últimas três décadas quando Portugal se tornou sinónimo de “pogresso” e Europeísmo.
Dizer manutenção ou sustentação quando se fala em orçamentação projectual, seja a que cliente for, é desde logo um pecado tão maligno como dizer que se terá que abrir os cordões à bolsa num orçamento anual. Mais, é dizer que lhe custará esse preço que acaba por pagar quando o seguro no qual poupou – ou sequer se lembrou de pedir para protecção extra – lhe cobre o sinistro que qualquer acidente levou.
Nas últimas três décadas a proporcionalidade de investimento no que concerne à construção nova versus a sua manutenção a longo prazo é tristemente visível. Mais a mais no que toca ao espaço rústico.
As florestas Portuguesas andam ao abandono, trocadas pelo turismo de consumo imediato e preferência pelos campos de girassóis de permuta monetária rápida. Já não há Guardas Florestais, agricultores rurais que tomem conta dos campos deste país.
Infelizmente as memórias tornaram-se de índole monetária ou financeira e por tal mais vale prevenir que remediar.
Que arda o campo. Que venha a ajuda externa. Que o seguro pague o malfeito dos verdadeiros pirômanos, os políticos que até permitem que pirômanos de verdade sejam postos em liberdade para incendiar todo um país.
Eu errei, a Assembleia da República não ardeu nesse dia 9 de Novembro passado. Arde agora, neste tórrido verão, vazia e sem ninguém que se queime com tanta miséria Humana.