“Verba volant, scripta manent”
A 7 de Dezembro de 2015 o vice Presidente Michel Temer enviava uma carta de “carácter pessoal” a Dilma Rousseff, sua Presidente na chapa que os havia eleito duplamente nas eleições de 2010 e 2014, que rapidamente se tornava de conhecimento público.
A cúpula opressora da oposição depressa pegou nas intrigas palacianas que a carta continha, nesse mimimi que Temer parecia representar, e fazer do “vice decorativo” o alvo fácil a abater.
Se o conteúdo era de relevo insípido, até jocoso na forma como descrevia o trato entre os dois máximos representantes de um país Imperial, o provérbio em latim que introduzia o texto, “as palavras voam, os escritos ficam”, era a cifra para tudo aquilo que se viria a passar depois.
Ainda que a tese de translação pendular – sintomática de um enigma digno de Foucault – diga que Temer está tão envolvido na corrupção assambarcadora que a Lava Jato se tornou como os seus coadjuvantes governativos, a sua negação tem a verosimilhança plausível dessa sua carreira académica e formação em Direito Constitucional.
As palavras que escreve não são as que deixa voar.
Palavras comprometedoras que ‘vazam’ e constrangem quem se propõem dar esse certo golpe face a um Governo do qual até pouco dias antes fez parte.
Uma semana antes da votação do processo de impeachment da Presidente, a 11 de Abril de 2016, o vice Presidente “acidentalmente” divulga aquele que parece ser o seu discurso de tomada de posse caso Dilma se veja afastada do cargo que ainda ocupa. Nos quase 14 minutos de gravação difundidos através de um grupo de whatsapp fica claro que Temer tem uma noção Patriótica que não corresponde aos anseios do partido dos Trabalhadores ao qual esteve ligado umbilicalmente nos últimos 6 anos. De um momento para o outro a postura edulcorante e vitimizada daquele que invejava a reunião de duas horas que Dilma havia mantido com Joe Biden, vice Norte Americano, na ausência dele, desaparecia e o tom emulava aquilo que o o PT fragilizado urrava como Golpe de Estado!
Mas Michel dizia que “muitos me procuraram para que eu desse pelo menos uma palavra preliminar à Nação brasileira, o que faço com muita modéstia, cautela, moderação mas também em face da minha condição de vice-Presidente e também como substituto constitucional da Senhora Presidente da República”.
Havia modéstia, ou apenas a cautela de uma jurisprudência de quem sabia que a base legal para o impeachment era devastadora?
O provérbio latino que Temer mencionou não fora aleatório. Cinco dias antes da prosaico-pateta carta sentimental ser tornada pública, a denúncia por crime de responsabilidade da Presidente Dilma Rousseff era aceite pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
A base legal e constitucional estava montada.
Era uma questão de tempo até que as palavras escritas deixassem de voar.
Dia 12 de Maio Dilma cai.
…
Nota:
imagem original do artigo do Daily Mail.
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