Se facto maior há, comprovado na quantidade de vezes que menciono o maior desporto da actualidade contemporânea, é que não acompanho ou assisto Futebol.
Pois bem, ontem quebrei o tabu. Fui a um jogo. Fui ao Benfica – União da Madeira.

Serei politicamente correcto: não percebi patavina. Também não queria.
Interessei-me mais pelo relvado da arena, sobretudo porque fiquei sentado no piso 0, sector 23, fila C, lugar 4. A sério, estava a duas filas do relvado, num ângulo cuja a minha miopia não fazia perceber a minha ignorância pelas regras ou o ângulo das distâncias focais sobre tudo o que se passava.
Certo é que não compreendi muito bem como as pessoas que ali se sentavam comigo percebiam algo similar também? Recordei-me que isto é tudo panis et butyrum.

Já não é a emoção do jogo que vende, é o merchandise em torno dele que gera burburinho e comoção a ser ordenhado.

E que forma de ordenha. Se classismo existe em Sociedade Democrática, o jargão de que o Futebol é o que nos une como iguais, a sua arena demonstra essa clara divisão.
São anéis concêntricos onde se distribui o poder económico de cada agregado social, dando a ver o espectáculo pelo ângulo que cada um pode pagar.
Quando melhor a carteira mais ao centro se está. Quanto pior, ou a baixo ou a cima.

Benfica.jpg

Fui por graça, com um convite de última hora, sem juízo de valor monetário, mas ali sentado compreendi o fundamento ideológico de não existir uma máquina multibanco dentro do Estádio. Dos pagamentos serem sempre em efectivo. Da construção ser feita para o conforto ser momentâneo e o luxo existir onde a concentração de interesses se sentar.

Onde me sentei gritava-se por uma bola, uma camisola ou um jogador que ali viesse dizer um impropério. Um conflito em plena ebulição entre a transição para a bancada seguinte onde as claques Nacionais, essa Tifosi de importação, rebumbante no som, grita sem prestar atenção a nada.
O anel seguinte é o premiado. Camarotes de prestígio, vistas de um campo em perfeito ângulo, jogadores tal qual tabuleiro de xadrez virtual. Arcada protegida, vidro insonorizado, varandas recolhidas.
De seguida o povo enobrecido rumo ao sem fim da distância do binóculo.

Compreendo a interacção Humana, essa vontade em estar com os nossos, de se conversar nessa similitude dos iguais, dos da nossa classe, mas o facto é, se a História Civilizacional se fez (e faz) da miscigenação entre pares, aquilo a que assisti foi a segregação dos diferentes.

Acredito que o foco seja, de facto, o jogo, mas para que me serve o público ao fundo, em harmonia, a preencher um ecrã?
Porque se o objectivo foi mesmo ir ver o relvado da arena, dali sai com a ideia do Fairplay de uma Blatter Tart.

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