Se num passado longínquo a memória foi feita de desse icebergue em rota de colisão, o presente faz-se desse encontro em coalizão.
Coalizão é o contrato de cooperação que, de modo verbal ou escrito, é feito entre partidos, instituições, pessoas, na tentativa de consolidar um objectivo comum. No fundo trata-se de uma união. Claro que também tem o seu lado jurídico, mais complexo, onde o traço se faz pela ausência imputável de concorrência directa. Uma forma de protecção, tipo de consórcio, convénio ou fusão de capitais; com o intuito de diminuir a exposição que a maioria tem face à contra-parte.
Passando do teórico ao prático e dando forma à colisão feita coalizão, Pedro Norton saiu da Presidência do Grupo Impresa para ser substituído pelo filho mais novo do seu Presidente Honorário Francisco Pinto Balsemão.
As teorias conspirativas que correm o virtual da internet, os telefones que se fazem tocar ou as cabeças desses errantes são de uma efabulação perniciosa, tão deliciosa, que nem eu com uma maldade costumeira e habitual seria tão espúrio.
Não, não se trata de nepotismo, ou pelo menos não nesse sentido estrito de estar a favorecer um ente familiar como se de uma empresa pública se tratasse.
Trata-se sim, e nesse aspecto dou a mão e a razão à estratégia de Balsemão, a manter a herança e mais-valia sobre a mesma, num perímetro familiar directo, sem que a mesma seja taxada sem dó, perdão ou piedade pela máquina sorvedoura de impostos.
O plano que se desenha nas mentes Socialistas é simples e taxativo, literalmente.
Quando um bem familiar passa em herança para a geração seguinte estava livre de pagar o imposto sucessório sobre as mais valias patrimoniais a ele associadas, tributação abolida em 2005 por uma Coligação Governamental PSD-CDS. Só que agora, volvidos mais de dez anos, nesta senda da igualdade e meritocracia Socialistas da Geringonça, o PS traz de novo o justicialismo do imposto sucessório.
Pretende o neo novo Governo taxar as grandes fortunas nas suas heranças.
Defina-se a grande fortuna em um milhão de euros e assim se vê em como, num amontoado de poupanças e posses adquiridas (ou mesmo herdadas) durante a vida, a geração que a seguir vem – mesmo não tendo um igual poder de compra que a sua anterior – se veja a braços com a declarada insolvência em proveito desse Estado cobrador.
Evidente que a alternativa, enquanto a gerinçonça não torna a sua máquina numa devoradora carnívora sem mais escrúpulos, todos aqueles que têm na mira uma linha de sucessão pronta a herdar um património superior a essa barreira quantitativa – e aqui entra a “re-tomada” de posse familiar no Grupo Impresa – tratam de doá-la por forma a não pagar o maligno imposto que destruiria um capital construído ao longo de gerações.
É que aos olhos da inveja instituída, enriquecer licitamente e prover aos seus por isso, tornou-se um crime a ser abatido e humilhado, a fazer acto de exibição pública.
Balsemão, precavido, terá seguramente passado já todo o seu capital institucional para as mãos dos seus descendentes directos. Fez uma doação em tempo útil, resguardando tributações absurdas sobre a riqueza criada por mérito próprio, e ao mesmo tempo retirando da linha de sucessão administrativa alguém que se pudesse impor mais tarde como um problema de coalização jurídico institucional.
Porque as coalizões apenas são lícitas na sobrevivência das geringonças políticas. Quando servem o capital privado, entram em colisão de interesses públicos.
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