A maior mostra de cenografia a nível mundial, a famosa Quadrienal de Praga, em cuja edição de 2015 participei na ID Box da APCEN, trouxe resultados.
Penso que o resumo dos mesmos, numa auto análise da minha própria apropriação desse espaço, se resume bem através desse sonante e acutilante título: Grand Guignol.
O famoso Teatro de horror realista instalado na área de Pigalle em Paris dá bem o mote ao que me foi feito transparecer daquilo que por Praga se passou: uma soberba sobreposição desconexa auto mutilante exposição de feitos rítmicos nesse vão exercício de satisfação pessoal.
Em súmula, uma masturbação estética, neo moderna sem muito conteúdo.
Por outro lado, nesse achaque contemporâneo, foi visto, e nesse sentido há uma justa identificação, como um acto Democrático. Todos se viram representados.
Mas é isto uma mostra cenográfica? Ou é isto uma mera pretensão artística expositiva em busca de responder a um enunciado Europeísta que não sabe senão ser politicamente correcto?
Eu por mim não sei justificar a adjacência, nem sequer fora da nossa caixa identitária, quanto mais do acerto errático que a minha apropriação foi.
Entre a proposta inicial de um ‘framed’ – tramados – acabei por inverter a lógica de uma censura imposta e fazer dessa metamorfose de um Palácio de nome Kafka uma analogia para tudo aquilo que vejo representado na política Nacional (e estrangeira): um retrocesso ao populismo ideológico exacerbado derivado desse excesso de permissão.
Se na minha apresentação, quiçá sem grande narrativa presencial deixando à interacção do público a descoberta dessa inversão de censura, a aposta era ir de um casulo neutro em que faces aparentemente anónimas ou talvez reconhecíveis iam surgindo para mostrar telas pictóricas clássicas onde uma sátira se via perpetuada, o factor tempo acabou por não permitir essa análise da comicidade.
Ainda assim fica patente a questão do retorno a um academismo na Arte. A essa questão política do comprometimento de outro tempo, onde o tempo não passava com a aparente velocidade actual.
E isto traz-nos à questão fulcral de toda a exposição, e que foi um dos temas debate que levou a Associação Portuguesa de Cenografia a ingressar na QP: existe cenografia sem espaço?
Existimos sem espaço?
Existem ideias sem espaço?
Existe a aplicação de uma ideia sem que ela ocupe um espaço?
Como podemos viver pelas regras e ao mesmo tempo sem as cumprir?
Como podemos existir sem existir?
Ocupar todo o espaço sem não o ocupar?
Esta foi a ID Box. Tal como a internet, as redes sociais, o mundo do virtual, das ligações que nos unem, desunem, aproximam e afastam. São ideias que criam um espaço inexistente, a aplicação de ideias sem que elas se apropriem de um espaço físico, onde as regras que se cumprem são por todos quebradas, onde existimos sem existir, ocupamos todo o espaço sem nunca o, de facto, ocupar. Tudo frente a uma caixa: a nossa própria identidade.
E com isto, a ‘nossa’ aposta, a meu ver, foi ganha.
Pode ter sido um Grand Guignol, mas se o foi, teve esse sucesso silencioso – não havia banda sonoro – de produzir uma sequência rítmica de diversas histórias desconexas interligadas entre si, numa repetição sequencial, um pouco como a actual Democracia em que vivemos.
Foi a lícita representação de todos aqueles que decidiram ir a votos e se sentar nesse plenário a julgamento popular.
No fundo, a existir nessa caixa onde na verdade nunca existimos.