A República achincalha-se!
Dizem que é de Bananas, mas essa, a ser Chiquita, é lá da Martinica.
Como por aqui a memória do passado nunca possibilitou a coerência do presente, viva-se na intransigência da velhice.
Havia os Velhos do Restelo.
Hoje há os novos.
São migrantes da desdita.
Dizem aquilo que lhes convém, sem pena do retrocesso.
Ou logrados ao insucesso, nada mais lhes vale que a memória do infortúnio.
Camões, aquele da pala mas cuja cegueira não o fez ser unilateral, descreveu como ninguém esta ideia daquele que, no premonitório que era o Restelo – antes da visão ordeira e Patriótica Salazarista, e do reduto de bem dizência que se tornou; olhava as naus Quinhentistas partir rumo ao Desconhecido com a sina derrotista de que no retorno trariam amargo de inconsequência.
E a História justo isso comprovou.
O cabo era uma tormenta, e o Bojador foi torneado, feito monstro derrotado, lenda viva até hoje: Adamastor, admoestador do inconseguimento.
As rotas da fortuna apenas agrandaram o espólio e a conquista, o proveito e a glória.
A reprovação e o tédio.
A supremacia do esquecimento.
Mas o suplício carnal daquela carne vetusta que na costa lusitana ficou não resistiria ao pecado sonegado às múltiplas gerações.
O nono canto, o das ninfas promiscuas, de cantos ululantes e trejeitos que tais, provas davam da razão do Senhor no ermo plantado. O Português quando sai, vende-se ao que mais lhe mostra e menos lhe oferece.
Só que na contingência seminal, a força nacional sempre foi a sua interação geracional.
O atrito da partida fez a glória da chegada, e é na miscigenação que Portugal ganha fama e fortuna.
Respeito inquestionado, e juventude renovada.
O mito urbano, mais literário que literal, seria de que o Velho do Restelo teria idade. Têm a que se permitem ter, presos no seu entendimento da dimensão do território. É que vendo a República indigitada, daqueles que se afligem com o medo da Descoberta, apenas me apraz dizer:
“Em terra de Bananas, quem tem casca é Rey!”
Porque é preciso uma couraça de esforço e memória para não sucumbir ao miserabilismo encartado daqueles que se querem dimensionados à Ocidental Costa Lusitana.
Desta, onde um dia alguém decidiu sair e procurar algo mais.
‘Camões de La Mancha’
Por alguma razão de extremos extremados, entre intelectualismo e intransigência intelectual, vejo em Camões, no seu histórico desfasamento, algo maneirista de Cervantes. Como se os Portugueses, numa rábula assumida de anti-heróis declarados, o fossem por força das condições que ultrapassam.
Não há, declaradamente, um Dom Quixote, nem muito menos um Sancho Pança.
Quem sabe, em análise ‘cabalística’ minha, seja Camões o próprio Quixote, numa expressão amarga de dar realidade a um ideal, em que a projecção da fantasia, embora levada a sério, seja em si irónica.
Dulcineia bem poderia ser Dª. Maria, irmã de D. João III. Ou Dª. Violante de Andrade. Ou a sua filha Joana.
Ou mesmo uma aia da corte, Dª. Francisca.
Ou ainda D. Catarina de Ataíde. Agora qual das três conhecidas à época é que não se sabe.
Porque no final, ainda que só por escrito:
“Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.”
E sem esforço, seja aqui, ou fora do nosso conforto territorial, não há proveito.
Quem sabe por tal, na minha sagacidade, persisto e não desisto.
Um dia, no da boa memória, alguém lerá os pensamentos indigentes que por aqui traço, e pensará: isto vale a pena partilhar.
Nota de agradecimento:
Obrigado Pai por me ter dito que lhe faço lembrar Dom Quixote.
A sua congruência – a da personagem de Quixote; em ser um idealista corrigido pela veracidade mutante do Mundo, é algo que faz de mim, eu considero, tenaz.
Não procuro, nunca, ter razão, mas fazer visão.
Corrijo-me na adaptação, e prefiro o erro a ser exacto.
Como digo, entre o certo é o errado, tento o correcto, pois contém “ambos os dois”.
E nisso, já de si, erro – nem que seja no meu volátil proto-guês.
Gostava de contribuir com o que contenho em mim: uma incapacidade de me conter.
Sei o limite do impossível, pois a ele, pela consistência da minha vontade, me entrego.
Se a minha vida não pára, e na minha ortografia o acento não caiu, aquilo que tenho, terei, e me proponho dizer, é tão infindável quando a minha capacidade – enquanto Arquitecto; de conceber o limite do Espaço Sideral.
Mas a ansiedade perfaz o ser, e a juventude de quem não tem medo de se afastar de uma Pátria que expugnou os seus, anseia o resultado de uma tentativa de ‘erro certo’.
Ontem, dia 18 de Junho de 2015, teve início a Quadrienal de Praga, a maior mostra de cenografia a nível mundial.
A APCEN Associação Portuguesa de Cenografia, da qual sou o sócio n°10, está presente com a IDbox, onde mostro a minha visão política de um Portugal/Europa em ‘crisis’.
Não há emendas nem sonetos, erros ou errantes, e o processo criativo, entre texto, imagem, concepção e obra feita; foi partilhado aqui.
O patrocínio parcial foi Estatal, e o Selo da República Portuguesa acompanha a mostra, essa em que mostro a minha (a)versão pelo enquadramento que se faz.
Foi apresentado, atempadamente, e a quem de direito, aquilo que se mostra, por forma a avisar, em circunstância temporal, do efeito que se pretende.
Dito isto, e tal como Dom Quixote tinha a pretensão em ser um herói dos livros que lera, eu, num pretensiosismo idealista, queria que a minha tenacidade humorística – aquilo a que chamo de ‘Barroco Tropical’; fosse publicitada nos meios devidos.
Porque nesta guerra de iguais, quem dá e leva, sobreleva.
‘Francisco de Cervantes’
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