Quando assisti à entrevista de Jô Soares à Presidente da República do Brasil, Dilma Rousseff, no passado dia 12 de Junho de 2015, fiquei com a certeza de estar a escutar a música de Chico Buarque ‘Sob medida’.
Uma carreira tão importante como a de Jô Soares, humorista, apresentador de televisão, escritor, dramaturgo, director teatral, actor, músico e pintor no Brasil, não se poderia permitir – na minha opinião; a uma veleidade como aquela a que se propôs.
Perante a dissertação, consertada, do que foi uma entrevista entre uma Presidente e um humorista sem graça, a coisa apenas poderia acabar por ser engraçada.
As perguntas difíceis e tenazes, pelas quais Jô Soares é conhecido nas suas réplicas ardilosas, não existiram.
Por outro lado, Dilma Rousseff mais parecia estar a ler um caderno de encargos com tudo o que, ao prometer ir fazer e não ter feito, estar em vias de concretizar no minuto seguinte.
E mais, a linguagem utilizada, estruturada para as classes mais elevadas, as que são agora classe média e os que estão a caminho disso, foi estudado por todos os ângulos.
Dilma não costuma falar assim, daí a estranheza, ainda maior, de toda a encenação.
Mas a reputação de Jô Soares não entra tanto em choque quanto a reputação do programa homónimo, uma vez que esse é transmitido pela maior emissora Nacional Brasileira: tv Globo.
Se se pensar que a Globo é conhecida pela repulsa ao partido dos Trabalhadores, e pela forma como no passado até chegou a boicotar a ascensão de Lula à Presidência, fica-se na duvida se esta entrevista de 69 minutos não será um pagamento tardio por esse sucedido.
É que a Globo não é de se comover perante situações de expor aquilo que tem, e deve, ser exposto. Pergunto-me, na certa incerteza, do porquê de o ter feito?
Mais vale usar mesmo as palavras desse Petista confesso, Chico Buarque, e dizer:
“Se você crê em Deus
Erga as mão para os céus
E agradeça
Quando me cobiçou
Sem querer acertou
Na cabeça
Eu sou sua alma gêmea
Sou sua fêmea
Seu par, sua irmã
Eu sou seu incesto
Sou perfeita porque
Igualzinha a você
Eu não presto
Eu não presto
Traiçoeira e vulgar
Sou sem nome e sem lar
Sou aquela
Eu sou filha da rua
Eu sou cria da sua
Costela
Sou bandida
Sou solta na vida
E sob medida
Pros carinhos seus
Meu amigo
Se ajeite comigo
E dê graças a Deus
Se você crê em Deus
Encaminhe pros céus
Uma prece
E agradeça ao Senhor
Você tem o amor
Que merece”
É que com Dilma e Jô, verdade seja dita, não sei quem é bandida, solta na vida, o amigo que se ajeita comigo. Apenas sei que o Brasil, sob esta medida, tem o que merece.
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