Há um mote de vida pelo qual todos nos devemos reger. Citando esse solilóquio famoso de Don Lockwood na estreia do seu filme ‘The Royal Rascal’ em 1926: ‘Dignidade, sempre dignidade’.

Essa mesma dignidade que o fez ficar famoso quando, um ano mais tarde, na versão musicada do desastre de bilheteira que foi o primeiro filme sonoro da Monumental Pictures, o ‘The Dueling Cavalier’.

Lina Lamont, a intempestiva diva de Hollywood, não teria convencido a sua narrativa falada, mas na versão musicada, ‘The Dancing Cavalier’, era o delírio dos fãs que a bajulavam.
A dignidade de todos foi posta em cheque quando se soube que a voz de Lina a ela não pertencia, e era uma anónima, Kathy Selden, quem por ela cantava.

O segredo fora descoberto e o tempo mudou. Foi uma autêntica serenata à chuva.

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Não fosse Don Lockwood ser Gene Kelly e esta ‘Serenata à Chuva’ um ‘Singing in the Rain’ de 1952, quase se poderia fazer jus ao realismo do seu discurso sobre a dignidade que gostamos de apresentar ter, mas não aquela que na verdade tivemos.

A cena é simples, e enquanto Don relata os factos da sua ficção, vemos as imagens da sua realidade.
Se a dignidade é uma mentira, a verdade é plano concreto da realização.

Sorte de nós que nunca nenhum actor se fez Presidente da República Portuguesa.

Já pelas terras do ‘American Dream’, Ronald Reagan pode ser visto como o exemplo desta dignidade. Mas não da ficção. Só que por ela passou, e trilhou um caminho feito da ascensão e queda da imagem que se projecta.
40º Presidente Norte Americano, Reagan é considerado até hoje um dos mais consensuais Presidentes da sua geração. Políticas fiscais, anti-drogas e um lutador primário do Comunismo instalado, deixa um legado de verdadeira dignidade.

Agora, neste impasse de candidaturas a um ambicionado cargo de Presidência, quando ninguém mais parece dar cavaco por nada que nesta República se passa, a Esquerda Nacional lança-se num inusitado repto de nomes infindáveis que colhem, à falta de bom senso, a dignidade assumida dos que dizem querer ser o próximo a sentar-se na cadeira de ilustre representante da Nação Patriótica.
Só que o discurso de Don Lockwood, aquele que nos filmes era mudo e ganha voz a ser induzida em erro na sua própria dignidade forjada, lembra-me que quem se lança agora à Presidência da Nação, tem essa patine das luzes, de uma ribalta televisionada, de anos infindáveis de comentários, ou do anonimato, que nada auguram como garantia de digno.

Por Portugal o clima está outro. A chuva insiste em voltar, e invocando o sabor da palavra local, pode-se dizer, sem tom de graça, que:

“Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.”

Por aqui a serenata não é a da chuva. É outra.
Nada se invoca em vão, nem o nonsense que impera no desleixo da ruminância gasta de quem tem mais em que se preocupar do que com a vida cor-de-rosa do eleito pelo eleitor, mas a frase assenta que nem uma luva:
Dignidade, sempre dignidade‘.

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