Regresso, por escrita própria, deste hiato lírico onde tudo aconteceu, o mundo girou e a História se escreveu. Mas há os que insistam que a história se mantenha uma estória ao estilo conto, onde quem o conta lhe acrescenta o seu ponto para fazer vírgula própria.
Um mundo perverso de QAnon, Fake News e teorias da conspiração onde usar máscaras vai contra a natureza científica de um vírus que mata e Médicos pela Verdade são os mentirosos de serviço.
Neste instante onde a memória da década do terrorismo presente existe, surge esta opinião de um mundo em extinção onde uma Esquerda vive em oposição face à eterna Direita de memória Conservador, ouse-se dizer Monárquica, e o seu extremo é o exterminio de toda e qualquer opinião e posição vigente, como se qualquer extremo fosse livre de crítica ou contenda num mundo desequilíbrio per se, leio um texto crítico sobre a decapitação de Samuel Patty.
Crítico não pelo que levou um jovem a usar uma arma branca, movido por um reconhecível ódio religioso, a decapitar um Professor de Educação Moral e Cívica por mostrar as imagens satíricas de Maomé em contexto do atentado do Charlie Hebdo em 2015, mas antes focar-se no paralelismo que “o ódio que matou Samuel Paty não vem só do islamismo”, mas é vigente na Sociedade Ocidental e advém de uma direita musculada alimentada num vácuo histórico politizado.

( Faço um parêntesis de respeito pela autora antes da óbvia farpa, já que o tema em análise o é feito de forma leviana ou superficial e sem uma profundidade lógica maior que um ataque divisionista sobre uma actualidade viral. Em resumo, não é por não se falar sobre uma realidade que ela não deixa de existir. Mas falar da mesma com um viés intencional, tinge-a de uma mácula indesculpável. )
Maria João Marques, ex-colunista do Observador agora residente no Público, parece fazer um desfavor hipocrita ao seu historial crítico político apresentando uma visão superficial sobre a o legado do terrorismo nas últimas décadas, os conflitos éticos e morais numa sociedade cada dia mais polarizada, e em última análise, abrindo uma brenha maior quando aponta o dedo à suposta direita musculada que por anos alimentou positivamente ao fazer crítica à esquerda que a criou.
Evidente que escrever crónica de opinião, nomeadamente sobre temas ardilosos como o terrorismo, as suas origens e formas de combate, são sempre complicados para não dizer complexos. Mas aliar em brutal paralelismo, paralaxe de estilo, o alimentar cultural feito nos Estados Unidos com a morte de George Floyd pela polícia, o movimento Black Lives Matter, a Família Trump e a escolha de uma juiz conservadora para o Supremo entre teorias de conspiração com a patine de Sean Hannity, com o que foi um acto terrorista passado em França, baseado em preconceitos de índole religiosa, alimentado numa Sociedade e cultura com as suas particularidades e vicissitudes específicas, é arrogante e não compreender o papel crítico que a imprensa tem.
Pior, usar o paralelismo do ódio relativizando-a com a temática das aulas de cidadania, fazendo tábua rasa sobre o comportamento humano e a nossa capacidade de aprendizagem, aceitação e vivência humana em Sociedade é arrogante e triste.
Não, o ódio mortífero, a prazo ou futuro, não se deve (só) a uma direita musculada, antes a esta ideia que nos dividimos em opostos dominantes onde a razão é somente a situação reinante.
Democracia não é a união dos derrotados em prol do direito dessa minoria.
Democracia é a vitória da maioria em prol do direito universal de todos.
E enquanto não se perceber que falta diálogo sério e capaz, ficaremos atados a narrativas de ódio, remetidos a ser antagonistas do futuro actual.