Comecei a’Farpa em 2014 com um texto oportunista para aquele que hoje escrevo como sinal dos tempo que passaram e demonstram o ranço institucional que se vive. Nessa primeira crónica, a 11 de Novembro, escrevia como a opinião pública “é uma falácia feita para acreditar que não existe o individualismo e capacidade de cada um tirar as suas ilações e pensamentos únicos, assim como questionar tudo aquilo que se lhe apresenta como facto concreto”; que ela era, é, seria (…) “a condição que se impõe a quem nos governa e quem toma escolhas por nós. Essas pessoas é que determinam o que é a verdade dos factos apresentados e dão ecos de realidade ao que a imprensa publica e diz ser verdade.”
Só que se a opinião pública existe, é na publicada que vê o seu verso, reverso de uma máquina propagandística a mando partidário onde um Governo lança mão totalitária em tempos de pandemia.
Aquilo que hoje ocorre, de se ver o Estado como ente patrocinador da Comunicação Social, é de uma tal abjecção que corre em incúria pela falta de isenção palpável.
15 milhões de euros do Erário Público em troca de publicidade Estatal?; de Opinião Publicada?; desse toma-lá-dá-cá sem critério de referência transparente e fundo de suspeita nepótica?
Empréstimos em troca de patrocínio é agiotagem, quase um latrocínio declarado do que se supõe ser um Estado de Direito Democrático.
Isto sem mencionar que esse dinheiro se torna o garante de sobrevivência de Empresas cujas situações económicas pré pandemia já reportavam prejuízos.
(note-se que a maior fatia do empréstimo vai para as empresas que fazem parte da Plataforma de Media Privados (PMP) quem determinou e aplicou os critérios da distribuição)

Nisto creio que o Observador, negando receber o apoio que lhe cabia – mais tarde acompanhado pelo jornal ECO -, teve a digna opção tanto editorial como de postura legal.
Cito: “O conselho de administração do Observador decidiu “não aceitar” o apoio governamental destinado aos media sob a forma de compra antecipada de publicidade institucional, cujos montantes foram publicados na terça-feira em Diário da República. Em comunicado (…) argumenta que não só “nunca solicitou este tipo de apoio” como “este programa não cumpre critérios mínimos de transparência e probidade para que o Observador possa aceitar fazer parte dele”.”
Nunca a Opinião Publicada se deveria fazer refém do Estado.
Triste que em Portugal há parte que, descaradamente, faça.
Um brando costume que se faz opinião pública.