“Quanto o Governo não pagou por uma boa capa publicitária… imagino?”
Esta foi a minha farpa à capa provocação que o meu amigo Vasco Câmara, em modo rede social, pré-publicou com o título “sexta” sobre a entrevista que António Costa deu 20 anos após a Expo’98.
O Vasco é assim, gosta de nos provocar – e aliciar – com o seu extraordinário trabalho como director na revista Ípsilon.
O que ele não gostou, por nada, foi do meu comentário, uma “irresponsabilidade do facebook“ – ‘estás demasiado exposto ao facebook, começas a pensar como um post’ – como lhe chamou, determinando que vivo aprisionado na mera viralidade acrílica onde a crítica se torna vã e solitária.
Verdade seja dita, ele não está de todo errado, a Sociedade contemporânea é justo o que ele me descreve como podendo estar a ser. Só que essa imagem que muitos de mim têm, quase um ‘garoto propaganda iPhone na mão’ socializando atrás de telas retro iluminadas entre a suposta protecção de um qualquer anonimato, se desfaz pelas sucessivas ausências que, demonstrativamente, tenho tido no mundo social em rede viral.
Pior, e em contra mim falo como criador que se indisciplina numa Arte sua, as crônicas ilustradas aqui n’afarpa passaram a 3 ou menos por semana.
Uma péssima gestão de imagem.
E é de gerir imagens que se fala aqui.
A realidade permissiva (ou nem tanto) das redes sociais, implica que a ‘mono-temia’ (que se assuma nova criação vocabular, mono-tema) ganhe terreno e os assuntos sejam monótonos de forma monocórdica.
Paro para um pequeno parêntesis aqui.
(Porque tempo é tudo, e nessa abstracção, conseguir tê-lo também.
Escrevo esta crónica enquanto regresso de uma viagem de trabalho a Milão e, como nada é por acaso, na fila da frente, enviesada a mim, uma (suponho) instagramer.
Nas duas horas, mais coisa menos coisa, da viagem, de iPhone na mão, fervorosamente editando fotos, cara e rosto (o seu), nas eternas e típicas poses da displicência aborrecida de quem vive mas não está lá, tudo com os filtros que nos colocam vislumbres de sol quando as nuvem são a realidade de uma vida vazia.
No final, qual gestão honrosa de imagem, uma foto sobrou. Igual a todas que já vimos, mas para ela, orgulhosa, era ideal.
Suponho, neste mundo das gerações milenares ausentes de milênios de experiência, será a ideal para quem a segue, gerida com rigor.)
Regresso
Não entrarei nos monotemas estrangeiros, já que a Trumpização da Humanidade parece um loop da Eurovisão em que Israel vence para Jerusalém ser o berço do novo Salvador (será Sobral?), e centro-me antes no Portugal Socialista de Costa que descobriu a vergonha do seu Salvador de antanho.
Vejamos, uma capa na Ípsilon não é o mesmo que uma capa na Cristina. Sei ser pedante ao ponto de reconhecer os públicos alvo e qual o objectivo de Costa, o Primeiro Ministro número dois de Sócrates o vergonhoso, em surgir modo não político com interesses artísticos e intelectuais numa revista dedicada à cultura.
Claramente faz gestão de imagem e, sobretudo, de danos, pessoais e de um Governo Socialista de má memória.
Mas regresso à farpa provocatória que o Vasco não gostou e achou imprudente da minha parte, como se o indivíduo se confundisse com o todo.
O que digo, e cito negando uma réplica do Vasco a mim, não “significa que a crise de ética se estende do governo a quem faz o suplemento.” Pelo contrário. Estou para crer que ninguém comprou nada no estrito sentido monetário, sendo que aquilo que o jornal Público fez foi aproveitar um Primeiro Ministro necessitado em melhorar sondagens reforçando a opinião de focus groups e entregá-lo em quem não terá vergonha de, políticas à parte, revelar quem se esconde atrás das lentes rosas para o mínimo denominador comum.
É que cultura não é (necessariamente) política, mas a política actual é uma cultura a merecer exímio escrutínio com boas capas (não publicitárias) pelo conteúdo pertinente que contêm.
E isso imagino eu.